domingo, 9 de abril de 2023

Quando se perde a vergonha de amar

Domingo da Ressurreição. Domingo de Páscoa. No imaginário popular, são muitas as confusões. Para os “entendidos” das religiões cristãs, as celebrações da semana que termina são as mais importantes de todo o calendário. Afinal, é a própria razão de ser e o sentido. Embora comercialmente se chame mais atenção para o Natal, qualquer um de nós nasceu. O diferencial do cristianismo é que o Filho de Deus feito homem, Jesus, morreu e ressuscitou. A grande novidade, o grande mistério. A surpresa e o desafio.

Não que seja de fácil compreensão, então, a fé popular encontra formas de explicar que, nem sempre, cabem nas formulações dos teóricos. Embora já não seja a multidão de antigamente, a tradição persiste e leva às igrejas pessoas desejosas de reafirmar sua crença e sua vida. Retomam sempre a busca pelo sentido do dia a dia: a necessidade de forças para não desistir. E como é bom se, em algum lugar que se chama templo, igreja, catedral, capela, ermida, se compartilhe com pessoas que pensam de forma semelhante.

Lendo o texto que postei sexta, deparei-me com a expressão “amadas e amados”, com a qual tratei leitores/ouvintes. Aprendi com a Maria Fani, amiga e ministra com o Lupi, na paróquia da Aparecida, e que passou a me acompanhar a partir da pandemia e do programa Partilhando. Com o tempo, perde-se a vergonha de usar expressões que fazem bem e aproximam. Também a uso para os “garotos e garotas” na década de 70 e 80: o “Em Busca de um Novo Sol”, da paróquia Santa Teresinha, no grupo do whatsapp.

Sempre alguém envia mensagem dizendo que a forma como foi dita é um carinho. O tratamento retorna energizado quando se ouve algo parecido. A força que nos recarrega, todos os dias, em diversos momentos, variados encontros. Recentemente, voltava para casa e passei em frente a um carro. Em seguida, uma buzina e um chamado. Conhecia o rapaz, com quem conversara algumas vezes, que sorriu e brincou: “só parei porque era o senhor!” Foi a minha vez de continuar o caminho sorrindo.

Mas não precisa ser “vítima” direta para fazer parte de uma história típica de morador de vila. Aguardando para servir a comida e atento à fila onde a mãe escutou de uma vizinha que pouco encontrava se estava de namorado novo, pois viu um rapaz saindo de sua casa. O sorriso brejeiro e a confirmação de que sim. Era seu mais novo namorado. O que, na verdade, correspondia ao seu filho, na faixa do 20 anos, que mora com ela. Tenho certeza de que, com variadas versões, ainda vou ouvir novamente esta história...

O sentido da Páscoa está na renovação: olhar as mesmas coisas, com jeito diferente. O papo na fila de espera, a fofoca ao telefone, a risada das vizinhas, a palavra de carinho para quem é próximo, o abraço que isola problemas do Mundo e aquece o coração, o beijo que atravessa os sentidos para chegar até a alma... É a “páscoa” acontecendo todos os dias. A ressurreição humana regenera as células do espírito e se apresenta do jeito que a gente sonhar que ela seja, especialmente, quando se perde a vergonha de amar!

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