Vês um mendigo na rua?
Talvez o encontres na sinaleira,
Quem sabe
Passe por ti no caminho de todos os
dias.
Não importa
Se é criança, jovem, adulto ou
idoso.
Com certeza, já entorpeceu os
sentidos.
No início,
Tem vergonha de falar, tocar ou
olhar.
Alguém que, acreditas,
Deixou a "tua condição
social".
Enxergas nele um caminho de
tristezas,
Também a agonia das tuas
possibilidades.
Ficas pensativo e deprimido,
Mas a criança que ainda mora em ti
Quer conversar, chamar para perto,
Fazer com que levante os olhos.
Entender suas carências,
Descobrir um mundo
Que se diferencia do teu dia a dia.
Encontrar o pobre é
Uma luta para ultrapassar
fronteiras,
Ganhar atenção
E fazer com que tenha forças
Para emergir da apatia.
Tens a impressão de que sua alma
Está oculta num lugar onde
O Sol já não alcança.
Mendigar não é apenas ato de pedir,
Mendigar é despir-se do próprio orgulho.
Quem precisou rogar pelo
Pão para sobreviver por um dia,
Abriu mão de sonhos,
Escondeu-se no anonimato,
Peitou a barreira que impede as
realizações.
Quem vê glamour no apagamento
social,
Fecha portas, lacra janelas,
sepulta esperanças...
Quando murmura
E pede um pedaço de pão,
Reages como quem quer se livrar de
um fardo.
Estendes a mão com o alimento ou moedas.
Por um processo de conversão, um
dia,
Vais desejar oferecer ainda
Um minuto do teu tempo,
Fazer com que te encare de igual
para igual,
Deixe de mirar o chão e consiga
Desvendar um rumo para além dos
teus ombros.
A mão estendida por trás de todas
as barreiras,
Te possibilita a oportunidade do
resgate,
Quem sabe em um abraço,
Em que enxergue o horizonte da
Vida...
Não usa a dor alheia
Para justificar os teus acertos e os
teus erros.
As carências existenciais antecedem
As carências físicas.
É um pouco de comida convertido
Em um pouco de respeito pelo outro.
Pelo alimento, pelo carinho ou pela
atenção,
Somos, sim, eternos mendigos.
Para chegar à rua e pedir um pedaço
de pão,
Significa que, há muito tempo,
Teve negado o básico:
O amor próprio e a própria
dignidade humana...
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