sexta-feira, 14 de abril de 2023

Alguém que espera por mim

Eu te vi brincando no suspiro do tempo.

Tuas mãos já não tinham a perfeição de quando eras jovem.

Teu olhar era menos atento e buscava um foco que não mais existia.

Teus lábios ainda murmuravam a canção que impregnou os teus sonhos,

Na cadência das pernas cansadas fazias a dança

Em que envolvias tua própria cintura,

No desejo de receber um abraço apertado.

 

Te encontrei quando os fogos do ano que nascia

Eram marcas de luz brincando no firmamento com as estrelas.

E por teus olhos escorria

A ausência de alguém especial

Que desejavas que nunca tivesse se afastado.

 


Na aceitação das muitas estações que passaram,

Tens a certeza de que, na presença ou na ausência,

Era alguém com quem compartilhavas

Pequenas descobertas todos os dias.

O que te parecia previsível

Somente o olhar sobre o passado

Alcançou a real perspectiva

Do jeito de ser,

Dos trejeitos,

Do que partia sem que

Conseguisses te apossar do fragmento de um instante.

 

Eu vi quando as lembranças encheram teus olhos de lágrimas.

Já não medes a distância em passos,

Mas nas marcas que se transformaram

Em traços no teu corpo.

Foi duro aprender que o tempo

É sempre curto e que, por desperdiçá-lo, um dia se paga caro demais.

 

O encontro entre o tempo do sonho e o tempo que a vida

Percorre sempre deixa a sensação de que

Alguma coisa escapou por entre os dedos.

Abrir as portas do Universo é a espera

Por quem dá sentido à nossa própria história.

 

São momentos em que se vislumbra a Eternidade:

Quando juntos se leu o poema que sorvestes por sobre o ombro

E tua respiração marcava cada rima, cada estrofe, cada suspiro.

Quando andamos pela praia e desenhei o teu rosto na areia,

Certo de que a onda iria te acariciar e mudar teu semblante.

Quando apenas abrimos os braços e corremos com o vento,

Levantando voos que eram plenos de imaginação.

Quando o fim do dia nos encontrou

Quedados diante do silêncio,

No murmúrio do mar que recebia o Sol

No abraço que tanto se desejou...

 

Envelhecer tornou-me um colecionador de momentos.

As lembranças que saciam a minha sofreguidão.

O lento passar dos anos me ensinou a arte de sublimar.

A saudade desnuda mostra

O canto da boca escondendo um permanente sorriso,

Pois sei que um dia, ao levantar os olhos, ainda vou encontrar

Alguém que espera por mim...

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