No feriadão de Ano Novo, duas manifestações chamaram a atenção: emissora de rádio repetiu diversas vezes institucional sobre doação de órgãos e a mãe que revelou ter combinado com o filho a necessidade de estar alerta para o caso de um deles virem a morrer pela violência, devendo o outro se responsabilizar para que seus órgãos fossem utilizados para salvar outras vidas.
É bem difícil falar a respeito - alguns nem gostam de tocar no assunto - mas, da forma como estamos vivendo, a morte ainda jovem ou em idade adulta, sem atingir a velhice, é uma realidade. Quem quiser, bata na madeira, mas o certo é que a violência é um horizonte que não está distante de quem precisa sair às ruas: um assalto, uma indisposição por motivo fútil, um acidente de trânsito, um afogamento... e uma vida é ceifada.
Depois do choque, é necessário prevalecer o bom senso. E o bom senso, hoje, é de que uma vida apagada muitas vezes quando tanto ainda se esperava dela é a chance para que uma outra, duas ou muitas possam sobreviver ou melhorar sua qualidade de vida pelo transplante de um coração, fígado, pulmão, olhos...
O institucional de rádio focava em duas premissas: a voz de um pai, falando por uma filha; a voz de uma mãe, falando por um filho. No frigir dos ovos, sentido semelhante: "se me acontecer alguma coisa, meu pai (mãe) sabe o que fazer. Sou doador de órgãos. Conto tudo para ele(a). Embora meus amigos não acreditem". O estímulo é para que se converse em casa e que os filhos saibam que os pais são doadores. E que os pais saibam que os filhos também o são. Acontecendo o pior, que se atue com a rapidez necessária para cumprir a vontade de quem se foi.
A campanha se concretizou na voz da mãe que recebeu o corpo do filho de 19 anos, no Instituto Médico Legal, e resolveu fazer a sua parte: "a gente brincava muito. Mas nos últimos tempos sempre que havia uma chance ele falava a respeito. Guardamos como nosso segredo. Ele iria cumprir a minha vontade (sempre pensei que eu iria antes), também prometi que cumpriria a sua. Ele era festeiro. Não bebia, mas a noite era seu vício, nos finais de semana. Pegou uma carona com alguém que tinha bebido demais..."
Em tempos de tantos conflitos entre gerações, falar de vida e de morte pode ser um estímulo à cumplicidade entre pais e filhos. Neste caso, a frase que motiva a campanha que está nas emissoras de rádio faz todo o sentido. Tem momentos em que se espera que alguém próximo faça o que já não podemos fazer. Infelizmente, do jeito que nunca se deseja, embora se possa esperar: "se acontecer alguma coisa, minha mãe vai falar por mim!"
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