terça-feira, 1 de novembro de 2022

O sonho de uma sociedade inclusiva

Na semana passada, um grupo de mães de autistas reuniu-se em frente ao Tribunal de Justiça do Estado chamando a atenção para o julgamento sobre a lista de procedimentos da cobertura obrigatória por planos de saúde no Brasil. A definição regula a obrigação em cobrir tratamentos e procedimentos. A mobilização é nacional, já que o julgamento esclarece se tratamentos e remédios devem seguir na lista ou não. Com a perspectiva de impedir atendimentos futuros, bem como interromper aqueles que estão em andamento.

Hoje, a Justiça decide depois que pacientes ou familiares acionam a solicitação de cobertura de procedimentos que não estão na lista. Normalmente, são caros e contínuos, colocando famílias em dificuldades de pagar por um tratamento que propicia o controle, a melhora na qualidade de vida e, em muitos casos, a sobrevivência dos pacientes. Pela lei que instituiu a Política Nacional de Proteção dos Direitos da Pessoa com Transtorno do Espectro Autista (TEA), esta já é uma obrigação constitucional do Estado.


Fiz resumo do texto apresentado em jornais da capital, porque o problema é maior do que esta reivindicação básica. Quem tem familiares ou amigos que cuidam de um especial, seja um autista, um portador da síndrome de down ou qualquer outro fator que o faça diferente, sabe o quanto estas pessoas têm sido incansáveis em batalhar por um lugar ao sol, o seu direito de respirar cidadania. Infelizmente, é peregrinação que se transforma em mendicância, mas que deveria ser o respeito a um direito conquistado.

Como em casos concretos, em especial a educação. Autistas matriculados em escolas particulares ou públicas devem ser acompanhados por monitores especializados. Necessitam de atenção que o professor apenas, em sala de aula, não consegue dar. As escolas particulares tem se desdobrado mas conseguem contratar e oferecer o profissional auxiliar. No caso da escola pública, pais e responsáveis peregrinam de porta em porta sem conseguir, na maior parte das vezes, um atendimento básico e necessário.

Recentemente, acompanhei depoimento de pessoa que falava a respeito do racismo. Fiquei pensando que a distinção de cor é um elemento que não se conseguiu vencer, mas também se torce o nariz para o pobre e o diferente. O preconceito está entranhado na nossa cultura utilitarista, consciente ou não. Não creio que se encontre alguém que, em sã consciência, reconheça, mas é comum ouvir em círculos restritos que “deveria saber o seu lugar”, “foi Deus quem quis assim” ou “é um doentinho, um coitadinho”.

É o sonho de uma sociedade inclusiva, que reivindica o cumprimento da lei. Muitas leis são feitas no ardor de discursos com pretensões político-eleitorais, que não encontram ressonância na prática. Uma injustiça praticada contra o futuro de um ser humano, assim como dos pais que somam ao seu dia a dia uma luta cansativa e inglória. Enquanto a sociedade os segrega, batalham pela consciência de que as crianças que não aprendem da forma convencional precisam, apenas, de carinho para aprender do seu jeito...

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