Ao abrirem os portões, monges e aprendizes se surpreenderam com o visitante. Usava o que, passado algum tempo, souberam ser uma batina. Era um padre. Viera depois que cristãos se instalaram na Vila. Não eram muitos, mas se faziam presentes em toda as atividades da comunidade. O que agora visitava o Mosteiro era jovem. Soubera do trabalho dos monges com crianças órfãs ou abandonadas. Conversou um longo tempo com o Mestre, enquanto os demais acompanhavam pela janela ou pela porta.
Disse que o final de ano era uma das maiores festas cristãs, o Natal, comemorando o nascimento de Jesus, filho de Deus, e de uma mulher, Maria. Pediu permissão para que, no dia de descanso, os meninos pudessem ir até a paroquia. Fariam jogos, brincadeiras, músicas, com alguma comida, para receber os pequenos da Vila e esperavam contar com as crianças do Mosteiro. O Mestre não via nenhum problema. Seriam acompanhados por um monge mais novo. Estava curioso pela reação dos aprendizes...
Foi uma algazarra quando voltaram, trazendo saquinhos de guloseimas,
alguns com marcas de doces pelos rostos, cabelos e roupas. Na hora do jantar,
por incrível que pareça, ainda sem fome, contaram tudo o que havia acontecido.
Encabulados, em princípio, logo se enturmaram com os demais, facilitados pelo
Padre e por senhoras que se diziam “Irmãs”. O parque da Igreja Cristã, na beira
do rio, se propiciou para que pudessem praticar muitas atividades e se
encantarem com o que ouviram.
O Padre dissera que, dali há alguns dias, Seria o Natal e convidava os monges
para uma bênção, mensagens e cânticos na praça da localidade. No final de uma tarde
fria, os religiosos desceram acompanhados de todas as crianças e, pelo caminho,
outros foram se juntando, até que, a impressão, é de que toda a população
queria participar daquele momento. As crianças se reencontraram com as demais
e, em meio à praça, foi colocada uma manjedoura, com figuras representando o
nascimento do menino Jesus.
Com a colaboração dos moradores, montaram um pinheiro enfeitado e,
embaixo, estavam presentes que foram distribuídos. Novamente, a volta para casa
foi uma festa. Bem mais tarde, o Mestre postou-se no portal da sala e ficou
olhando as estrelas e pensando no que o Ser Supremo estava reservando para
aquela relação. Quando o Aprendiz ajoelhou e sentou sobre os pés, preparou-se
para ouvir. “Mestre, de tudo o que ouvi lá, fiquei curioso em perguntar: o Ser
Supremo precisa de uma mãe?”
Precisava ser honesto: “não sei, meu menino. Mas tem sentido, afinal, o Ser
Supremo possivelmente não conseguisse entender a própria criação se não tivesse
uma mãe”. Depois que o menino tomou o caminho do leito, uma estrela despencou
no horizonte. Conhecendo as carências dos seus filhos de coração, resmungou: “se
o Ser Supremo teve um filho, escolheu uma mãe para dar carinho e o Divino, a
sua graça, o ecumenismo, como dizem os cristãos para se aproximar de outras
crenças, será muito bom se os homens puderem se encontrar como filhos do mesmo
Criador!”
Neste Natal, que o carinho de Maria, a mãe, e a graça de Deus, o eterno
Pai, nos abençoe!
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