terça-feira, 18 de abril de 2023

Semblantes delineados pela dor e pela saudade...

A professora Anita Bezerra postou um texto emocionado e emocionante, depois de discutir com alunos em sala de aula sobre a tragédia de Suzano (em 2019, parecida com o que aconteceu em Blumenau, recentemente). Deixou os alunos discutirem, até que um perguntou: “professora, quem matou o menino que atirou?” A resposta é a mesma que qualquer um de nós daria: “ele se matou”. E veio o comentário: “quando a minha mãe briga com meu pai eles ficam dias sem se falar e quando eles ficam de bem de novo ela sempre fala: você me mata todas as vezes que para de falar comigo!”

E continuou: “acho que ele matou todos e se matou por que ninguém queria conversar com ele!” Conta que houve silêncio e que teve que ir ao banheiro chorar diante da lição de um menino: “ontem depois de 15 anos dando aula aprendi com o Victor de 10 anos o que é ser humano e que nós matamos uns aos outros dia após dia! Cheguei em casa abracei meu esposo e filhos e voltei a ligar para meu irmão... Temos o poder de causar mal ao outro e não nos damos conta... Ensinem seus filhos a amar, não ensinem o ódio, não ensinem eles a machucar as pessoas! Conversem, conversem e se cuidem!”

Diante de uma nova tragédia, desta vez numa creche em Blumenau (SC), é preciso recuperar velhas e não aprendidas lições. Formadores de opinião não podem cansar de repetir o que estava numa postagem do Facebook, sobre o caso na escola. A pergunta é: “pais, já participaram da reunião quando são chamados? Vocês já olharam o que seus filhos estão assistindo no celular? Acompanham os conteúdos que seus filhos recebem na escola? Conhecem as amizades que seus filhos frequentam? Não é só cobrar dos outros, os filhos são seus e a responsabilidade é (primeiro e especialmente) dos pais.”

Outro card dizia: “antes de compartilhar ameaças às escolar e alarmar, olhe a mochila de seu filho quando sair de casa; as gavetas do seu filho, o celular, o histórico de conversas e pesquisas na internet. É dever da sociedade (Estatuto da Criança e do Adolescente) proteger crianças e adolescentes. Lembre-se: a privacidade dos filhos é limitada.” Confirma que pais e familiares são os primeiros educadores e que a ausência pode ser a omissão que mata. E nem se falou da administração pública – muitas vezes politiqueira – transparecendo um governo que quer punir. O mesmo que se mostra omisso e incompetente para articular políticas públicas de segurança e educação.

A omissão gera a desagregação e o desequilíbrio emocional, surpreendendo quem prefere não ouvir e entender os sinais visíveis no comportamento, especialmente de adolescentes. “Se surpreendem” quando veem os filhos recolhidos pela polícia porque condenaram outros pais à ausência perpétua. Em Blumenau, quatro inocentes foram mortos. Crianças que têm nomes, rostos, risos, dormiram observados por pais que curtiam o momento e projetavam o seu futuro... Na ausência brutal e criminosa, perderam a aparência física e restou semblantes delineados pela dor e pela saudade...

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