terça-feira, 14 de maio de 2024

Não se pode reclamar: fomos avisados...

 A catástrofe que se abateu sobre o Rio Grande do Sul era uma desgraça anunciada. Os avisos se sucederam e, o maior deles, veio em setembro do ano passado. Infelizmente, a perda de patrimônio e de vidas não acelerou a máquina administrativa que continuou empurrando as soluções com a barriga. Medidas que se tornaram pífias ou ações tímidas, quando não beiram o descaso. Em uma reunião, presidente, governador, líderes da câmara e do senado disseram que não é a hora de procurar culpados...

Nenhum deles deixou o cômodo dos helicópteros e aviões públicos (pagos com o seu e o meu dinheiro) e, sequer, abriu mão do pagamento de diárias ou de um mês de salário, em benefício dos flagelados, para fazer o “turismo da desgraça”. Sobrevoaram áreas alagadas, sem o desprazer de andar por ruas com água pela cintura ou entrar em casas destruídas e encontrar móveis e utensílios arrastados pela correnteza. Ali, literalmente, um pouco da história de cada um - e de suas comunidades - estava sendo jogado no lixo.

Imagens das casas desabando ou sendo levadas pela correnteza, móveis e utensílios boiando nas águas é o resultado do rio que fugiu ao seu leito e invadiu áreas de ocupação irregular, seja por teimosia de moradores ou omissão de autoridades que fecharam os olhos para habitações irregulares. Infelizmente, ainda não aprendemos: somos interdependentes no que se refere ao meio ambiente e o habitat do homem. Pois, sempre que acontecem, as desgraças climáticas têm um efeito dominó.

Na natureza, não existem castigos dos Céus, mas consequências do que o próprio ser humano provocou. Os rios apenas pedem passagem como consequência dos fenômenos naturais. O excesso de águas ou o seu assoreamento faz com que saia do seu leito e cause os transtornos que são sentidos. Vale a pena lembrar que, na década de 70, já se ouvia falar a respeito dos “ecochatos” (os ambientalistas), num tom de zombaria e de acusação, pois atrapalhavam o desenvolvimento do “Brasil que vai pra frente”.

Época dos governos militares e de um ufanismo em que o progresso era razão de ser das administrações, sem medir consequências. Os “ecochatos” mostraram-se profetas de males não tão distantes. Embora as belezas naturais, o Brasil é um país marcado por feridas ambientais. Em um tempo onde já existem tecnologias para manter cidades abaixo do nível do mar, não se pode reclamar: fomos avisados. Faltaram investimento e vontade política na prevenção e cuidado com um bem elementar: a própria vida!

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