terça-feira, 25 de abril de 2023

“Mas tava na Internet”


Ainda há muito o que se falar na questão relativa aos crimes cometidos contra crianças numa creche, em Blumenau (SC). O que se sabe é que formadores de opinião (jornalistas, professores, religiosos, lideranças sociais e comunitárias...) tem se frustrado no seu intento, ao implorar que não se use das redes sociais para alimentar a sensação de insegurança. O que se testemunhou, especialmente na última semana, foi um festival de fake news (notícias falsas), em que se misturou maldade e supostos bem intencionados.

Direções de escolas e professores viram diminuir o número de alunos em aula pelos boatos espalhados e que levaram pais a se preocuparem com a segurança dos filhos. Supostos vídeos de novos atentados, em outras cidades e outros estados, circularam, compartilhados por pessoas desavisadas que não tem como saber se são da atualidade ou apenas resgatados de outras épocas. O pânico se instalou pelo aumento da segurança no entorno dos educandários, assim como a paranoia do aparecimento de suspeitos.

Muito do que se vê se alimenta do que é resultado das fake news: um ambiente de medo e de pavor. A reação das autoridade públicas foi da sensatez ao esdrúxulo. Em muitos casos, correram para anunciar medidas de enfrentamento da violência nas escolas, resgatando propostas relativamente simples, até as cortinas de fumaça, com projetos de marqueteiros. Esquecem que, para isto, são necessárias políticas adequadas e a criação uma cultura pela paz. Está sobrando cara de pau e faltando competência administrativa.

É preciso que a sociedade se conscientize do seu papel e não se deixe arrastar por quem dissemina o caos através do prazer mórbido que sente em confundir as pessoas, como de políticos que desejam surfar na onda do politicamente correto. Somos uma sociedade longe de se poder dizer que é “educada”, no sentido pleno. No conjunto, atingimos um nível de “educação funcional”. É nesta hora que se sente falta dos formadores de opinião e de consciência crítica, em especial das religiões, sindicatos e associações.

Acompanho a Pastoral da Educação da Arquidiocese de Pelotas, capitaneada pela professora Dora Domingues, que faz uma imersão em ambientes escolares discutindo com alunos uma cultura pela paz, em que o enfoque é entender e combater a violência escolar. São três áreas envolvidas: educação, psicologia e segurança pública. Claro, sem descuidar da família, que é o primeiro ambiente de educação. Acreditam que o diálogo é o caminho, resgatando jovens, especialmente da rede pública de ensino.

Já se ouviu: “mas tava na Internet!” O que aparece em redes sociais não é dogma. Como em qualquer meio de comunicação, existem elementos positivos e muitos elementos negativos. Não por culpa das redes, mas de quem as usa, inclusive como “religião” que, confirmando o que penso, não pode e não deve ser discutido. O aprendizado demanda preparo para maximizar ganhos e diminuir as perdas pela ignorância e a possibilidade de que, no anonimato, infelizmente, fale mais alto o que se tem de pior...

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