sexta-feira, 9 de dezembro de 2022

Uma trégua com o passado

Há um tempo na vida em que o mais importante

É organizar os arquivos já existentes,

Mais do que abrir novos compartimentos.

O que se acumula com o passar da existência

É suficiente para que se acarinhe lembranças,

Saudades e ausências.

 

Elas podem ser encontradas em meio aos livros.

Pequenos pedaços de papel, onde ficou

Eternizada apenas uma frase, um desenho,

A sensação da incompletude

Porque não se conseguiu chegar a alguém

No clamor das horas de angústia e de solidão.

 

Estão no objeto guardado numa pequena caixa

Fazendo eco ao passado com o detalhe

De um botão, um brinquedo, um fetiche

Esquecidos até do que ainda resta da memória,

Mas dispostos a reavivar chamas,

Reacender melancolias.

 

Estão nos retratos que se misturam

Com as reminiscências que evocam.

Onde se precisa de esforço

Para delinear rostos, relembrar situações,

Tomar posse de lembranças

Que hoje têm a dolorida sensação de ausências.

 

O lugar de onde vêm os sorrisos e as lágrimas.

Que matreiramente, agitam as nossas

Faces, onde também se misturam

Pontadas de dor e momentos de doces recordações.

Este é um dos arquivos que apenas se precisa

Fechar os olhos para que se faça presente.

 

Aqueles momentos que - nos pareceram -

Duraram pouco, mas foram ressoando

E deixando marcas que não podem ser esquecidas.

Uma folha em branca em que se rabiscou

O destino e as relações de quem nos marcou,

Com vozes que insistem em se fazer saudade.

 

Não basta guardar as boas lembranças,

Tentar esquecer as ruins

E conservar as que foram especiais.

Elas condicionam e exigem que

Se volte a todos os arquivos que

Não tem jeito de se apagar.

 

Guardo de um lado do peito lembranças e saudades.

Fiz uma trégua com o meu passado:

Entre reminiscências e ausências,

Desejo viver em paz com o presente.

Já que o tempo que me brinda com a vida

É o mesmo que brinca com o sentido da minha existência...

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