domingo, 27 de novembro de 2022

Minha doce e louca amiga...

Quem chegava ao memorial da Irmã Dulce, em Salvador, na Bahia, nos últimos dias, encontrava como recepcionista uma velha conhecida da população pelotense: a jornalista Carmem Lopes, que por aqui atuou como repórter de geral, na RBS TV, e, depois, também, na cobertura esportiva, especialmente em futebol, sendo a primeira mulher nesta área. Em seguida, alçou outros voos pelo estado e também em nível nacional. Recentemente, reatamos contato pelas redes sociais e pelo whatsapp.

Como se diria antigamente, nos conhecemos em “priscas eras”. Eu assumia a assessoria de comunicação da Prefeitura de Pelotas, no governo do Bernardo de Souza, e a Carmem iniciava como repórter. Facilmente nos tornamos amigos, pelo respeito que tinha pela profissional que já se vislumbrava. Fazendo cobertura de política, era fácil fazer a troca de figurinhas que, se a beneficiavam, também me davam a ideia do quanto alguns assuntos já haviam se tornado público e qual a sua repercussão.

Aposentada, continua com o espírito perspicaz e não sossega. Qual não foi a surpresa quando postou o primeiro vídeo dizendo que estava a caminho de Salvador. Até aí, nada estranho, muitos vão para a capital do Axé fazer turismo, se deliciando com a acolhida e a culinária baiana. Mas não era este o motivo da viagem. Havia se oferecido para trabalhar como voluntária temporária no memorial da Irmã Dulce. Levou a sua competência, o espírito determinado, vestindo, literalmente, a camiseta da instituição.

Por um período, ficou junto ao complexo hospitalar onde um mutirão de solidariedade atende população carente, de forma gratuita, pelos serviços do Sistema Único de Saúde. Na chegada, contou: “foram 2h15 conversando com pessoas e me surpreendendo. É difícil jornalista se surpreender, mas a estrutura que vi num hospital filantrópico, que se mantém só com doações e verbas do SUS, não vi em nenhum hospital que conheci, até hoje”. De surpresa em surpresa, a gaúcha conhecia uma nova e desafiadora realidade.


Confesso, não sabia deste lado espiritualizado da Carmem e a capacidade de fazer promessa intercedendo por amigos. E não pensem que o trabalho é apenas burocrático. Foi convidada a fazer um tour por onde a irmã Dulce andava, pedindo doações durante o dia e, à noite, recolhia os pobres para alimentá-los. Não é um turismo convencional, mas a oportunidade de conhecer o outro lado daquilo que comumente se vê em Salvador e será oferecido àqueles que também sentem a necessidade deste desafio.

A Carmem tem uma “loucura” que só pode ser de Deus. Fotos, vídeos e textos trazem a felicidade que fica além das palavras, com o sentimento de paz e tranquilidade que seu rosto estampa. É mais do que coragem, é arrojo, determinação, sentimento de cumplicidade com quem se beneficiou da sua promessa e a instituição que a acolheu. Não creio que as Obras Sociais da Irmã Dulce já tivessem visto outra “carmem”, assim. Nós já. Mas a gente reparte. Juntando gaúcho com baiano, tá aí uma boa “baiúcha”!

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