Tentei. Fiz o possível para remover
As pedras que incrustavam a tua
pele.
Com elas pensavas te proteger.
Achavas estranha a carga que outros
carregavam,
Muitas vezes sem terem noção dos
fardos
Que acumularam e que as torturavam.
Foi um peso menor na infância e juventude.
Depois, tornou-se mais
Difícil quando te pensaste sozinho.
Culpaste o tempo pensando ser ele o
teu algoz,
Sem reparar nas mudanças
Que envelheceram teu corpo e também
o teu espírito.
Pedras têm sentido quando melhoram
caminhos,
Ajudam a erguer casas,
Fazem a proteção das cidades.
Mesmo aquelas desgastadas pelo
andante
Ou quando acumulam terra que
primaveram
Em flores, brotando pelas
rachaduras.
Instigam a solidez como candeeiro
Nas dificuldades, apontando para os
sons que
Murmuram ao vento, através das janelas
da memória.
As que retirei de ti estão juntas
às minhas,
Na curva da estrada que
Acompanha a margem do rio,
Onde ainda vamos sentar para um
dedo de prosa.
Ou, apenas, esquecer as vozes
E contemplar a correnteza,
Vendo que as águas
Não se importam em driblá-las.
Recordando das muitas
Que estiveram no seu leito
E não entendem porque não estão
mais
No lugar onde a Natureza as
colocou.
Para atormentar alguém,
Acumulam-se crostas de mágoas,
De angústias mal resolvidas,
Dos desgostos que se calcificam
Em evocações que sublimam
O que ficou de lembranças e
sentimentos.
Os desenhos em tua pele são reminiscências
Das pedras que, depois de
retiradas, deixam marcas,
Contando um pouco da tua história.
Não há como, simplesmente,
esquecer.
O que acumula em nossos corpos não
pode,
Pura e simplesmente, ser removido.
O rio as esconde nas profundidades
e cuida delas,
Sussurrando consolos
Em seus gemidos e estertores.
Sabe que as águas não retornam,
Ficando o desejo do afago do
passante
Que pensa entender seu passado.
Não se vive impunemente.
Nestas mesmas águas, tua imagem
Refletida te dão a dimensão
De entregas e sacrifícios.
Quando mãos que fazem renascer
A tua energia percorrerem teu corpo,
Desenharão o mapa de todas as tuas
dores.
Sentirás a doçura das lembranças
E o gosto amargo das marcas que
entranharam a saudade...
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