Eu te vi brincando no suspiro do tempo.
Tuas mãos já não tinham a perfeição
de quando eras jovem.
Teu olhar era menos atento e
buscava um foco que não mais existia.
Teus lábios ainda murmuravam a
canção que impregnou os teus sonhos,
Na cadência das pernas cansadas
fazias a dança
Em que envolvias tua própria
cintura,
No desejo de receber um abraço apertado.
Te encontrei quando os fogos do ano
que nascia
Eram marcas de luz brincando no
firmamento com as estrelas.
E por teus olhos escorria
A ausência de alguém especial
Que desejavas que nunca tivesse se
afastado.
Na aceitação das muitas estações que passaram,
Tens a certeza de que, na presença
ou na ausência,
Era alguém com quem compartilhavas
Pequenas descobertas todos os dias.
O que te parecia previsível
Somente o olhar sobre o passado
Alcançou a real perspectiva
Do jeito de ser,
Dos trejeitos,
Do que partia sem que
Conseguisses te apossar do
fragmento de um instante.
Eu vi quando as lembranças encheram
teus olhos de lágrimas.
Já não medes a distância em passos,
Mas nas marcas que se transformaram
Em traços no teu corpo.
Foi duro aprender que o tempo
É sempre curto e que, por desperdiçá-lo,
um dia se paga caro demais.
O encontro entre o tempo do sonho e
o tempo que a vida
Percorre sempre deixa a sensação de
que
Alguma coisa escapou por entre os
dedos.
Abrir as portas do Universo é a
espera
Por quem dá sentido à nossa própria
história.
São momentos em que se vislumbra a
Eternidade:
Quando juntos se leu o poema que
sorvestes por sobre o ombro
E tua respiração marcava cada rima,
cada estrofe, cada suspiro.
Quando andamos pela praia e
desenhei o teu rosto na areia,
Certo de que a onda iria te
acariciar e mudar teu semblante.
Quando apenas abrimos os braços e
corremos com o vento,
Levantando voos que eram plenos de
imaginação.
Quando o fim do dia nos encontrou
Quedados diante do silêncio,
No murmúrio do mar que recebia o
Sol
No abraço que tanto se desejou...
Envelhecer tornou-me um
colecionador de momentos.
As lembranças que saciam a minha sofreguidão.
O lento passar dos anos me ensinou
a arte de sublimar.
A saudade desnuda mostra
O canto da boca escondendo um
permanente sorriso,
Pois sei que um dia, ao levantar os
olhos, ainda vou encontrar
Alguém que espera por mim...
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