As estatísticas mostram que a história, infelizmente, já não é incomum: um acidente de carro, pais mortos, uma criança que sobrevive, avós que precisam lutar para que a vida continua. E duas visões. Do neto: "quando vovô fica triste, senta na cadeira de balanço. Fica olhando o nada pela janela. Então, eu sento no colo dele e embalo meu avô". E do avô, refletindo sobre a tristeza de ter enterrado um filho - quando deveria vir a ser o contrário. Mas também certo de que há um projeto de vida a alimentar: "fecho os olhos e choro em silêncio sobre sua cabeça. Eu não posso deixar que morram os seus sonhos".
Em ambos está o sentido da esperança. No casal de idosos que perde o filho e lhe resta um vínculo com todos os seus projetos futuros que não sobreviveram a uma curva de estrada. Mas também o menino, com a certeza de que a utopia é pretensiosa, querendo mais do que de fato pode fazer, "embala" seu avô, sem saber que move uma réstia de vida e também alimenta a esperança.
É a isto que nos apegamos quando precisamos renovar nossa caminhada. Um final de ano e as expectativas que geramos ao proclamar nossas boas intenções - perder peso, deixar de fumar ou beber, arrumar emprego, continuar estudando... É quando se percebe que a esperança dá sentido à utopia. É uma questão de perspectiva - não é o que a gente faz, mas o jeito e a intenção com que se faz. Se não podemos mudar o mundo, talvez possamos apenas "embalá-lo".
O dia a dia nos chama para desafios nos espaços em que vivemos. Na religião, com o intuito de socializar nossos aprendizados de fé e a partilha do divino; na política, com a sempre sonhada prática do bem comum; na educação, com os sonhos de que todos ainda possam ter as mesmas chances e que a realização pessoal dependa não das muletas que são oferecidas, mas das opções de vida de cada um.
A utopia é pretenciosa. Serve de arrimo nos momentos mais difíceis: o fato de que não podemos concretizar alguma coisa neste momento não significa que sejamos incapazes de realizá-la, mas sim que ainda não amadurecemos o suficiente para fazê-la. Esperar também é um bom jeito de se aprender.
Festas de final de ano não são dias apropriados para se tomar grandes decisões. A meditação ajuda a focar na perspectiva necessária para que boas intenções sobrevivam durante o ano inteiro. Então, hoje, façamos um momento de encontro: "tim tim", um brinde à esperança!
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