sexta-feira, 18 de novembro de 2022

A fronteira com a Eternidade

Hoje, eu pinto teus traços apenas nas telas das minhas memórias.

Foram muitos os momentos marcantes

Em que me deste o privilégio de conviver.

Teu derradeiro instante foi o coroamento de

Uma cumplicidade que me ensinaste a valorizar.

Quando te despedias, por um instante,

Quedei-me na intensidade do teu balbucio.

 


As mãos repousando sobre teu colo

Bastavam para contar a história

Que havia marcado teu corpo.

Na proximidade do fim,

O tempo escorria por teu rosto,

Em sinais e sulcos que faziam tua pele

Semelhante aos traços que desenharam teu destino.

 

Embora ainda estivesse no foco dos teus olhos,

O embaçado da despedida fizeram-nos

Perdido em algum lugar do passado

Em que revolvias as camadas do tempo

Revelando eras e misturando lembranças.

 

Que mistério se esconde naquilo

Que foge à compreensão humana?

O que ainda havia por aprender

Quando teu silêncio já não precisava das palavras,

Teus olhos gastaram o instante que ainda te restava

Como um último carinho,

Uma despedida da vida, da dor, do cansaço...

 

Em meus braços,

Não sei se tiveste tempo de reviver teu passado.

Mas, enquanto partias, eu me apegava

A cada instante em que murmurei o teu nome,

Senti tua falta, descobri a intensidade da palavra amor.

 

Levei um longo tempo para entender,

Mas o fardo com que meus amores foram

Se acumulando em meu coração

Deixaram os momentos que ainda me restam

Com a questão que somente consegui intuir:

Afinal, que mistério se oculta nas dobras

Em que o tempo faz fronteira com a Eternidade?

 

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