Eram remotos os tempos em que os primeiros grupos de nômades começaram a aparecer. Embora não fossem bem quistos em outras regiões, ali, tanto na vila, quanto com o Mosteiro, sempre tinham mantido boas relações. Faziam as vezes de mascates, pois vinham das cidades litorâneas, onde aportavam os navios estrangeiros. Então, era comum que comercializassem desde material de cozinha, especialmente panelas e tachos, até as peças de tecidos que serviam para a produção de roupas.
No limiar do terreno do Mosteiro - e antes de chegar à vila - havia uma
área desocupada onde pediam licença para instalar suas tendas. O pasto era bom
e a água corrente passava perto, com lugar para deixar as carroças e alimentar
seus animais de carga. O Mestre sempre recebia a Grande Mãe, que era a
matriarca. O grupo já tivera, em outros tempos, mais de 50 pessoas. Hoje,
restavam pouco mais de 20. No entanto, mantinham o mesmo costume de vir se
apresentar e oferecer um presente ao Mosteiro.
Desta vez, percebeu que estavam com dificuldades, pois aparentavam estar mais pobres e com o olhar mais triste. Mesmo assim, mantinham a altivez do que, num passado distante, fora uma tribo de ferreiros que perambulava pelas cidades prestando seus serviços. Chegavam os cinco mais velhos que eram recebidos para um café. Contaram que haviam sido assaltados dias antes. Além dos poucos recursos, haviam levado, inclusive, ferramentas de trabalho, o que dificultava bastante a sua atividade.
Na saída, recebeu um pedido inusitado: se as crianças poderiam vir, em
algum horário, brincar com os aprendizes.
Marcaram para a tarde do dia seguinte. Os da casa prepararam brinquedos
feitos com a orientação do Monge Carpinteiro, orgulhosos de seus carros de boi,
assim como os pequenos animais entalhados na madeira. Foi com surpresa que os
visitantes trouxeram um saco de sabugos de milho. Um início meio tímido, mas,
aos poucos, foram se entrosando e esquecendo possíveis diferenças.
Curioso, o Mestre não resistiu em ficar observando da varanda. O Monge da
Cozinha havia feito biscoitos que distribuiu a cada um dos aprendizes para
comerem em algum horário da brincadeira. Com surpresa reparou que os brinquedos
de madeira foram sendo deixados de lado e os sabugos instigando a imaginação
dos pequenos que construíam cercados, torres, mas também serviam para
representar animais e pessoas. As brincadeiras reproduziam as atividades dos
adultos, mas não havia violência.
Seus pequenos, ao sentirem fome, tiraram o lanche do bolso e, sem pensar
duas vezes, compartilharam com os visitantes. Eram apenas crianças, ainda
livres dos preconceitos dos adultos que fazem as guerras. Não havia distinção,
apenas diversão e convívio. Pensou que se existe uma chance de recuperar a Paz,
deve ser por meio delas. Enquanto por suas mãos marcadas pela terra passarem os
sabugos e o pão, ainda é possível reconhecer que a Paz precisa ser sinônimo de
dignidade para todos os seres, inclusive os seres humanos!
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