sexta-feira, 10 de novembro de 2023

A doçura e o amargo da saudade...

Tentei. Fiz o possível para remover

As pedras que incrustavam a tua pele.

Com elas pensavas te proteger.

Achavas estranha a carga que outros carregavam,

Muitas vezes sem terem noção dos fardos

Que acumularam e que as torturavam.

 


Foi um peso menor na infância e juventude.

Depois, tornou-se mais

Difícil quando te pensaste sozinho.

Culpaste o tempo pensando ser ele o teu algoz,

Sem reparar nas mudanças

Que envelheceram teu corpo e também o teu espírito.

 

Pedras têm sentido quando melhoram caminhos,

Ajudam a erguer casas,

Fazem a proteção das cidades.

Mesmo aquelas desgastadas pelo andante

Ou quando acumulam terra que primaveram

Em flores, brotando pelas rachaduras.

Instigam a solidez como candeeiro

Nas dificuldades, apontando para os sons que

Murmuram ao vento, através das janelas da memória.

 

As que retirei de ti estão juntas às minhas,

Na curva da estrada que

Acompanha a margem do rio,

Onde ainda vamos sentar para um dedo de prosa.

Ou, apenas, esquecer as vozes

E contemplar a correnteza,

Vendo que as águas

Não se importam em driblá-las.

Recordando das muitas

Que estiveram no seu leito

E não entendem porque não estão mais

No lugar onde a Natureza as colocou.

 

Para atormentar alguém,

Acumulam-se crostas de mágoas,

De angústias mal resolvidas,

Dos desgostos que se calcificam

Em evocações que sublimam

O que ficou de lembranças e sentimentos.

 

Os desenhos em tua pele são reminiscências

Das pedras que, depois de retiradas, deixam marcas,

Contando um pouco da tua história.

Não há como, simplesmente, esquecer.

O que acumula em nossos corpos não pode,

Pura e simplesmente, ser removido.

 

O rio as esconde nas profundidades e cuida delas,

Sussurrando consolos

Em seus gemidos e estertores.

Sabe que as águas não retornam,

Ficando o desejo do afago do passante

Que pensa entender seu passado.

 

Não se vive impunemente.

Nestas mesmas águas, tua imagem

Refletida te dão a dimensão

De entregas e sacrifícios.

Quando mãos que fazem renascer

A tua energia percorrerem teu corpo,

Desenharão o mapa de todas as tuas dores.

Sentirás a doçura das lembranças

E o gosto amargo das marcas que entranharam a saudade...

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