José acordou preocupado. Como todo o seu povo, tinha profundo respeito por aquilo que lhe aparecia em sonhos. E não podia negar: naquela noite, o que vira tinha sido muito estranho. Estava carregado de ansiedade porque havia uma jovem que lhe tinha sido prometida em casamento. No entanto, a menina estava grávida e, até o dia anterior, sua decisão havia sido de que a rejeitaria secretamente, para não difamá-la. Não queria expô-la à vergonha pública, à condenação por adultério e, como pena, a própria morte.
Mesmo sabendo que havia sido um sonho, ainda estava
abalado com a clareza com que lembrava de cada detalhe da presença de um anjo
de Javé. Não se considerava um dos maiores conhecedores da Torá e dos livros
sagrados, mas a presença deste ser especial iluminara sua morada com o anúncio
de que não deveria renegar Maria, mas que o menino que estava a caminho era o
esperado por Israel. Nasceria pela ação de Javé, com a humanidade de uma mãe e
a graça de um pai adotivo, um pai de coração.
Foi para a oficina, onde talhara as mãos e o espírito
no serviço em que enrijecia o corpo, sem perder o perfume e a leveza do amor
que tinha por Maria. Com certeza, não conseguia entender tudo, mas sentiu que
faria parte de algo maior, sem reivindicar o direito de primogenitura do sim de
Maria, certo de que Jesus encontraria um pai, apoiador, companheiro, capaz de
segurar a mão da esposa e do filho. O filho seria mais do que uma expectativa,
a realização de uma lufada de ar fresco sobre a humanidade.
Não eram tempos fáceis, bem sabia, mas, se
dependesse dele, facilitaria os caminhos para que o despertar daquele dia fosse
o motivo para continuar um belo sonho. Haveria muito trabalho para explicar
para as pessoas que estava resignando a um filho biológico para ganhar o
direito de trilhar não um caminho que explica, mas uma senda que acolhe. A fragilidade
da criança precisaria ser vencida pelos cuidados com sua jovem esposa e com o
recém-nascido, que em breve acolheria e haveria de ninar em seus braços.
Por onde andaria? Em que situações precisaria de
cuidados? Poderia ser um pai normal, enquanto Deus explicitasse a sua vontade?
Olhou pela porta e pensou que, logo, Maria estaria ali com seus pais. Conversariam,
trocariam confidências, partilhando alegrias e preocupações. Apresentariam ao
filho suas experiências de vida. Explicariam a Lei e os Profetas, como vivia e
sofria seu povo, passeariam pelos arredores de Nazareth, mostrando o seu
pequeno mundo, e viveriam intensamente cada instante em família!
Não tinha todas as certezas. E não precisava. Tinha
a sua fé e um lugar onde vivê-la: o seu lar, a sua família. Queria tempo
suficiente para ver se cumprir o que era anunciado nas sinagogas, para onde,
logo-logo, iria, acompanhado de Maria e de Jesus. Colocaria o seu conhecimento
e o seu coração para que Ele fosse apenas um menino, trazendo em si a presença
de Javé. Descobririam que nem toda a lágrima precisa se transformar em dor, mas
que todo o sorriso do menino, mesmo enquanto dormia, seria uma bênção!
Receba,
no seu coração, um beijo da família de Nazareth!
Um
feliz e abençoado nascimento do Senhor!
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