Desde que a capital do Brasil deixou o Rio e migrou para o centro do país, cunhou-se a expressão que diz muito da realidade que se vive hoje: Brasília é a “ilha da fantasia”. Sem querer ofender os personagens, senhor Roarke e o pequeno Tattoo, do seriado que leva o mesmo nome, do final da década de 70. O que se ouviu no Senado Federal para justificar a “PEC do desespero”, demonstra uma duvidosa “razão” e o quanto a classe dos políticos tem pouca sensibilidade para com a realidade em que vive o brasileiro.
Com a corda no pescoço pela incompetência política e
administrativa, o Senado dobrou-se ao governo federal e aprovou medida
classificada pelo ministro Paulo Guedes como “kamikaze”. Uma série de
benemerências que poderiam ter sido feitas na medida em que os problemas foram
aparecendo. Mas, então, com a pouca memória do brasileiro, não teriam o efeito
de serem realizadas às portas das eleições. Já tisnada pela fumaça, a oposição,
simplesmente, lavou as mãos com o argumento da “necessidade iminente”.
Não há dúvidas. Meios de comunicação denunciam todos
os dias problemas sociais que se agravam: como é possível dormir tranquilo
quando se sabe que um em cada quatro brasileiros tem problemas para colocar
refeição decente na mesa da família? Muitos vivem de forma precária em favelas,
cortiços, cantos e recantos distanciados dos benefícios das políticas urbanas. O
homem e a mulher das vilas sofrem, assim como é sobre quem recaem as suspeitas
da violência que entranha como câncer o tecido social.
O que faziam os senhores senadores – e o que farão os
senhores deputado? Homens e mulheres que, despudoradamente, fazem sofismas para
explicar o inexplicável. Todos os discursos eleitorais perdem sentido quando,
na prática, precisam fazer as negociações que julgam necessárias para manter
seus redutos e seus “empregos”. Da forma como está engessada a estrutura
política/funcional da representação legislativa e executiva (sem falar do
judiciário), pouco ou nada o cidadão consegue fazer para mudar.
Na Bienal do Livro, iniciada em São Paulo, muitos
autores falaram da necessidade da leitura para consciência social. Sendo
repetitivo: mudanças políticas não se fazem sem educação. O que se vê, mesmo
nas recentes “medidas de bondade”, é o assistencialismo que passa longe dos
bancos escolares e do processo que pode fazer a diferença. Manter cidadãos a
cabresto é o jeito para que ouvindo não entendam e acreditem nos discursos
bombados e inflamados, vazios da elementar substância que revigora a cidadania.
O filósofo Leandro Karnal diz que “democracia não é o
paraíso. Mas consegue garantir que a gente não chegue ao inferno”. De fato, dos
regimes que se conhecem até hoje é a forma que se mostra mais adequada para o
convívio social. Perspectiva que precisa ser alcançada com muito trabalho. Os
produtos do marketing que agora se apresentam como candidatos nas próximas
eleições deveriam ouvir Nelson Mandela: “democracia com fome, sem educação e
saúde para a maioria é (apenas) uma concha vazia...”
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