domingo, 12 de maio de 2024

Uma réstia do que seja a esperança...

Quando as águas bateram

Na soleira da tua porta,

Sentiste a dor de não saber a quem recorrer.

Tinhas horizontes devastados

E o medo de pedir por um pouco de solidariedade.

 

Fizeste a peregrinação de quem

Deixou a casa

Pelas águas turvas e mal cheirosas.

Não há mais leito na rua,

Segues com aqueles que

Abandonaram o pouco que tinham,

Na luta desesperada pela vida.

 

Foram mãos de anjos

Que te levaram a um lugar seguro.

Anestesiado pelo sofrimento,

Precisas encontrar sentido em não desistir.

Pouco te restou do que era material

E o que chamam de dignidade

É um luxo que a sociedade não te alcançou.

 

Balbucias uma prece para não perder a fé.

Onde pisaram os teus pés?

Quando olhas para tuas mão e

Sentes o teu corpo cansado,

És a imagem viva da angústia de

Não saber por onde andaram.

 

Foram os momentos em que,

Ao levantar os braços para fora da correnteza,

Sentiste que outros,

Iguais aos teus, também se erguiam.

Não desistir, continuar andando,

Tentando manter

Uma réstia do que seja a esperança.

É preciso continuar olhando para os céus,

Rezando pelo Sol, que insiste em não voltar...

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