O badalo do sino que anuncia
O nascimento do Senhor,
Também tange para desvendar
caminhos:
O Tempo que prepara a balança
Em que se descobre que a vida é uma
tentativa
De equilíbrio entre ganhos e
perdas.
A infância encanta os olhos com
A riqueza de perspectivas: há um
mundo por descobrir.
A maturidade alcança a presunção do
equilíbrio de discernir.
E se envelhece ao fazer as contas
das nossas capacidades.
É quando o velho caderninho de
anotações está borrado
Por riscos, rabiscos e anotações à
margem...
Discernir que mais do que pedir, é
necessário oferecer.
Quando pensei que alguém me tirava
algo,
Minhas mãos estavam em garra
segurando o que
Precisava escapar por entre meus
dedos.
Quando esperava por um favor,
Dei-me conta de que poderia ter
feito a primeira gentileza.
O Tempo não devolve aqueles que
partiram.
Se hoje existe o silêncio, é porque
calaram a música;
Se minhas páginas preferidas
apagaram
É porque a poesia não resistiu ao
clamor da saudade;
Se restaram meus olhos triste e
profundos
É porque as lágrimas secaram ao
sabor da minha dor.
Vagar pela casa é redescobrir
fantasmas
Que se acomodam em cantos e
recantos.
Não assustam, não gemem, não são
presenças dolorosas.
São apenas os meus sentidos e as
minhas perdas.
Na leveza da brisa que murmura na
cortina
Desvelam aberturas e fachos de luz.
E é pela janela entreaberta que
vejo a torre,
Pressinto o sino, a corda que se
estica,
Aquele que vai tanger o chamado.
Enquanto não chega o sonido,
Ouço o badalar do silêncio
E me acomodo com o lápis e o
caderno...
Ainda não posso fechá-lo e deixar
Que a poeira deixe suas marcas
Por sobre a capa.
Meus dedos acarinham-no
Como uma extensão do meu corpo,
Das minhas memórias e sentimentos.
Ao sabor do vento da tarde,
As páginas flutuam pelo meu
passado.
Quando criança, queria ver o
futuro,
Quando adulto, acreditava que o
tinha sob controle,
Ao final desta tarde que se insinua
na chegada da noite,
Resta o sorriso cansado de quem já
não se importa
E quer apenas ouvir o sino, flutuar
no vento e dormitar no silêncio...
Nenhum comentário:
Postar um comentário