domingo, 31 de julho de 2022

Um pedaço de bolo para Francisco

A semana foi marcada pelo dia dos avós, 26 de julho, quando se acompanhou muitas e lindas mensagens de lembranças e de carinho. O papa Francisco, em viagem pelo Canadá, que chamou de "peregrinação penitencial", teve momento para celebrar os pais de Nossa Senhora, São Joaquim e Santa Ana. Alertou para "a importância de preservar a memória dos que nos precederam". Falando dos idosos (e não tão idosos assim) que já têm a graça de serem avós, reiterou a importância da sua "ternura e sabedoria".

Nas mensagens dos não tão jovens (também não muito velhos) membros do Grupo de Jovens em Busca de Um Novo Sol – os GEBUNS – brinquei que estava gostando das mensagens aos avôs e avós, mas que também, como no meu caso, podiam lembrar dos “tios-avôs” e, tenho certeza, de muitas “tias-avós”. Foram poucos consolos e eu passei a sentir que fazemos parte de uma categoria menor e menos valorizada. Mas, na relação das lembranças afetivas das nossas sempre “crianças”, não menos importantes.

Dia dos avôs e avós era data reservada para um bolinho de padaria no lanche da tardinha, quando estava presente boa parte da família. Ao sair para as compras, recebia o alerta da mãe: “traz qualquer coisa, alguns salgadinhos, mas não esquece do bolo de aipim com coco!” Não, não tinha como esquecer da especiaria que fez parte dos cafés de muitas tardes na minha casa, assim como continuou presente nos últimos dias da sua vida, com o gosto agradável da mistura se desmanchando devagarinho na boca...

Infelizmente, pouco convivi com meus avôs e avós, tanto paternos quanto maternos. Mas fui privilegiado em privar da relação do meu pai e da minha mãe com seus netos. Meu pai, especialmente, era um caso raro de elemento agregador. Para onde fosse um filho, por onde andasse um neto, em algum momento, fazia a sua mala e tomava o rumo da estrada. Nos finais de semana, fazia questão de reunir toda a família que ainda residia por aqui. Não era de muitas palavras, nem de muitos conselhos, mas sabia ser presença.

Da viagem do papa, que tem cara de avô daqueles que são “cumplices” dos netos, vejo que não desiste da humanidade, que também se parece com os “filhos dos filhos” que ouvem muitos e bons conselhos, mas, na maior parte das vezes, entram por um ouvido e saem pelo outro. Imaginei meus pais recebendo com muito carinho o velhinho que hoje é um peregrino da paz e do bem. Não resistiriam em mostrar o pátio e reclamar que nestes tempos de umidade as lesmas estão fazendo parceria e comendo as plantas...

Depois, sentariam na sala. Seu prato seria servido com uma generosa fatia de bolo, daquelas que o visitante pode até não querer, mas tem vergonha de se negar a comer. Além do aroma da gostosura novinha e, muitas vezes, ainda quente, acompanhava o perfume de um café passado. Sorririam, contariam causos e eu me quedaria em silêncio bebendo do seu carinho e da sua sabedoria... Sentindo que não era apenas o que diziam, mas a sua história me deixando marcas que seriam referência para toda a minha vida...

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