terça-feira, 19 de dezembro de 2023

Natal, a grande festa da vida!

Agora já estavam bem mais próximos. Não podia reclamar, a viagem havia sido muito boa. Isabel conduzia o animal de carga que trazia suas bagagens e os presentes. Vinha a pé, com João, que corria de um lado para o outro da estrada perseguindo pequenos animais ou espantando algum passarinho que estivesse pousado nos arbustos mais baixos. Fazia três anos desde que Maria fora visitá-la, grávida de Jesus, para sua felicidade e do menino que ainda estava em seu seio. Ficaram juntas um bom tempo.

As crianças iriam se reencontrar. João era magro e já começava a se espichar. Seguidamente perguntava pela tia Maria e pelo primo Jesus, que moravam em Nazaré. Não tinha muito como explicar que a relação era somente em segundo grau. Desde que começara a combinar com Zacarias que fariam a viagem, indo ao encontro da prima, o garoto ficara muito faceiro, perguntando quanto tempo faltava, o que levariam e se o pai iria junto. Não, não iria, estava a serviço do Templo e não havia como se ausentar.

Isabel mandara um recado por viajantes e sabia que José não estaria em casa. Viajava com uma caravana que iria fazer compras no Líbano. Era ali que buscava madeiras para o seu trabalho de carpinteiro. Era exigente com o material com o qual fazia móveis para as casas, mas também as estruturas que suportavam telhados ou aberturas. Nos últimos dias, gastara muito do seu tempo tentando deixar uma lembrança: um presente para João, uma pombinha esculpida em madeira, com o nome do menino gravado na base.

Do que vivera, não esquecia, três anos atrás, o momento em que Maria a abraçara, ao saber do nascimento das crianças. Uma onda de felicidade percorreu seu corpo, com João se agitando mais do que o normal. Tão forte que, ainda hoje, guardava as palavras que a prima dissera. Pedia a Javé que protegesse seu filho e cuidasse do menino Jesus, que, em seguida, encontraria. Zacarias enviara uma toalha de oração judaica e um quipá, pois já estava chegando à idade em que os pais iriam iniciá-lo na educação da Torá.

Quando Isabel apontou a casa dos parentes, João saiu em desabalada carreira, quase perdendo o fôlego e gritando pela tia e por Jesus. A porta estava com uma parte aberta e, em seguida, a figura conhecida da prima saiu e abraçou o menino no colo. De longe, pode ver um garotinho que se escondia na quina da casa. Já grandinho, mais gordinho, cabelinho rebelde e jeito de quem não estava entendendo o que acontecia. Maria o chamou e, enquanto as primas se cumprimentavam, ficou escondido atrás da mãe.

Se soltaram aos poucos. No final da tarde, tudo era algazarra. Meio bêbados de sono comeram sopa, na entrada da noite. Depois de jantarem, era hora de colocá-los na cama. Quando, enfim, adormeceram, restou contemplar seus rostinho e o jeito de sorrir que mostrava já estarem entrando no mundo dos sonhos. Três aninhos, ainda haveriam muitos aniversários pela frente. A última pergunta: “Tia Isabel, a gente pode brincar mais amanhã?” Claro que sim. Era o início do Natal, o começo da grande festa da vida!

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