domingo, 13 de novembro de 2022

O marear das lembranças...


Abro uma fresta na porta das minhas memórias.

O tempo mareia as minhas recordações

Que flutuam no embalo das ondas,

Dos sentimentos que insistem em

Jogar na praia os ecos que brincam com

A algazarra de vozes que teimam em voltar do passado.

 

Ao se recolher,

Fazem imergir no silêncio.

Não o silêncio da profundidade

Das águas turvas e revoltas,

Mas das superfícies lisas

Que espelham o céu e o que alcanço do Infinito...

 

Saborear as palavras.

Degustá-las como quem as experimenta,

No prazer de que, ao sorvê-las,

Há algo que não se revela e se mantém no Mistério.

Brincar com as palavras é, também, brincar

Com os silêncios do amanhecer que as ressignificam.

 

Andar pela areia no tempo em que o sol

Costura a alvorada com as cores da eterna primeira manhã.

Quando vozes e palavras são parceiras

Que alimentam memórias e delimitam horizontes,

Em que a palavra sempre está além.

Talvez não a palavra dita,

Mas a que está grávida do silêncio.

Aquela não dita

Que necessita da cumplicidade de quem

Compartilha significados.

 

Leva-se um longo tempo para perceber

Que, muitas vezes, são ecos de rostos

Perdidos nos recônditos das ausências.

O marear das lembranças silencia

Meus lábios e alcança a janela dos meus olhos.

Já não estou em busca de sonhos,

O rumo das águas se

Confunde com as palavras, as vozes, os rostos...

Assim como a lágrima que orvalha o caminho,

Trôpego das minhas certezas,

Certo das perguntas que movem meus passos,

Resgatando segundos que turvam minhas memórias

E são música no compasso da saudade!

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