domingo, 25 de junho de 2023

Os mistérios que moram nas sombras...

A proposta da produção de “Holo, meu amor” é simples, como são praticamente todas as séries coreanas no estilo “dorama” ou “k-drama”. Mulher solitária encontra um amor inesperado ao estabelecer contato com um holograma em forma humana, que tem a aparência do seu criador. Para quem não está familiarizado, a holografia utiliza técnicas de interferência da luz criando a ilusão de objetos tridimensionais (altura, comprimento e largura). Muitas destas experiências já foram mostradas em eventos científicos.

Mas, no presente caso, motiva um romance temperado com bom humor, quando se percebe que, ao longo de cada capítulo, foi-se, com alguma facilidade, das lágrimas aos sorrisos por excesso de fofura... O criador do holograma, meio brutamontes, se apaixona pela solteira desamparada. É o protótipo que realiza, sem corpo físico, o desejo de muitos solitários. Para quem pensou que seus problemas estão resolvidos, sinto dizer que é, por enquanto, apenas uma especulação no mundo da ficção científica...


Brincadeiras à parte, um detalhe chamou a atenção na abertura da série: a utilização de figuras animadas feitas com sombras das mãos. Voltaram-me lembranças de tempos idos em que meus pais utilizavam as sombras projetadas de um lampião na parede para dar formas à imaginação. Normalmente, nesta época de Inverno, nos recolhíamos cedo e, na cama, era o palco ideal para que a criatividade se manifestasse e aprendêssemos a dar vida a cachorros, coelhos, gatos, cavalos, pássaros e o que mais nos divertisse.

Depois vieram as lanternas à pilha e as imagens foram se tornando mais definidas, com maior nitidez, possibilitando novas formas e a interatividade, num autêntico teatro de sombras. Meus pais não sabiam, aprenderam de seus pais e seus irmãos, mas não se estava fazendo nada de novo, já que a arte das sombras faz parte das culturas primitivas, surgida no sudeste da Ásia, com significados mágicos e religiosos. Tradição dos povos asiáticos, que a cultivam nos espaços familiares e também de interação social.

O aparecimento em novelinha coreana resgata forma de interação que julgava perdida. Em noites frias, as cobertas e lençóis muitas vezes serviam para se armar as “barracas” em que, já com as lanternas, podíamos brincar e tornar presentes as sombras que antepassados mais remotos utilizaram para o convívio social e místico. Os tempos mais recentes descontinuaram tradições que a sociedade manteve por longo tempo, como é o caso das brincadeiras infantis e os chamados jogos de salão, para os adultos.

É preciso ter sensibilidade para ir ao arquivo das memórias em busca do que transcende a pura diversão. São muitas as coisas que podem – e devem – ser resgatadas não apenas pelo lúdico, mas por seu significado para boa parte da população. Acho que já estou enferrujado. Tentei algumas imagens básicas com lâmpada de cabeceira. O máximo que consegui foram imagens distorcidas. Não vou desistir. Vou recorrer às crianças da família. Afinal, dizem, que são as privilegiadas para entender estes profundos mistérios...

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