A proposta da produção de “Holo, meu amor” é simples, como são praticamente todas as séries coreanas no estilo “dorama” ou “k-drama”. Mulher solitária encontra um amor inesperado ao estabelecer contato com um holograma em forma humana, que tem a aparência do seu criador. Para quem não está familiarizado, a holografia utiliza técnicas de interferência da luz criando a ilusão de objetos tridimensionais (altura, comprimento e largura). Muitas destas experiências já foram mostradas em eventos científicos.
Mas, no presente caso, motiva um romance temperado
com bom humor, quando se percebe que, ao longo de cada capítulo, foi-se, com
alguma facilidade, das lágrimas aos sorrisos por excesso de fofura... O criador
do holograma, meio brutamontes, se apaixona pela solteira desamparada. É o
protótipo que realiza, sem corpo físico, o desejo de muitos solitários. Para
quem pensou que seus problemas estão resolvidos, sinto dizer que é, por
enquanto, apenas uma especulação no mundo da ficção científica...
Brincadeiras à parte, um detalhe chamou a atenção na abertura da série: a utilização de figuras animadas feitas com sombras das mãos. Voltaram-me lembranças de tempos idos em que meus pais utilizavam as sombras projetadas de um lampião na parede para dar formas à imaginação. Normalmente, nesta época de Inverno, nos recolhíamos cedo e, na cama, era o palco ideal para que a criatividade se manifestasse e aprendêssemos a dar vida a cachorros, coelhos, gatos, cavalos, pássaros e o que mais nos divertisse.
Depois vieram as lanternas à pilha e as imagens
foram se tornando mais definidas, com maior nitidez, possibilitando novas
formas e a interatividade, num autêntico teatro de sombras. Meus pais não
sabiam, aprenderam de seus pais e seus irmãos, mas não se estava fazendo nada
de novo, já que a arte das sombras faz parte das culturas primitivas, surgida
no sudeste da Ásia, com significados mágicos e religiosos. Tradição dos povos
asiáticos, que a cultivam nos espaços familiares e também de interação social.
O aparecimento em novelinha coreana resgata forma de
interação que julgava perdida. Em noites frias, as cobertas e lençóis muitas vezes
serviam para se armar as “barracas” em que, já com as lanternas, podíamos
brincar e tornar presentes as sombras que antepassados mais remotos utilizaram
para o convívio social e místico. Os tempos mais recentes descontinuaram
tradições que a sociedade manteve por longo tempo, como é o caso das
brincadeiras infantis e os chamados jogos de salão, para os adultos.
É preciso ter sensibilidade para ir ao arquivo das
memórias em busca do que transcende a pura diversão. São muitas as coisas que podem
– e devem – ser resgatadas não apenas pelo lúdico, mas por seu significado para
boa parte da população. Acho que já estou enferrujado. Tentei algumas imagens
básicas com lâmpada de cabeceira. O máximo que consegui foram imagens
distorcidas. Não vou desistir. Vou recorrer às crianças da família. Afinal,
dizem, que são as privilegiadas para entender estes profundos mistérios...
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