As crianças iriam se reencontrar. João era magro e já começava a se
espichar. Seguidamente perguntava pela tia Maria e pelo primo Jesus, que
moravam em Nazaré. Não tinha muito como explicar que a relação era somente em
segundo grau. Desde que começara a combinar com Zacarias que fariam a viagem,
indo ao encontro da prima, o garoto ficara muito faceiro, perguntando quanto
tempo faltava, o que levariam e se o pai iria junto. Não, não iria, estava a
serviço do Templo e não havia como se ausentar.
Isabel mandara um recado por viajantes e sabia que José não estaria em
casa. Viajava com uma caravana que iria fazer compras no Líbano. Era ali que
buscava madeiras para o seu trabalho de carpinteiro. Era exigente com o material
com o qual fazia móveis para as casas, mas também as estruturas que suportavam
telhados ou aberturas. Nos últimos dias, gastara muito do seu tempo tentando
deixar uma lembrança: um presente para João, uma pombinha esculpida em madeira,
com o nome do menino gravado na base.
Do que vivera, não esquecia, três anos atrás, o momento em que Maria a
abraçara, ao saber do nascimento das crianças. Uma onda de felicidade percorreu
seu corpo, com João se agitando mais do que o normal. Tão forte que, ainda
hoje, guardava as palavras que a prima dissera. Pedia a Javé que protegesse seu
filho e cuidasse do menino Jesus, que, em seguida, encontraria. Zacarias
enviara uma toalha de oração judaica e um quipá, pois já estava chegando à idade
em que os pais iriam iniciá-lo na educação da Torá.
Quando Isabel apontou a casa dos parentes, João saiu em desabalada
carreira, quase perdendo o fôlego e gritando pela tia e por Jesus. A porta
estava com uma parte aberta e, em seguida, a figura conhecida da prima saiu e
abraçou o menino no colo. De longe, pode ver um garotinho que se escondia na
quina da casa. Já grandinho, mais gordinho, cabelinho rebelde e jeito de quem
não estava entendendo o que acontecia. Maria o chamou e, enquanto as primas se
cumprimentavam, ficou escondido atrás da mãe.
Se soltaram aos poucos.
No final da tarde, tudo era algazarra. Meio bêbados de sono comeram sopa, na
entrada da noite. Depois de jantarem, era hora de colocá-los na cama. Quando,
enfim, adormeceram, restou contemplar seus rostinho e o jeito de sorrir que
mostrava já estarem entrando no mundo dos sonhos. Três aninhos, ainda haveriam
muitos aniversários pela frente. A última pergunta: “Tia Isabel, a gente pode
brincar mais amanhã?” Claro que sim. Era o início do Natal, o começo da grande
festa da vida!
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