domingo, 20 de outubro de 2024

Antes que o sol se ponha

Se puderes, 

Volta antes que o sol se ponha. 

Vou estar sentado na areia,

Como nas muitas vezes

Em que acalentei tuas lembranças.

Se notares que estou

Perdido em pensamentos,

Aconchega-te ao meu lado,

Me envolve no teu abraço 

E debruça tua cabeça em meu ombro.


A espera do que sempre 

Foi sedução no entardecer. 

No instante em que 

O sol faz a derradeira curva nos céus.

Mesmo que não digas nada,

Ainda ouço o murmúrio da tua voz.

Misturando-se com 

A delicadeza das ondas, 

Que rastejam aos nossos pés, 

Sussurrando juras e beijando a areia.


Somos testemunhas

Dos derradeiros raios que agonizam,

Esmaecendo o horizonte,

Num misto de melancolia e admiração.

No silêncio aspergido pelo derradeiro

Grasnar das gaivotas 

Que mergulham em busca da vida. 


Ao longo da praia, 

Fiéis seguidores reverenciam

O ritual que se repete todos os dias.

E, mesmo assim, faz-se novo,

Na dança das luzes, das cores

E no contraste com o breu da noite,

Que emoldura o cenário.

Sentirás, como em prece,

O murmúrio do vento,

Harmonizando as mentes e 

Energizando o Universo.


Quando a noite definha 

A última linha entre o céu e o mar,

Vence o tempo da espera:

Um novo entardecer é possível. 

A vida, cumprindo ciclos:

Amena, na claridade do dia,

Sentida e dolorida, 

Ao ser saudade e melancolia,

Na calada da noite…


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