sexta-feira, 4 de novembro de 2022

A flor que rasga o asfalto

Engatinhar, andar ereto, usar uma das muitas bengala.

Faz parte das diversas etapas da vida,

Que se pode chamar de amadurecer

Ou, apenas, de envelhecimento.

É o tempo que passa:

Às vezes, da forma mais difícil,

Intui e tentei compreender

O outro e as suas circunstâncias.

Muitas vezes, pensando em ser “senhor”,

Tornei-me, apenas, escravo da arrogância.

 

A arrogância que se destila sobre a Natureza que agoniza

Enquanto sorvemos doses de vaidades:

- Na árvore ferida, que ainda geme

O seu incompreendido perfume de dor.

- No animal abatido,

Que tem os olhos súplices pelo socorro de quem o feriu.

- No rio em que homens e animais mataram a sede

E agora agoniza no assoreamento e poluição

Que lhe retira o brilho, a graça e a beleza.


 

Meus discursos, muitas vezes,

Não fizeram eco com as minhas práticas.

Convenci-me e tentei convencer

De que tenho as receitas necessárias

Para organizar os “mundos” que, se girarem,

Devem girar em torno a mim...

 

O outro é o depositário dos meus argumentos.

Quero fazer valer:

A prepotência do saber,

A prepotência da força,

A prepotência da cor,

A prepotência do sexo,

A prepotência sobre o diferente...

 

Custei a aprender que

Dialogar é sempre um processo de conversão.

Quando uma semente de sensatez

Rasga o asfalto e produz apenas uma flor.

Talvez não dure,

Possivelmente seja ignorada,

Mas está ali como possibilidade.

 

Preciso reencontrar olhares que não excluam,

Que respeitem, cuidem, acolham.

Para voltar a falar de flores, do tempo,

Das coisas simples que fazem a diferença.

É sempre uma opção:

Dificultar ou não o germinar em que

Vencer o isolamento é também vencer medos,

E dar à luz a possibilidade de florescer novamente...

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