Na quinta-feira (22), autoridades dos Estados Unidos confirmaram o que já se sabia: cinco passageiros do submarino que mergulhou a 3,8 mil metros para ver o que sobrou do Titanic sofreram uma “implosão catastrófica”. Uma das maiores e mais caras mobilizações de salvamento em águas profundas. Semana anterior, o Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados informou que cerca de 500 pessoas que saíram da Líbia em direção à Itália morreram em naufrágio no Mar Mediterrâneo.
A
procura pelos turistas do mar encerrou numa extraordinária operação de busca,
com ampla cobertura dos meios de comunicação. No dia seguinte, 23, organismos
internacionais informavam a tragédia de quem buscava novas oportunidades,
liberdade, uma chance para viver melhor. Pode ter sido um dos piores naufrágios
dos últimos anos, numa repetição macabra em que se misturam a indiferença da
sociedade, dos meios de comunicação, interesses econômicos e a fobia por estrangeiros.
O ex-presidente
Barack Obama deu entrevista à rede CNN em que falou a respeito. Seu tema
principal era a desigualdade social e econômica. Usou como exemplo o tratamento
que as autoridades internacionais e os meios de comunicação deram para o barco
com migrantes superlotado que afundou no Mediterrâneo e o submersível Titan,
desaparecido próximo aos destroços do Titanic. Explicou: “de certa forma, é o indicativo
do grau em que as chances de vida das pessoas se tornaram tão díspares”.
O
Mediterrâneo é considerado, hoje, a rota migratória mais mortífera. Todos os
dias, são encontradas embarcações clandestinas, quando não à deriva, num
“comércio” de seres humanos que pagam do próprio bolso em busca de uma terra de
prosperidade. O papa Francisco clamou: “Que este símbolo de tantas tragédias
interpele a consciência de todos e favoreça o crescimento de uma humanidade
mais unida, que abata o muro da indiferença... O Mediterrâneo se tornou o maior
cemitério da Europa!”
O que
aproxima as tragédias? O descaso dos governos dos países e em nível
internacional. No caso do “turismo macabro”, foram feitas denúncias da
precariedade dos equipamentos utilizados, sem que as autoridades americanas
tomassem providências. Por outro lado, no desespero de quem se vê perseguido,
com fome, sem oportunidades em seu país, a indiferença de quem deveria zelar
pelo bem estar dos cidadãos, em sua própria terra, na acolhida estrangeira e
jurisdição internacional.
A
igualdade de perspectivas é anseio longínquo que se persegue até na morte. Turistas
do que sobrou do Titanic pagaram por um prazer que a maior parte da população
não pode se dar. No migrante que se joga ao mar, repete-se o que já se viu com populações
jovens de países pobres ao deixar famílias e amigos. Todos temos entre os nossos
ancestrais um migrante. O desejo de ser cidadão do Mundo, infelizmente, não
passa de um sonho. A realidade é a morte e a rejeição de quem esquece a sua própria
história...
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