domingo, 16 de abril de 2023

O calvário do papa Francisco

Quem acompanhou o papa Francisco durante as celebrações da Semana Santa não acreditava que fosse a mesma pessoa que uma semana antes estava dando alta de um hospital, em Roma, onde ingressou para tratamento de um quadro de infecção respiratória. A idade avançada (86 anos), assim como dificuldade de se movimentar por conta própria - usando cadeira de roda e o suporte de auxiliares - é a imagem inquebrantável do pastor que suporta as tormentas físicas sem descuidar do seu rebanho.


Nos momentos que antecederam a internação, o papa, em nenhuma ocasião, demonstrou dor ou cansaço. Sabedor da liturgia do cargo, já que precisa manter o ânimo de católicos e cristãos que nele depositam a sua confiança, preferiu continuar com a agenda que já não é tão intensa mas, mesmo assim, difícil para um homem idoso. Lembrando de sua dificuldade respiratória, até em função de uma sequela nos pulmões. Foi com surpresa que se soube, depois de atividades públicas, da internação e suspensão de atividades.

Quem imaginou que seria um período de descanso, recarregando energias, se enganou: os médicos tiveram que se contentar com o tempo em que não estava fazendo suas orações, lendo jornais, atendendo pessoas, visitando outros doentes, dando o batismo ou pedindo que sua equipe, incluindo a guarda, pudesse desfrutar de uma refeição com pizza. Imagens de uma pessoa doente? Nem pensar: o exemplo da figura pública que manteve e transmitiu a energia positiva no tempo mais importante para o Cristianismo.

Aquele velhinho que todos nós gostaríamos de cuidar, oferecer o braço, segurar em algum momento, mas que, escapando com um sorriso, dribla as adversidades, como se diria em outros tempos: tem no corpo um santo e abençoado bicho carpinteiro! Quem esperava ver um padre sequelado, debilitado, participando da semana da Páscoa, acabou se decepcionando. Menos ativo, mas não menos presente, mostrou tino, lucidez e a capacidade de um homem de Deus para dirigir a Igreja Católica Apostólica Romana.

O calvário do papa Francisco tem um cronograma que cobra seu preço na passagem do tempo. Assim como Jesus, sabe que o fim se aproxima, sem espaço suficiente para concretizar sua marca pastoral. Enquanto os “cães” ladram à sua passagem, muitos estendem as mãos na busca pela bênção que tem a perspectiva da cruz.... e a certeza da ressurreição. O que sofre em seu corpo é parte do testemunho que, mais do que formatar uma figura pública, testemunha um dos maiores santos homens do nosso tempo!

Quem o vê sabe que merece se recolher. Pena que não acredite que possa voltar à sua amada Buenos Aires, terra de origem pastoral. Quando, se for o caso, resignar, o lugar de referência para a história será Roma. Todavia, envelhecer tem o sentimento de um reencontro com o passado. Mesmo o papa não está suficientemente resolvido para ter a tranquilidade de que os tempos idos também são apenas águas de outrora. Voltar às origens não é somente reviver sofrimentos, mas reencontrar a perspectiva da própria fé.

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