Colocar velas nos nichos laterais e preparar dois grandes candelabros que
iluminariam a nave central era um programa especial. O Aprendiz estava literalmente
“pilhado”. Além de ajudar, preparara uma lanterna que esperava soltar com o
Mestre, ao cair da noite. Quando a vizinhança se reuniu, os candelabros foram
acesos e os cordames puxados por dois monges em cada, gradativamente, enquanto
a procissão entrava.
Aos poucos, a luminosidade se espalhou por toda a nave central. O povo
entrava na frente e ia se acomodando no átrio. Os monges vinham na sequência e
ficavam ao redor da Grande Mesa. Os aprendizes fechavam o cortejo dividindo-se
pelos dois lados. O Mestre presidia a cerimônia e conhecia cada um dos rostos
daqueles que moravam na casa e também a sua pequena comunidade. Quando sentiu
falta do Aprendiz...
Seus olhos, automaticamente, procuraram o andar superior onde ficavam os
monges mais velhos que acompanhavam a cerimônia. Num cantinho, com o rostinho
em meio às grades, estava aquele que o desacomodava todos os dias, inclusive
fazendo com que não mais fechasse a porta da sua sala, pois não havia
privacidade que resistisse ao menino.
Os cânticos e o incenso, além das preces feitas em linguagem antiga, que
somente os iniciados conheciam, tomavam o ritmo da dolência. Para alguns, a
concentração; para outros, como o Aprendiz, motivo de sonolência... No momento
em que o Sacerdote do Templo proferia uma prece, o Mestre ergueu os olhos e viu
que o menino já se embalava, fechando os olhos. Dormiria em seguida...
Para o Aprendiz, aquele momento era bonito, embora não o compreendesse bem.
Sabia que precisava ficar acordado se quisesse soltar sua lanterna e fazer seu
pedido. Mas iria se encostar somente por um instante... Quando terminassem,
estaria pronto para pedir ao Mestre que o ajudasse a formular a prece e liberasse
a lanterna. Resvalou lentamente para o sono. Quando todos saíram para o pátio,
ao fim da cerimônia, o Mestre percorreu o templo e foi encontrar o aprendiz
encolhidinho, dormindo, prendendo a lanterna contra o peito.
Devagar, tomou-o no colo. Tão levinho que parecia erguer uma pena. Havia
um sorriso em seus lábios e não soltava a luminária. Na escadaria, começavam a
erguer as lanternas, que tomavam o rumo do firmamento. Era um momento mágico em
que casais ou famílias juntavam as mãos para a última prece e fazerem um pedido
que ficaria guardado nos seus corações. Enquanto as oferendas subiam aos céus,
ficavam parados vendo as chamas que, aos poucos, iam se confundindo com as
estrelas.
Outra vez, o jovem aprendiz não veria as lanternas se erguerem - e
reclamaria, certamente! Pousou-o sobre o ombro e postou as mãos em prece,
pedindo ao Ser Supremo pelo Mosteiro, os monges, aprendizes, familiares e,
especialmente, por aquela “gentinha” que carregava nos braços e era como as
lanternas que subiam ao Infinito: também tinha uma razão para estar ali. Será
que um dia também voaria para longe, como as lanternas que carregavam tantos
sonhos?
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