Quantos anos tinha quando trocaram
Meus tamanquinhos pelos chinelos de dedo?
Eram tenros anos
Em que o sapatinho de ir à escola,
No final da manhã,
Ao retornar à casa,
Era trocado pelo calçado caseiro,
Que esperava na porta da cozinha.
Um ritual de saudades,
Impregnado de memórias
Onde imperava a simplicidade.
Nunca me pareceram desajeitados
Para o que fosse necessário,
Nas atividades de estudar ou ajudar na casa
Ou brincando pelo que era o início da minha rua,
Ainda rodeada de matos,
Pequenos sítios e campinhos,
Predominando maricás e gravatás.
Talvez, por desconhecimento de outros calçados,
Sempre pareceram cômodos,
Marcando os passos no piso de madeira.
A plataforma recoberta por uma tira de couro
Fazia o tic-tac que, se para uns irritava,
Para nós soava como música.
Os pés sem meias no verão
Eram protegidos e aconchegados no inverno.
Andando na poeira das ruas
Ou no barro das estradas,
Não importava.
Eram os rumos dos sonhos.
Tudo era possibilidade,
No aconchego e segurança de uma família.
Andávamos nas nuvens,
Na pobreza de quem pensava que tinha
Uma fortuna nos pés.
A impressão é de que se
Perdeu alguma coisa pelo caminho.
Um mundo de possibilidades
Não significa um mundo de felicidades.
A simplicidade das roupas repetidas
E dos calçados que precisavam durar
Guardavam a doçura de uma vida plena:
Sem precisar saber, se vivia em
Um universo de afetos em que
A razão do amor era o próprio amor,
E os sonhos cabiam perfeitamente
Num par de tamancos…
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