sexta-feira, 29 de dezembro de 2023

Na ânsia da minha incompletude

Deixei meus dedos

Navegarem pela palma da tua mão.

Sem qualquer pressa,

Fui sentindo os relevos,

Acariciei cada uma das linhas

Que desenharam teu destino.

Estavam ali os sulcos do tempo

Que juntaram a poeira dos anos.

 

Deixaram calos

E machucados que te desnudam,

Compartilhando

Um pouco da tua história.

Não resisti em

Querer protegê-las com as minhas,

Erguer até o meu rosto e cerrar os olho.

 

Em cada toque,

Sentir que repartes comigo

O teu riso e as tuas lágrimas.

A intensidade da pele

Que formiga cumplicidade.

Precisava delas para emergir da apatia.

Tornaram as palavras desnecessárias

Ao serem a bênção que regou a minha face.

 

Eram pincéis que percorriam reentrâncias

Fazendo as tintas harmonizarem

Com meus olhos e meus lábios.

Foram elas que me calaram

Quando teus dedos selaram minha boca

E deixaram meus lábios entreabertos.

Todos os sentidos

Ansiavam por se fazer presentes.

 

Subiram por meu rosto para ajeitar um

Cabelo que, travesso,

Teimava em descer pela testa.

Apenas a lembrança

É motivo de um sorriso sonhador. 

Eras a ânsia da minha incompletude.

Será pecado a simples recordação

De que fostes a mais pura expressão do Divino?

 

Com o tempo,

Mesmo a aspereza da tua pele

Exalava carinho.

Tornava presente cada filamento

De um sonho bom,

Do qual não queria mais acordar.

Eras meu Natal e meu ano bom,

O que mantinha meu coração em festa!

 

Fiz todas as viradas, os reencontros,

Voltei das vezes em que mergulhei na saudade.

Na concha das tuas mãos

Abrigaram-se meus sonhos,

Liberaram-se meus medos,

Alavancaram meus voos

Na esperança de que um dia

Me recebas no retorno ao teu abrigo!

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