Domingo pela manhã, próximo ao meio dia. Entre os inumeráveis canais da televisão a cabo nenhum programa que agrade. Vasculho a grade e caio nos canais abertos, onde a Rede Record transmite "Domingo Show", por Geraldo Luis. Uma cópia do estilo popular iniciado por Sílvio Santos e que encontra adeptos (com algumas variáveis mais sofisticadas ou mais escrachadas) em praticamente todos os canais.
Na tarefa de preparar o almoço vou pescando um elemento aqui, outro ali. Vejo uma imagem, escuto uma informação já na cozinha. Uma mistura de música sertaneja, dramas de famílias, pretensas denúncias sociais, um buffet de entretenimento. Lá pelas tantas, uma história chama a atenção: a caminhoneira Morgana, aposentada, que deixou Curitiba, depois da separação, e partiu para Navegantes (SC).
Passado um tempo, a pergunta: o que fazer? Resolveu trocar de carro e, na revenda, encontra uma van adaptada para viagens, com a estrutura de uma casa em miniatura. A intenção não era acampar pela costa litorânea ou pontos de turismo do interior, mas ir atrás de um sonho - levar comida, roupa, água e atendimento a mochileiros e famílias que perambulam pelas estradas, ou se abrigam às margens das rodovias!
Parei. O que contava tinha tudo a ver com experiências que ouço e vejo em Pelotas - sopão comunitário, por exemplo, feito por espíritas, católicos, evangélicos - onde a característica é uma: o outro precisa, saio da zona de conforto e vou fazer o possível para suprir a sua carência, independente do que ele seja e do estado em que está!
Muitas e muitas histórias. Pude, então, perceber que o ritmo devagar como são contadas é, também, para prender audiência. Mas, mais, uma forma didática de que repetindo elementos importantes as pessoas mais simples entendam a mensagem. Em sua van lotada de sacos de alimentos, roupas, água, elementos de primeiros socorros, lá vai a "andarilha do bem", como é identificado na lataria de seu transporte, mostrando no espaço na televisão o que muitas mulheres e muitos homens fazem em seus condomínios, ruas, vilas, cidades, no mais absoluto silêncio.
A história mais comovente foi a da menina que disse sonhar em ter um pacote de bolachas. Isto mesmo, apenas um pacote de bolachas! Na ocasião, a andarilha do bem não tinha, mas fez questão de voltar e trazer não um, mas muitos pacotes, além de roupa, outros alimentos e material escolar, pois a menina iria para a escola já no próximo ano. São muitas "morganas" pelo Mundo. Elas não chegam de vans, nem tem a cobertura da televisão. Mas dão lição na arte de conviver: ser feliz e fazer feliz depende apenas de pequenos gestos do bem!
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