terça-feira, 13 de dezembro de 2022

O pênalti, a monja e o brasileiro...

Quando se diz que “nada mais me surpreende...” sempre fica exatamente isto: as reticências. Uma das situações que me pareceu esdrúxula foi a da monja budista Coen, colunista de diversos jornais nacionais, além de espaços pelas redes sociais, quando postou vídeo criticando a escalação dos batedores de pênaltis do Brasil contra a Croácia. Já pronta para ser escalada e comentar os próximos jogos (brincadeirinha), detalhou o despreparo do primeiro batedor, o Rodrygo, que errou a primeira batida.

E do goleiro Alisson que foi pouco exigido durante o jogo e, consequentemente, estaria frio, no final, quando mais se precisava dele. Ora, ora... Acho que ainda tem coisas que me surpreendem, confirmando que o brasileiro comum também é treinador e juiz de futebol. Não tiro o direito de um padre, pastor, reverendo, pai de santo, líder espírita se manifestar sobre esportes ou agenda social. O que preocupa é que no agito do “câmera e ação” está faltando comedimento, da parte de quem fala e de quem escreve...


Repórteres nas ruas estão sedentos de uma brecha que auxilie a fazer pauta, em especial quando vêm de pessoas famosas. Sendo assim, é meio caminho andado para que se multipliquem os números de acesso e o compartilhamento. Este é um fenômeno destes tempos em que as gerações do século XX podem se considerar analógico/digitais: vive num tempo com a cabeça formada em outro. Ainda somos lerdos em reagir diante de tantos e sofisticados recursos, num tempo em que, literalmente, a palavra voa.

Gosto da expressão “foco”. Não há dúvidas de que um profissional focado sai na frente. É a forma de garantir competência falando da área de atuação e, quando se mete nas demais, não o faz como especialista, mas, no presente caso, como cidadão que tem o direito de manifestar a sua opinião, sem precisar se transformar em referência. Todos ganham se, periodicamente, se ouvisse pessoas que simpatizam com o que se faz e pudessem dar “palpites”, desde que não travestidos de “verdades doutrinárias”.

A monja Coen é referência espiritual e humanista no Brasil. Seus livros, vídeos, artigos, palestras têm forte influência sobre budistas e simpatizantes. Confesso que me surpreendi quando li a matéria contando que a religiosa havia perdido a paciência com a seleção brasileira de futebol. Uma expressão forte do texto foi a sua “revolta”. Não creio que ela tivesse sequer pensado em tal palavra. Não é à toa que as postagens bateram recordes, com mais de 7,5 milhões visualizações e 16 mil comentários, até sábado (10).

Num tempo de cultura descartável, as palavras, muitas vezes, se perdem ao vento. O destaque de hoje, vira segundo plano e cai no esquecimento. A população não consegue compreender personagens como a monja Coen, que referenciam vidas. O que disse nos últimos dias é como a própria copa: vai passa. Porém, em tempos de expectativas, se torce para que, entre pênaltis, goleiros e batedores, figuras públicas, como a própria, façam o elementar: não deixem o brasileiro perder a alegria de viver e de sonhar...

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