sexta-feira, 11 de outubro de 2024

Uma janela aberta para o passado

Não tenhas medo de descerrar

As janelas da memória.

É a possibilidade de revisitar o passado.

Muitas vezes, pode estar adormecido,

Mas jamais esquecido.

As brumas que toldam a visão 

Abrem uma brecha que

Permite uma nesga de luz 

Sobre o caminho das muitas saudades.


Revisitar outros tempos

Acarinha a própria alma.

As memórias que surgem diante de cada um, 

Mesmo que não se possa ali permanecer,

Faz o corpo libertar o coração, 

Peregrine por lugares por onde andaste,

Desejando debruçar-se 

Sobre o peitoral da janela e contemplar 

A rua onde transita a história de cada um.


Atenta o olhar e todos os teus sentimentos.

Sentirás o desabrochar das flores, na primavera;

Teus olhos embaçados revendo

As brincadeiras de crianças na rua, no verão;

Acompanhar com tristeza 

As folhas bailando ao sabor da brisa, no outono;

E te recolher ao silêncio 

Ao te arrepiares com o uivo do vento, 

Que fustiga no inverno...


Uma janela aberta para o passado 

Testemunhou tua partida.

Pela porta entreaberta

Ficaram as possibilidades e os anseios.

Ali, cravejadas no marco de madeira,

Ficaram marcadas as muitas andanças.

Assim como todas as vezes em que 

O regresso ficou para depois.


De algum lugar, com o signo da saudade,

O desejo de sentar naquele mesmo degrau

E contemplar o que, então, eram apenas expectativas.

Ainda procuro pela casa algum resquício 

Imaginando ouvir a tua voz;

Quando chegavas em casa, saber que eram

Teus passos cadenciados na escada;

Nas rodas, com amigos ou a família, 

A sonoridade do riso ecoando ao longe.


Já não importa para onde se abrem as janelas...  

Desgastadas, rangem quando aparece uma fresta.

O tempo… brincando. 

O que se viveu escorre pelos dedos

Com a lágrima que sela a finitude 

E o nó que fica trancado na garganta!


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