A crônica de uma tarde de domingo é um texto de espera. A maior parte das coisas está feita – compras, assados preparados, convites, visitas, quem sabe telefonemas à noitinha? - Aguardar quem chega e o momento de cumprimentar, especialmente as pessoas mais próximas. De fato, Natal tem gosto de intimidade. A gente não deveria se sentir com obrigações sociais, mas o sentimento de carinho que pisca nas luzes de uma árvore, sem importar seu tamanho, com a perspectiva de abraços, sorrisos e presentes.
Não sou muito bom para estas coisas. Nunca me julguei alguém de paciência. Sou de rotinas, portanto, não me agradam refeições tardias ou ajuntamento de pessoas com as quais não convivo. Sempre dei como desculpa o cuidado dos meus pais e liberar os demais familiares para que pudessem fazer aquilo que gostam. Porém, é uma festa que, embora lembranças possam ser difíceis, pelas ausências, o que importa são as novas gerações que precisam experimentar algo semelhante ao que se viveu em outros tempos.
O mais adequado aos mais velhos, que ainda convivem em família, é “fazer o
Natal” como atividade que ultrapassa gostos para se transformar no resultado de
uma vida. Lembrar o menino Jesus é pensar em tudo o que se aprendeu sobre cuidar
de quem nos foi confiado. Isto não se dá em teorias. Como contei, minha escola
foi a necessidade de despir-me de preconceitos e atender dois idosos no básico
- higiene, cuidados médicos, alimentação – perdendo manias e superando tabus
com o próprio corpo.
Quando pensei que, enfim, “sabia tudo”, necessitei rever conceitos com a
presença em minha vida de um autista, o Miguel, sobrinho neto. No início,
desconfiado comigo, precisei de um bom tempo para entender o que podia e não
podia fazer. Valeu a pena. Em cima da minha mesa de trabalho tem um jacaré. A
parte debaixo de uma estande de livros foi transformada em garagem. Andou por
aqui um dinossauro e uma bola/bicho que não sei o nome. Sem falar de enfeites
de Natal que perambulam pela casa.
Da rejeição quase total à aproximação, foi um longo percurso por coisas
simples como ajuda a levar e buscar na escola. Ou quando acompanha ao buscar comida
e dou a mão para que faça suas aventuras por muros baixos, pular beiras de
calçadas ou buracos de bueiros. O Pequeno Príncipe falaria em “cativar”.
Verdade: é uma aproximação e não se pode ter medo do tempo gasto e das vezes
que se erra em busca de zelar por alguém. Até quando se cai, se pode ficar um
pouco mais no chão para poder levantar juntos...
Tem pessoas na família ou nas relações de amizade que fazem valer a pena pensar
e viver o Natal. O motivo não é algo dado, mas como entram e se fazem
necessárias nas nossas histórias. Algumas partem deixando o gosto e o perfume
das lembranças de bons e maus momentos. As que nos acompanham dão a
oportunidade de ressignificar a vida todos os dias. Afinal, é uma questão de
coração: é uma noite que está grávida da vida, esperando o Sol para nascer,
oferecendo a oportunidade de se fazer o Natal ser mais do que uma festa. Momento
de recuperar a esperança e renovar a ternura!
Deus te abençoe! Deus nos abençoe!
Que o Espírito do Natal continue vivo no olhar de quem amas...
E no teu
coração!
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