Vieste da lavoura,
Com muito trabalho no cabo da
enxada.
Formaram-se sulcos
Que foram registros em teus dedos,
por toda a vida.
Depois, o tempo das costuras.
Sentada à máquina ias compondo
peças de roupas
Que vestiam a família e muitos dos
teus vizinhos.
Ainda encontravas tempo para
tricotar.
No manejo das agulhas e das lãs
Apareciam meias, blusas, mantas,
cobertas
Que aconchegavam no frio.
Já aposentada,
Descobriste os cadernos de desenhos
E os lápis com que harmonizavas as
cores,
Vislumbrando o encanto de brincar
com o arco-íris.
Muitas tardes, reservaste
Um tempo para fugir do agito de
cuidar dos outros,
Mergulhando no teu próprio mundo,
Onde a serenidade transbordava por
teu sorriso
E o olhar se perdia por lugares
Que somente tu sabias o caminho,
Levada pelas cores que te
seduziram.
Veio a etapa da vida
Em que o brilho dos teus olhos
Foi-se perdendo.
Quando as linhas dos teus desenhos
Deixaram de ser o limite para as
cores.
Eram um borrão com
O sentido que apenas tu conhecias.
Algumas vezes lágrimas silenciosas
Rolaram por teu rosto.
Viajavas para o início da longa
estrada
Em que se transformou a tua vida.
A última vez em que olhaste pela
janela
A plantação que chegava ao teu
quintal.
O lugar onde deixaste teu primeiro
filho,
A longa jornada em que aceitaste
O desafio de ir ao encontro de
Um novo destino.
Hoje, completarias 98 anos...
Saudades, mãe!
Quando partias,
Teus olhos abriram mão das
palavras.
Quem sabe ainda pensavas nas cores
Com as quais aprendeste a lidar.
E que o tempo te deu o direito
De transgredir a fronteira das
linhas
Para transbordar os teus sonhos.
Uma história que os desenhos
inspiraram
E te deram o direito de partir
E, finalmente, repousar em paz!
Um comentário:
Vim te paranbenizar e encontrei uma bela página! Esses versos de saudade para a mãe são um primor de sensibilidade, meus cumprimentos! Estou orgulhosa do meu ex-aluno. E desejo que fiques bem! Um abraço da Beatriz
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