sexta-feira, 15 de julho de 2022

A loucura de sonhar

Não te importa se me encontrares sorrindo à toa pela rua.

Não fica preocupado se meu olhar estiver perdido em algum lugar do passado.

Não te angustia se me ouvires falando sozinho,

Falo com os meus fantasmas ou apenas um tardio reencontro.

É o meu jeito de envelhecer com o direito de retomar aquilo que perdi pelo caminho...

 

Já fiz tanta coisa pensando em agradar a outros:

Fui me enquadrado socialmente

E, com o tempo,

Esqueci a minha identidade,

Perdi a rebeldia em que a juventude me incentivava a discordar.

Mudei até as roupas que vestia,

O tempo que gastava comigo e com meus amigos,

Tornei-me um modelo de adulto de que sempre duvidei que valesse a pena.

 

Não quero mais participar das rodas de pessoas crescidas,

Não quero mais falar coisas sérias,

Não quero o engessamento dos modos e trejeitos

Que são a armadura que me afasta

E me mantém isolado dos outros...

 

Quero a loucura das pessoas que conseguem negar a realidade,

Quero me embebedar com o sorriso e o riso de uma criança,

Quero o suspiro do idoso que anseia por um abraço.

 

O que entendes ser a minha senilidade é apenas

A forma de fugir do mundo que me agride

Para um outro, que pensas ser imaginário, mas que me acolhe.

Minha loucura é mansa e tranquila.

Sei que já faço confusão e quando falo

Das minhas memórias afetivas, muitas vezes,

As confundo com meus sonhos e ideais.

Não tem importância, já aprendi que a verdade

Cabe perfeitamente dentro da minha imaginação.

 

Eu não quero a lucidez dos homens sérios.

Eu não quero a religiosidade de quem negocia com Deus.

Eu não quero um humanismo que dispensa o próprio homem...

Se possível, quero o sono dos justos,

Quero o sonho da ousadia,

Quero a lágrima que derramo enquanto durmo.

 

Desejo o direito de envelhecer com minhas marcas,

Aquelas que alquebraram meu corpo

E as que pensaram dobrar o meu espírito.

Almejo a paz que reguei e que, agora,

Já posso descansar à sua sombra

E colher do seu próprio fruto!

Nenhum comentário: