domingo, 30 de abril de 2023

Paixão e gratidão pela vida

Inezita. Este é o nome que vou dar para a senhora que, no fim da conversa com grupo da terceira idade, resolveu me contar um pouco da sua história. Tinha tempo e a sala havia ficado quase vazia. Não parecia chorar as mágoas, mas das dezenas, centenas, milhares de idosas e idosos que apenas pedem um momento de atenção. Dispor de um ouvido e de um olhar amigo que seja receptivo, gaste um tempo, permita que extravasem o que, na maior parte das vezes, fica recluso na vida de um apartamento ou de uma casa.


Dona Inezita é viúva. Para os padrões de hoje, seu marido morreu cedo. A família brincava que ele era exemplo de “velhinho turbinado”. Com pouco mais de 80 anos, um câncer o alcançou e partiu em menos de nove meses. Conta que, do seu jeito, haviam sido felizes. Tiveram dois filhos. Um ainda mora na mesma cidade e frequenta a sua casa aos sábados e domingos. Durante a semana, quase sempre arruma uma desculpa para vê-la. A passadinha que a faz ficar durante um bom tempo espiando pela janela...

O outro trabalha fora do estado. Professor, volta algumas vezes no ano. Junto com a nora e a neta, ficam na sua casa. É meio apertadinho, mas sempre dão um jeito de se acomodar, seja no frio do inverno, quando eles sentem mais e praticamente não saem de dentro da morada, ou em temperaturas mais quentes quando encontram uma desculpa para ficarem em família. Disse que valeu a pena cada um dos sacrifícios para bancar os estudos dos dois. E hoje se orgulha de ter filhos formados e com famílias constituídas.

Seu lugar de responsabilidade era a parte interna da morada; na garagem, reinava o marido, em especial depois da aposentadoria. E acostumaram os filhos a cuidarem de seus quartos. O espaço da família sempre foi a casa, como um todo. Brincou que eram afetivos, sem serem grudentos. As responsabilidades eram repartidas: o cuidado do jardim, da horta, dos cachorros, lavar a louça e limpar a casa. Inclusive quando chegaram as namoradas, que estranhavam serem escaladas para auxiliar a lavar a louça com os seu respectivos...

A garagem também era oficina. Com paciência, o pai ajudava a consertarem bicicletas, patinetes, motociclos e pequenos serviços para o lar. Assim como os quartos, que eram espaços preservados para os momentos de intimidade. Até hoje, garagem e quartos continuam da mesma forma, tanto assim que ambos querem ficar nos mesmos locais da infância e adolescência. Automaticamente, procuram a garagem para consertar coisas para os filhos. Ali receberam as namoradas... e, por bom tempo, ninaram seus netos.

Recebi um abraço quando nos encontramos. Não resisti e pedi outro. Não creio que ela precisasse. Eu, sim. Dona Inezita sabe que, aos 85 anos, o que um dia começou, agora está mais próximo do fim. Não se arrepende, não acha a casa grande: do tamanho que a vida lhe deu em momentos de felicidade. Ainda há vozes presentes em sua memória em busca de recantos perdidos. O que já não tem mais, as lembranças auxiliam a ficar de bem com o tempo que passou. A doce senhora que andava devagar em direção à porta é alguém que se apaixonou pela vida... E foi grata por tudo o que ela lhe deu!

sexta-feira, 28 de abril de 2023

Onde foram parar minhas lágrimas?

Olha bem para os entalhes em meu rosto.

Estes sulcos que julgas serem marcas do tempo,

São lugares por onde escorreram minhas lágrimas

E desenharam o mapa da minha história.

Por múltiplas razões - e em diferentes tempos -

Rasgaram minha pele,

Deixando os sinais que entranharam

Cada partícula, cada átomo do meu ser.

 

Tu me viu chorando em criança?

Eram lágrimas em que ainda se explora o Mundo:

Sabe-se que, de algum lugar, virá o consolo e

E a sensação de que é um tempo de aconchego.

Tu me viu chorando na adolescência?

Já era um pranto sentido:

O das primeiras perdas,

Das primeiras certezas de que nem sempre

Haveria um lugar para voltar, para se sentir acolhido.

 

Tu me viu chorando adulto?

Sim, foram muitas lágrimas,

Na maior parte das vezes, silenciosas,

Atendendo àquilo que esperavam de mim.

Tu me viu chorando na velhice?

Já eram lágrimas cansadas,

Dolorosamente sentidas,

Fruto do abandono e da solidão.

 

Hoje, minhas lágrimas tem o gosto da mistura

Da cerração, o frio da manhã e o Sol,

Que teima em brumar em meio às nuvens...

Ainda guardo a inocência de uma criança,

Quando preciso de ti.

Se com o tempo perceberes

Que há momentos em que minhas lágrimas

Parecem sem motivo,

É então que preciso ainda mais.

 

Então, apenas me ama, me abraça e pergunta

Se posso repartir o que estou sentindo.

Se silenciosamente te olhar e faltarem as palavras,

Saibas que houve um tempo em que me neguei a chorar

Para que pudesses sentir o sorriso que te amparava.

 

Eu andei pelas ruas que o destino traçou,

Mas nunca te perdi de vista.

Então, fecha os olhos e apenas sorve o que digo:

Se minhas mãos enrugadas te assustam,

Vou pô-las sobre meu colo,

Baixar meus olhos e murmurar:

Desculpa por nunca ter deixado de gostar de ti...

Quem já cuidou de quem ama,

Agora precisa de quem ama

Para não se sentir sozinho,

Um mendigo amor.

 

A finitude é o tempo que nos acalma,

Quando as lágrimas rotas em meus olhos coroam a busca

Do que persegui por toda a vida:

Teu carinho, teu aconchego e o anseio

Pela ternura que se derramava em teu olhar...

terça-feira, 25 de abril de 2023

“Mas tava na Internet”


Ainda há muito o que se falar na questão relativa aos crimes cometidos contra crianças numa creche, em Blumenau (SC). O que se sabe é que formadores de opinião (jornalistas, professores, religiosos, lideranças sociais e comunitárias...) tem se frustrado no seu intento, ao implorar que não se use das redes sociais para alimentar a sensação de insegurança. O que se testemunhou, especialmente na última semana, foi um festival de fake news (notícias falsas), em que se misturou maldade e supostos bem intencionados.

Direções de escolas e professores viram diminuir o número de alunos em aula pelos boatos espalhados e que levaram pais a se preocuparem com a segurança dos filhos. Supostos vídeos de novos atentados, em outras cidades e outros estados, circularam, compartilhados por pessoas desavisadas que não tem como saber se são da atualidade ou apenas resgatados de outras épocas. O pânico se instalou pelo aumento da segurança no entorno dos educandários, assim como a paranoia do aparecimento de suspeitos.

Muito do que se vê se alimenta do que é resultado das fake news: um ambiente de medo e de pavor. A reação das autoridade públicas foi da sensatez ao esdrúxulo. Em muitos casos, correram para anunciar medidas de enfrentamento da violência nas escolas, resgatando propostas relativamente simples, até as cortinas de fumaça, com projetos de marqueteiros. Esquecem que, para isto, são necessárias políticas adequadas e a criação uma cultura pela paz. Está sobrando cara de pau e faltando competência administrativa.

É preciso que a sociedade se conscientize do seu papel e não se deixe arrastar por quem dissemina o caos através do prazer mórbido que sente em confundir as pessoas, como de políticos que desejam surfar na onda do politicamente correto. Somos uma sociedade longe de se poder dizer que é “educada”, no sentido pleno. No conjunto, atingimos um nível de “educação funcional”. É nesta hora que se sente falta dos formadores de opinião e de consciência crítica, em especial das religiões, sindicatos e associações.

Acompanho a Pastoral da Educação da Arquidiocese de Pelotas, capitaneada pela professora Dora Domingues, que faz uma imersão em ambientes escolares discutindo com alunos uma cultura pela paz, em que o enfoque é entender e combater a violência escolar. São três áreas envolvidas: educação, psicologia e segurança pública. Claro, sem descuidar da família, que é o primeiro ambiente de educação. Acreditam que o diálogo é o caminho, resgatando jovens, especialmente da rede pública de ensino.

Já se ouviu: “mas tava na Internet!” O que aparece em redes sociais não é dogma. Como em qualquer meio de comunicação, existem elementos positivos e muitos elementos negativos. Não por culpa das redes, mas de quem as usa, inclusive como “religião” que, confirmando o que penso, não pode e não deve ser discutido. O aprendizado demanda preparo para maximizar ganhos e diminuir as perdas pela ignorância e a possibilidade de que, no anonimato, infelizmente, fale mais alto o que se tem de pior...

domingo, 23 de abril de 2023

O ônibus das minhas lembranças

Já é repetitivo dizer que, muitas vezes, a realidade supera a ficção: inclusive de que até os ficcionistas não se animariam a imaginar algumas coisas que estão acontecendo, dos avanços tecnológicos à triste desfaçatez de figuras públicas. Avança-se nas conquistas científicas em que uma parcela menor se apropria dos benefícios (saúde, segurança, alimentação...), com investimentos que apontam para o espaço, enquanto “espaços” imensos sobre a terra ainda veem pessoas “apenas” lutando pela sobrevivência...

Quando ouço comentários sobre minhas recordações e digo que meu público é feminino/geriátrico (obrigado, queridas amigas e amigos), estou reconhecendo que, às vezes, o que me resta é me refugiar em memórias de tempos passados. Não chego a me atrever a dizer que eram “bons tempos”, porém, eram de relações mais simples, mais diretas, com menos tecnologia, mas, com certeza, com bem mais humanidade. Uma humanidade que transparecia pela proximidade física (vizinhança) e pelas amizades.


Por incrível que pareça, pensei nisto num final de tarde quando voltava para casa e vi um ônibus de linha que ia em direção ao centro da cidade. Espiei para dentro para ver se havia algum rosto conhecido. Despejou-se um balde de lembranças dos tempos em que, em qualquer horário, sempre havia alguém conhecido para abanar e sorrir. Óbvio que não vi quem me acenasse, mas cavouquei os tempos em que eram os “veículos oficiais” que levavam e traziam ao trabalho, aos estudos, aos passeios, ao futebol, às compras...

Em casa, o almoço era rápido e se partia para onde se concentrava a turma para esperar o ônibus. Ali se davam as conversas, as algazarras, as combinações de programas para o fim-de-semana, ir à avenida Bento Gonçalves, as peladas pelos campos das vilas e interior e os namoricos... Embarcar e se concentrar no fundo do carro, num ritmo que parecia de excursão, até que, pelo caminho, um a um ia descendo, com a promessa de reencontrar o pessoal no final da tarde ou depois das aulas, quando se voltava para casa.

Ninguém tinha carro, alguns tinham moto, a maioria tinha bicicleta, própria ou dos pais. Alguns familiares trabalhavam com caminhão. Então, já era certo de que, ali, em meio a vizinhos e conhecidos da própria vila, ia se combinando roteiros de praia, passeios para fora, rodas de samba, filar janta ou almoço na casa de alguém... Na carona de uma moto, ou na carroceria de um caminhão, sob sol ou chuva, protegido por uma lona, o lugar não importava, mas o fato da gente estar junto, brincando, se divertindo e zoando.

Uma geração que viveu olho no olho de quem não se precisava dizer que era amigo, porque o que importava era que se sabia que se tinha amigos... Na azaração, nas frias, se se enfrentava juntos ou se fugia, juntos! O ônibus que passou estava vazio de identidade, faltava calor humano, era apenas “transporte coletivo”. Sou grato pela técnica que me faz ir mais longe, alcançar mais gente. Porém, os ecos destas lembranças me dão a sensação de que sacrificamos a nossa própria história no altar da tecnologia...

sexta-feira, 21 de abril de 2023

"Tu sabes que eu te amo"

Há ecos de palavras ditas


Que percorrem longo caminho em busca da Eternidade.

Frases pronunciadas na fagulha do tempo

E que se transformam em marcos de sentimentos.

Não são apenas sons, ultrapassam

Sentidos e se tornam a essência de um encanto.

 

Amar é a palavra maltratada,

Mesmo nos mais pobres vocabulários.

Vulgarizada, muitas vezes prostituída,

Aliou-se a outros sentidos e sentimentos.

Surpreende quando:

Se quer dar e receber um beijo,

Que não se pode estipular um preço;

Se quer a partilha de um abraço,

Que não se pode definir o valor;

Se quer compartilhar um olhar,

Que afasta todas as circunstâncias,

Acalma cada fibra do corpo

E se transforma em ternura.

 

Gestos que tornam amar um invólucro de sentimentos.

Será o conforto para o espírito que parte:

"Tu sabes que eu te amo".

Para aquele que está desistindo da vida:

"Tu sabes que eu te amo".

Quando a dor ou o tempo mal vivido

Adoeceu o gosto pelo convívio e pela espera:

"Tu sabes que eu te amo".

 

Há momentos preciosos em que

As pessoas precisam ouvir apenas:

“Tu sabes que eu te amo!”

No instante em que as lembranças revolvem

O que deu sentido ao tempo passado e vivido

E, mesmo assim, ainda se quer encostar

O rosto no ombro do ser amado

E sentir a essência do seu cheiro.

Estender a mão em silêncio e receber a sua.

Flagrar um olhar que, pacientemente,

Espera retribuição...

 

Amar é jeito humano de expressar a divindade.

Quando não se precisa falar de urgências,

Mas da intensidade do que se dividiu.

A tristeza de Pedro ressoa pela história

E vasa pelos olhos de quem se sente necessitado

De apaziguar o sofrimento causado.

 

"Tu me amas?"

Necessita apenas de um sim ou de um não,

Para se tornar uma eternidade de carinho.

Ouvir a mesma pergunta três vezes

É o pesadelo da omissão e da covardia.

O humano diante do que deveria coroar

A derradeira partilha de solidariedade e de cumplicidade.

 

Ouve o meu coração, eu preciso acalmá-lo.

Quando encostares tua testa no meu rosto

E a chama da vida erguer meus olhos,

Então, mira-me.

Somente nós viveremos este instante.

A realidade sonhada,

Quando tento ser poeta para assoprar e despertar

O encantamento em teu olhar.

 

Anda comigo pela rua,

No silêncio da noite que nos envolve.

Quando nossas mãos se encontrarem,

Enfim, terás entendido

E não será mais necessário repetir:

"Tu sabes que eu te amo".

terça-feira, 18 de abril de 2023

Semblantes delineados pela dor e pela saudade...

A professora Anita Bezerra postou um texto emocionado e emocionante, depois de discutir com alunos em sala de aula sobre a tragédia de Suzano (em 2019, parecida com o que aconteceu em Blumenau, recentemente). Deixou os alunos discutirem, até que um perguntou: “professora, quem matou o menino que atirou?” A resposta é a mesma que qualquer um de nós daria: “ele se matou”. E veio o comentário: “quando a minha mãe briga com meu pai eles ficam dias sem se falar e quando eles ficam de bem de novo ela sempre fala: você me mata todas as vezes que para de falar comigo!”

E continuou: “acho que ele matou todos e se matou por que ninguém queria conversar com ele!” Conta que houve silêncio e que teve que ir ao banheiro chorar diante da lição de um menino: “ontem depois de 15 anos dando aula aprendi com o Victor de 10 anos o que é ser humano e que nós matamos uns aos outros dia após dia! Cheguei em casa abracei meu esposo e filhos e voltei a ligar para meu irmão... Temos o poder de causar mal ao outro e não nos damos conta... Ensinem seus filhos a amar, não ensinem o ódio, não ensinem eles a machucar as pessoas! Conversem, conversem e se cuidem!”

Diante de uma nova tragédia, desta vez numa creche em Blumenau (SC), é preciso recuperar velhas e não aprendidas lições. Formadores de opinião não podem cansar de repetir o que estava numa postagem do Facebook, sobre o caso na escola. A pergunta é: “pais, já participaram da reunião quando são chamados? Vocês já olharam o que seus filhos estão assistindo no celular? Acompanham os conteúdos que seus filhos recebem na escola? Conhecem as amizades que seus filhos frequentam? Não é só cobrar dos outros, os filhos são seus e a responsabilidade é (primeiro e especialmente) dos pais.”

Outro card dizia: “antes de compartilhar ameaças às escolar e alarmar, olhe a mochila de seu filho quando sair de casa; as gavetas do seu filho, o celular, o histórico de conversas e pesquisas na internet. É dever da sociedade (Estatuto da Criança e do Adolescente) proteger crianças e adolescentes. Lembre-se: a privacidade dos filhos é limitada.” Confirma que pais e familiares são os primeiros educadores e que a ausência pode ser a omissão que mata. E nem se falou da administração pública – muitas vezes politiqueira – transparecendo um governo que quer punir. O mesmo que se mostra omisso e incompetente para articular políticas públicas de segurança e educação.

A omissão gera a desagregação e o desequilíbrio emocional, surpreendendo quem prefere não ouvir e entender os sinais visíveis no comportamento, especialmente de adolescentes. “Se surpreendem” quando veem os filhos recolhidos pela polícia porque condenaram outros pais à ausência perpétua. Em Blumenau, quatro inocentes foram mortos. Crianças que têm nomes, rostos, risos, dormiram observados por pais que curtiam o momento e projetavam o seu futuro... Na ausência brutal e criminosa, perderam a aparência física e restou semblantes delineados pela dor e pela saudade...

domingo, 16 de abril de 2023

O calvário do papa Francisco

Quem acompanhou o papa Francisco durante as celebrações da Semana Santa não acreditava que fosse a mesma pessoa que uma semana antes estava dando alta de um hospital, em Roma, onde ingressou para tratamento de um quadro de infecção respiratória. A idade avançada (86 anos), assim como dificuldade de se movimentar por conta própria - usando cadeira de roda e o suporte de auxiliares - é a imagem inquebrantável do pastor que suporta as tormentas físicas sem descuidar do seu rebanho.


Nos momentos que antecederam a internação, o papa, em nenhuma ocasião, demonstrou dor ou cansaço. Sabedor da liturgia do cargo, já que precisa manter o ânimo de católicos e cristãos que nele depositam a sua confiança, preferiu continuar com a agenda que já não é tão intensa mas, mesmo assim, difícil para um homem idoso. Lembrando de sua dificuldade respiratória, até em função de uma sequela nos pulmões. Foi com surpresa que se soube, depois de atividades públicas, da internação e suspensão de atividades.

Quem imaginou que seria um período de descanso, recarregando energias, se enganou: os médicos tiveram que se contentar com o tempo em que não estava fazendo suas orações, lendo jornais, atendendo pessoas, visitando outros doentes, dando o batismo ou pedindo que sua equipe, incluindo a guarda, pudesse desfrutar de uma refeição com pizza. Imagens de uma pessoa doente? Nem pensar: o exemplo da figura pública que manteve e transmitiu a energia positiva no tempo mais importante para o Cristianismo.

Aquele velhinho que todos nós gostaríamos de cuidar, oferecer o braço, segurar em algum momento, mas que, escapando com um sorriso, dribla as adversidades, como se diria em outros tempos: tem no corpo um santo e abençoado bicho carpinteiro! Quem esperava ver um padre sequelado, debilitado, participando da semana da Páscoa, acabou se decepcionando. Menos ativo, mas não menos presente, mostrou tino, lucidez e a capacidade de um homem de Deus para dirigir a Igreja Católica Apostólica Romana.

O calvário do papa Francisco tem um cronograma que cobra seu preço na passagem do tempo. Assim como Jesus, sabe que o fim se aproxima, sem espaço suficiente para concretizar sua marca pastoral. Enquanto os “cães” ladram à sua passagem, muitos estendem as mãos na busca pela bênção que tem a perspectiva da cruz.... e a certeza da ressurreição. O que sofre em seu corpo é parte do testemunho que, mais do que formatar uma figura pública, testemunha um dos maiores santos homens do nosso tempo!

Quem o vê sabe que merece se recolher. Pena que não acredite que possa voltar à sua amada Buenos Aires, terra de origem pastoral. Quando, se for o caso, resignar, o lugar de referência para a história será Roma. Todavia, envelhecer tem o sentimento de um reencontro com o passado. Mesmo o papa não está suficientemente resolvido para ter a tranquilidade de que os tempos idos também são apenas águas de outrora. Voltar às origens não é somente reviver sofrimentos, mas reencontrar a perspectiva da própria fé.

sexta-feira, 14 de abril de 2023

Alguém que espera por mim

Eu te vi brincando no suspiro do tempo.

Tuas mãos já não tinham a perfeição de quando eras jovem.

Teu olhar era menos atento e buscava um foco que não mais existia.

Teus lábios ainda murmuravam a canção que impregnou os teus sonhos,

Na cadência das pernas cansadas fazias a dança

Em que envolvias tua própria cintura,

No desejo de receber um abraço apertado.

 

Te encontrei quando os fogos do ano que nascia

Eram marcas de luz brincando no firmamento com as estrelas.

E por teus olhos escorria

A ausência de alguém especial

Que desejavas que nunca tivesse se afastado.

 


Na aceitação das muitas estações que passaram,

Tens a certeza de que, na presença ou na ausência,

Era alguém com quem compartilhavas

Pequenas descobertas todos os dias.

O que te parecia previsível

Somente o olhar sobre o passado

Alcançou a real perspectiva

Do jeito de ser,

Dos trejeitos,

Do que partia sem que

Conseguisses te apossar do fragmento de um instante.

 

Eu vi quando as lembranças encheram teus olhos de lágrimas.

Já não medes a distância em passos,

Mas nas marcas que se transformaram

Em traços no teu corpo.

Foi duro aprender que o tempo

É sempre curto e que, por desperdiçá-lo, um dia se paga caro demais.

 

O encontro entre o tempo do sonho e o tempo que a vida

Percorre sempre deixa a sensação de que

Alguma coisa escapou por entre os dedos.

Abrir as portas do Universo é a espera

Por quem dá sentido à nossa própria história.

 

São momentos em que se vislumbra a Eternidade:

Quando juntos se leu o poema que sorvestes por sobre o ombro

E tua respiração marcava cada rima, cada estrofe, cada suspiro.

Quando andamos pela praia e desenhei o teu rosto na areia,

Certo de que a onda iria te acariciar e mudar teu semblante.

Quando apenas abrimos os braços e corremos com o vento,

Levantando voos que eram plenos de imaginação.

Quando o fim do dia nos encontrou

Quedados diante do silêncio,

No murmúrio do mar que recebia o Sol

No abraço que tanto se desejou...

 

Envelhecer tornou-me um colecionador de momentos.

As lembranças que saciam a minha sofreguidão.

O lento passar dos anos me ensinou a arte de sublimar.

A saudade desnuda mostra

O canto da boca escondendo um permanente sorriso,

Pois sei que um dia, ao levantar os olhos, ainda vou encontrar

Alguém que espera por mim...

terça-feira, 11 de abril de 2023

Vacinação: o rumo é o postinho

A mudança das temperaturas na troca das estações é um alerta para medidas que já deviam fazer parte do nosso quotidiano, mas, contestadas, se transformou em ponto de disputa ideológica e não uma questão de saúde. Gripe ou Covid, admitir que o Brasil ultrapassou a marca das 700 mil mortes escancara a incompetência e que se falhou em todos os sentidos, desde o atendimento básico preventivo até a definição de políticas públicas que atendessem, especialmente, às populações mais pobres.

Em nível local, o número de óbitos diminuiu sensivelmente, mas se veem registros, no dia a dia, de algumas dezenas de infectados. E se a letalidade não preocupa tanto, sabe-se que a presença do vírus nas casas e a necessidade de cuidados causa problemas nas relações familiares e também no ambiente de trabalho. Especialmente quando ainda se percebe que a cobertura da vacina bivalente contra a Covid está bem abaixo do esperado em todo o país. A quarta dose (ou segunda de reforço) que já está disponível.

O Ministério da Saúde iniciou segunda-feira (10) a 25ª Campanha Nacional de Vacinação contra a Influenza, mais conhecida como vacina da gripe. Em princípio, até o dia 31 de maio deste ano. Tradicionalmente, um dia (este ano, em 6 de maio), há uma concentração para facilitar a vida da população. Na fila, entram crianças de 6 meses e menores de 6 anos, trabalhadores da saúde e pessoas com mais de 60 anos. Também as gestantes e aquelas no período de até 45 dias após o parto (puérperas).

Desde que surgiu, a vacina sempre foi motivo de discussões a respeito da sua eficácia. O certo é que ajudou a frear a contaminação e o surgimento de vírus potencialmente letais, como foi o caso do coronavírus e as novas variantes. Levou-se um grande tempo para perceber que apenas a imunização em massa protege todo um grupo de pessoas de uma determinada localidade e diminui o risco de contágio. O Brasil evoluiu bastante até que, recentemente, entrou-se numa disputa negacionista e deu no que deu...

Os exemplos são tristes. Idosos e grupos de riscos sofrem mais com a consequência da falta de uma cobertura vacinal. É inadmissível que, por interesses políticos, se sacrifique parcela da população porque, como chegaram a comentar algumas lideranças políticas: “já estão com o prazo vencido” ou “estão mais perto da morte”. O retrocesso das campanhas no Brasil tem viés administrativo mas, também, a responsabilidade do brasileiro comum que precisa aprender a cuidar de si e daqueles com os quais convive.

Vou chamar de lado os idosos (como eu) e fazer um apelo: não importa o que está ouvindo em casa: pró ou contra a imunização. Seja a favor da sua saúde. Quem viveu o tempo em que esta campanha era uma grande festa cívica sabe que ninguém morreu pela vacina. Ao contrário, melhorou a qualidade de vida, em especial, num tempo em que se vive mais. Então, pegue a carteirinha, diga que vai à farmácia ou ao mercadinho e rume para o postinho. E volte orgulhoso da marca no seu braço: a picadinha da vida!

domingo, 9 de abril de 2023

Quando se perde a vergonha de amar

Domingo da Ressurreição. Domingo de Páscoa. No imaginário popular, são muitas as confusões. Para os “entendidos” das religiões cristãs, as celebrações da semana que termina são as mais importantes de todo o calendário. Afinal, é a própria razão de ser e o sentido. Embora comercialmente se chame mais atenção para o Natal, qualquer um de nós nasceu. O diferencial do cristianismo é que o Filho de Deus feito homem, Jesus, morreu e ressuscitou. A grande novidade, o grande mistério. A surpresa e o desafio.

Não que seja de fácil compreensão, então, a fé popular encontra formas de explicar que, nem sempre, cabem nas formulações dos teóricos. Embora já não seja a multidão de antigamente, a tradição persiste e leva às igrejas pessoas desejosas de reafirmar sua crença e sua vida. Retomam sempre a busca pelo sentido do dia a dia: a necessidade de forças para não desistir. E como é bom se, em algum lugar que se chama templo, igreja, catedral, capela, ermida, se compartilhe com pessoas que pensam de forma semelhante.

Lendo o texto que postei sexta, deparei-me com a expressão “amadas e amados”, com a qual tratei leitores/ouvintes. Aprendi com a Maria Fani, amiga e ministra com o Lupi, na paróquia da Aparecida, e que passou a me acompanhar a partir da pandemia e do programa Partilhando. Com o tempo, perde-se a vergonha de usar expressões que fazem bem e aproximam. Também a uso para os “garotos e garotas” na década de 70 e 80: o “Em Busca de um Novo Sol”, da paróquia Santa Teresinha, no grupo do whatsapp.

Sempre alguém envia mensagem dizendo que a forma como foi dita é um carinho. O tratamento retorna energizado quando se ouve algo parecido. A força que nos recarrega, todos os dias, em diversos momentos, variados encontros. Recentemente, voltava para casa e passei em frente a um carro. Em seguida, uma buzina e um chamado. Conhecia o rapaz, com quem conversara algumas vezes, que sorriu e brincou: “só parei porque era o senhor!” Foi a minha vez de continuar o caminho sorrindo.

Mas não precisa ser “vítima” direta para fazer parte de uma história típica de morador de vila. Aguardando para servir a comida e atento à fila onde a mãe escutou de uma vizinha que pouco encontrava se estava de namorado novo, pois viu um rapaz saindo de sua casa. O sorriso brejeiro e a confirmação de que sim. Era seu mais novo namorado. O que, na verdade, correspondia ao seu filho, na faixa do 20 anos, que mora com ela. Tenho certeza de que, com variadas versões, ainda vou ouvir novamente esta história...

O sentido da Páscoa está na renovação: olhar as mesmas coisas, com jeito diferente. O papo na fila de espera, a fofoca ao telefone, a risada das vizinhas, a palavra de carinho para quem é próximo, o abraço que isola problemas do Mundo e aquece o coração, o beijo que atravessa os sentidos para chegar até a alma... É a “páscoa” acontecendo todos os dias. A ressurreição humana regenera as células do espírito e se apresenta do jeito que a gente sonhar que ela seja, especialmente, quando se perde a vergonha de amar!

sexta-feira, 7 de abril de 2023

A morte e o silêncio de Deus...

Três vidas se cruzam no caminho do calvário.

Não há pressa,

Embora os açoites os instiguem,

A dor os impede de pensar,

Mas ainda querem viver.

Tiveram uma história.

Os rumos foram diversos

Mas o fim acabou sendo o mesmo.

A sociedade os carimbou como perigosos,

Criminosos por atentarem contra bens,

Pessoas, as ideias de um grupo...

 

Um seguia conformado com a própria indiferença.

O outro se mostrava arrependido.

E o terceiro era diferenciado:

Selava não o seu destino,

Mas o destino dos homens.

 

Três cruzes demarcavam o horizonte.

Era necessário que morressem

Para assegurar o respeito e o temor.

 

Conformados, achavam que tudo já estava predestinado.

Muitos dos que estavam ao longo do caminho

Continuaram com suas tarefas,

Certos do que iria acontecer.

Outros queriam detalhes de um espetáculo macabro

Que já vertia sangue desde a condenação,

A crueldade dos guardas

E o momento de cada um tomar a cruz.

 

O jeito da humanidade:

Traziam a indiferença,

O arrependimento,

A realeza.

Não havia quem os consolasse,

Sozinhos na perspectiva de cumprir a sua sina.

Seus nomes? Não se sabe. Um se chamava Jesus.

E embora tivesse reunido multidões

Ali, poucos dos seguidores ficaram à vista.

 

Três cruzes cravadas para que a cidade possa enxergar.

Agora, é a hora da espera.

Aos poucos, perdem as forças

E se torna difícil respirar.

Não há mais retorno.

Apenas a morte.

O cansaço já embota seus cérebros.

Somente o homem que parecia mais fraco não reclama.

Reza e fala com sua mãe, um dos seus seguidores e o ladrão arrependido.

 

A brisa geme em meio às árvores,

Agita-se a natureza na despedida do Galileu

E na angústia do renascimento da vida.

Por todos os tempos e em todos os lugares,

O lamento do vento, da trovoada e dos relâmpagos

Alcança o ápice do sofrimento:

A natureza precisa resgatar um corpo

Para devolver o Filho do Eterno.

Tinha fim a angústia, as incertezas,

As dores, a vida sem sentido.

Na sexta feira da paixão

Emerge a esperança em meio à agonia.

É preciso dobrar os joelhos diante de quem morre

E do silêncio de Deus...

terça-feira, 4 de abril de 2023

A Páscoa da real esperança

No domingo de Páscoa, a cruz vai estar vazia. O túmulo também vai estar vazio. Para muitos homens e mulheres ao redor do Mundo bastará a fé para justificar a crença de que Jesus ressuscitou. Este é o motivo pelo qual, ao longo da história, testemunharam no que acreditam com a própria vida. Alguns a entregaram, num ato de coragem. Outros fizeram desta mesma coragem, motivo para não desistir dos pequenos e, muitas vezes, considerados "insignificantes" momentos de rotina, razão de manter firme a sua crença.

Nunca deixei de admirar os que foram elevados às honras dos altares. No entanto, tenho ainda mais respeito por "santos" e “santas” sem experiências miraculosas, porém, que empenharam seu sangue e suor no atendimento do dia a dia às suas famílias e àqueles que estão mais próximos. Na Quaresma e Páscoa, que são tempos de mudança, é preciso focar no real sentido para não banalizar as palavras pois, se quem prega consegue mudar pouco ou nada, se tornam expressões de difícil compreensão para as pessoas simples.


Ao conversar com grupos religiosos, coloco uma questão, quase sempre sem esperar resposta: que caridade pratiquei hoje? Em especial quem lidera, homens e mulheres que deveriam, todos os dias, se perguntar: qual foi o gesto de generosidade que fiz? Infelizmente, muitos vão se dar conta de que nem hoje, nem recentemente, as ações ultrapassaram o discurso. Está comprovado que o lugar mais difícil de viver o cristianismo é em família e nos grupos mais próximos com os quais se convive.

A compaixão e a solidariedade devem mexer na parte mais sensível do corpo, que ainda se chama bolso. Cuidar da família, dos amigos, dos vizinhos e colegas de trabalho é lugar privilegiado para viver a Páscoa. No templo você os oferece a Deus e busca energias para, exatamente, neste meio, viver como cristão. Muitas podem ser as cruzes no caminho, mas onde resplandece o homem novo é naqueles que sentem em você o perfume da assistência, do carinho, do afeto, do amor, do ombro amigo...

Na Páscoa, vive-se a ressurreição com homens e mulheres “santos” que fazem da religião um jeito humano de viver a fé. Rememora-se Jesus que ressuscita e se vive o ápice da expectativa de se colocar, como filhos, no colo de Deus. É o que temos de mais divino: homens, à imagem e semelhança de Deus, no caminho para a santidade. A santidade que faz de todos dias a sequência de “atos heroicos”, sem serem reconhecidos. Sem conhecimentos teológicos, mas fazendo do chão do Mundo o lugar da nossa fé.

O que se precisa não é de um pensamento escatológico (que se discute acontecimentos do fim do planeta e da humanidade), mas atender à necessidade humana de entender o que de fato significa o Jesus histórico. Viver a “santidade” na prática do bem, descobrir pessoas santas em cada meio. Amadurecer, inclusive na fé e na religião; se dar conta de que a Eternidade é uma perspectiva, a vida é a realidade. A cruz é a porta que, para além de Céu e de Inferno, é onde se manifesta a misericórdia de Deus, a nossa real esperança!

Uma santa e abençoada Páscoa!

domingo, 2 de abril de 2023

Sexta com gosto de poesia...

Quando me propus a fazer uma experiência publicando “poesias” refleti bastante a respeito do título. Fiz “laboratório” produzindo textos para alimentar a “época das vacas magras”, na possibilidade de faltar inspiração... Para não ofender aos poetas (bem mais competentes do que eu), fiz defesa na nomenclatura: não foi “sexta com poesia”, mas “sexta com GOSTO de poesia”. Acreditei ter argumento e pedir a generosidade nas avaliações, já que não eram poesias propriamente ditas, mas um “arremedo do gênero”.


Disse em muitos espaços que escrever, para mim, é uma necessidade que tenho desde o tempo do Seminário, que se organizou há cerca de 25 anos, quando comecei a publicar no jornal Diário Popular. Na época, pelas mãos do seu Clayr Rochefort e do amigo Álvaro Guimarães. Recentemente (creio que 12 anos), a convite de outro amigo, o Adilson Cruz, o artigo da semana foi inserido no jornal Tradição. Sem contar as redes sociais que, nos últimos anos, dão uma grande repercussão a todo o material publicado.

Quando a pandemia iniciou, em seguida comecei a veicular um texto especial: “crônica de uma tarde de domingo”. Foi muito boa a repercussão, pois queria ser leve, divertida, emotiva, fazendo companhia para pessoas que estavam precisando de um amigo, em casa. Em junho, fazem três anos de um texto diferenciado, com a liberdade que permitiu falar de comportamento, lembranças de família, de amigos, dos meus vizinhos e “vileiros”, assim como as experiências com grupos de igreja, sociais e profissionais.

O “Sexta com gosto de poesia” são, na verdade, pequenas reflexões. Algumas mais espiritualizadas, outras falando de angústias existenciais. Fiquei surpreso com a repercussão. Ao ponto de ser aquela que, nas redes sociais, tem o maior número de acessos, seja por curtida, visualização e compartilhamento. Quando posto, pela manhã, sei que, em seguida, começarão as mensagens de identificação. Com os registros de que estão ouvindo antes de levantar, ao café da manhã, sozinhos ou acompanhados.

O que emociona são pessoas que acabaram escrevendo, depois de ler ou ouvir: “tô chorando”, “tu já me fizeste rir, chorar, ter raiva de ti e te amar”, “quando li o texto terminei com uma lágrima rolando e uma sensação de leveza”, “queria ter escrito o que tu escreveu”. As respostas são pequenos mimos que compensam momentos em que a ansiedade fazia duvidar se, de fato, os leitores/ouvintes ainda querem ouvir poesia, no sentido convencional, ou mesmo o que ofereço: reflexões com uma pitada de poesia.

“Sexta com gosto de poesia” completou um ano no fim de março. Tem sido desafiador fazer e compensador ouvir mensagens dividindo comigo os sentimentos que despertam. Não imagino melhor retorno que este. Confesso: gostaria que as pessoas comentassem e compartilhassem mais. O que faço, assim como muitos escritores, é embalar os meus sonhos e o sonho de outros, tendo sempre a perspectiva de tornar a vida mais leve e experimentar a doçura de dar, a cada um de vocês, pequenos momentos de felicidade...