sexta-feira, 16 de dezembro de 2022

O badalar do silêncio


O badalo do sino que anuncia

O nascimento do Senhor,

Também tange para desvendar caminhos:

O Tempo que prepara a balança

Em que se descobre que a vida é uma tentativa

De equilíbrio entre ganhos e perdas.

 

A infância encanta os olhos com

A riqueza de perspectivas: há um mundo por descobrir.

A maturidade alcança a presunção do equilíbrio de discernir.

E se envelhece ao fazer as contas das nossas capacidades.

É quando o velho caderninho de anotações está borrado

Por riscos, rabiscos e anotações à margem...

 

Discernir que mais do que pedir, é necessário oferecer.

Quando pensei que alguém me tirava algo,

Minhas mãos estavam em garra segurando o que

Precisava escapar por entre meus dedos.

Quando esperava por um favor,

Dei-me conta de que poderia ter feito a primeira gentileza.

 

O Tempo não devolve aqueles que partiram.

Se hoje existe o silêncio, é porque calaram a música;

Se minhas páginas preferidas apagaram

É porque a poesia não resistiu ao clamor da saudade;

Se restaram meus olhos triste e profundos

É porque as lágrimas secaram ao sabor da minha dor.

 

Vagar pela casa é redescobrir fantasmas

Que se acomodam em cantos e recantos.

Não assustam, não gemem, não são presenças dolorosas.

São apenas os meus sentidos e as minhas perdas.

Na leveza da brisa que murmura na cortina

Desvelam aberturas e fachos de luz.

 

E é pela janela entreaberta que vejo a torre,

Pressinto o sino, a corda que se estica,

Aquele que vai tanger o chamado.

Enquanto não chega o sonido,

Ouço o badalar do silêncio

E me acomodo com o lápis e o caderno...

 

Ainda não posso fechá-lo e deixar

Que a poeira deixe suas marcas

Por sobre a capa.

Meus dedos acarinham-no

Como uma extensão do meu corpo,

Das minhas memórias e sentimentos.

 

Ao sabor do vento da tarde,

As páginas flutuam pelo meu passado.

Quando criança, queria ver o futuro,

Quando adulto, acreditava que o tinha sob controle,

Ao final desta tarde que se insinua na chegada da noite,

Resta o sorriso cansado de quem já não se importa

E quer apenas ouvir o sino, flutuar no vento e dormitar no silêncio...

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