O auditório não estava cheio. Embora a mudança, com a inclusão do público masculino, as “minhas colegas de trabalho” não respondem com a mesma animação às tentativas da apresentadora Patrícia Abravanel de preencher os vazios deixados por seu pai, Silvio Santos, 92 anos. Era exatamente ele que faltava, na homenagem que ganhou do Sistema Brasileiro de Televisão, o SBT, no domingo passado, num programa que já dura 60 anos. Tentou resgatar um pouco da história do camelô que virou o apresentador.
Quem teve a sua infância e
adolescência nas décadas de 60 e 70, com certeza, muitas vezes esteve sentado à
frente da televisão para assistir ao programa que iniciava com o refrão “Sílvio
Santos vem aí!” Na época, começava às 11 horas e percorria a tarde de domingo
até as 22 horas. Tinha diversão para todos os gostos, desde o show de calouros,
a portas da esperança; boa noite, cinderela; qual é a música, namoro na tv, arrisca
tudo; ela disse, ele disse; quem sabe mais, o homem ou a mulher?
Músicas que grudavam na memória: quem
não lembra de “ritmo de festa”, “sorria”, “hoje é domingo, é alegria, vamos
sorrir e cantar”! Apresentado em grandes auditórios que tinha a marcação de
excursões de todo o Brasil. As “colegas de trabalho” faziam sacrifícios para
estar perto do ídolo, ao menos uma vez na vida, respondendo à claque de apoio, uma
espécie de torcida ensaiada com antecedência e avisada por cartazes quando da
sua participação: batendo palmas, vaiando ou gritando palavras de ordem...
Não existiam muitos aparelhos de
televisão. O remédio era recorrer ao “televizinho”. Onde também se assistiam as
novelas. Depois, a tv se transformou em rainha da sala e, aos domingos, era
ligada pela manhã e somente desligada quando o Silvio Santos dava o seu
boa-noite. Era comum que se servisse um prato, ao meio-dia, e se fosse em busca
de um lugar no sofá para não perder nenhum dos quadros. Até ficando incomodado
quando chegava uma visita e os pais faziam questão de desligar a televisão.
Já no Seminário Diocesano, também se
tinha autorização para assistir, especialmente à noite, depois da janta. Ainda
sem a concorrência do Fantástico, o quadro mais aguardado era o “Boa noite,
Cinderela!” Nele, uma criança pobre era selecionada dentre três e contava o
sonho que gostaria de realizar. Recebia um manto, era conduzida para o trono e
um “príncipe” (o mais famoso foi o cantor Ronnie Von) aparecia
trazendo uma coroa e o sapatinho de cristal. Nem é necessário dizer o quanto
era emocionante!
Nossas tardes de domingo... A história da televisão
brasileira se confunde com a história do empresário, político, banqueiro,
apresentador, que conquistou espaço, por negócios ou no coração de grande parte
da população mais simples. Pragmático, defendia: “Queres ter paz, sucesso e ser
feliz? Não fale da tua vida a ninguém. O que ninguém sabe, ninguém estraga.” Pois
é, Sílvio, teu legado é assim: amado por uns, odiado por outros, mas com a
certeza de que deixas tua marca consolidada na cultura popular brasileira.
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