Não te importa se me encontrares sorrindo à toa pela rua.
Não fica preocupado se
meu olhar estiver perdido em algum lugar do passado.
Não te angustia se me
ouvires falando sozinho,
Falo com os meus
fantasmas ou apenas um tardio reencontro.
É o meu jeito de
envelhecer com o direito de retomar aquilo que perdi pelo caminho...
Já fiz tanta coisa
pensando em agradar a outros:
Fui me enquadrado
socialmente
E, com o tempo,
Esqueci a minha
identidade,
Perdi a rebeldia em que a
juventude me incentivava a discordar.
Mudei até as roupas que
vestia,
O tempo que gastava
comigo e com meus amigos,
Tornei-me um modelo de
adulto de que sempre duvidei que valesse a pena.
Não quero mais participar
das rodas de pessoas crescidas,
Não quero mais falar
coisas sérias,
Não quero o engessamento
dos modos e trejeitos
Que são a armadura que me
afasta
E me mantém isolado dos outros...
Quero a loucura das
pessoas que conseguem negar a realidade,
Quero me embebedar com o
sorriso e o riso de uma criança,
Quero o suspiro do idoso
que anseia por um abraço.
O que entendes ser a
minha senilidade é apenas
A forma de fugir do mundo
que me agride
Para um outro, que pensas
ser imaginário, mas que me acolhe.
Minha loucura é mansa e
tranquila.
Sei que já faço confusão
e quando falo
Das minhas memórias
afetivas, muitas vezes,
As confundo com meus
sonhos e ideais.
Não tem importância, já
aprendi que a verdade
Cabe perfeitamente dentro
da minha imaginação.
Eu não quero a lucidez
dos homens sérios.
Eu não quero a
religiosidade de quem negocia com Deus.
Eu não quero um humanismo
que dispensa o próprio homem...
Se possível, quero o sono
dos justos,
Quero o sonho da ousadia,
Quero a lágrima que derramo
enquanto durmo.
Desejo o direito de
envelhecer com minhas marcas,
Aquelas que alquebraram
meu corpo
E as que pensaram dobrar
o meu espírito.
Almejo a paz que reguei e
que, agora,
Já posso descansar à sua
sombra
E colher do seu próprio
fruto!
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