Na semana passada, quem circulava pela PUC, em Porto Alegre, foi surpreendido por um forte e carinhoso abraço de criança. Alunos do 1º ano do Ensino Fundamental do Colégio Marista Champagnat tiveram uma aula prática de gentileza, com a professora Clarissa Petersen. Voltaram de um período de isolamento causado pela pandemia e foram estimulados a praticar ações em que demonstrassem generosidade. A brincadeira entre eles é de que, quando um sai da linha, o outro alerta: “olha a gentileza”.
Li o texto onde o colunista Nilson Souza falou a respeito,
com o título de “Abraços e livros”, no jornal Zero Hora. A vinculação com o
livro é porque o escritor pesquisou e encontrou o fundamento pedagógico da
professora na obra “Gentileza”, de Alison Green. Educadora americana que teve
títulos sugestivos como “Um mundo melhor”, em Portugal, e “Amables”, na
Espanha. Há um tripé básico na formação das crianças que sustenta seus valores
e referências por toda a vida: a generosidade, a amizade e o afeto.
Conviver não precisa ser complicado. Elenca receitas básicas
para relacionamentos que sejam maduros emocionalmente: “ouvir com atenção a
outra pessoa, segurar a mão de quem se sente assustado ou desprotegido, contar
uma história para animar, incluir e cuidar, deixar passar na frente, ajudar,
ser solidário, distribuir abraços...” Se existe um receituário para auxiliar a
melhorar o Mundo, tenho certeza de que inicia por coisas que podem parecer
banais, mas que estão na essência do dia a dia, da própria vida.
Não pude deixar de lembrar do vídeo em que uma criança
está numa celebração religiosa e, quando as pessoas se deslocam para receber a
Eucaristia, sobe na ponta de um banco e as abraça. Os olhares são de surpresa,
seguidos de sorrisos e retribuição pelo carinho. Meninos e meninas, homens e
mulheres, idosos e idosas recebem o seu quinhão de afetividade num momento inesperado.
Se encaminham para um momento importante da Missa ou do Culto e tem o coração
acarinhado por um pequeno anjo.
Ou das crianças com Síndrome de Down que iniciaram uma
corrida. Quando uma delas tropeçou e caiu, a mais próxima ficou para trás para
ajudá-la e, na medida em que as outras também se davam conta, voltaram e
cercaram aquela que estava no chão. Foi o tempo suficiente de erguê-la e não
tiveram dúvida: dois a amparavam enquanto as demais formavam uma linha e assim
chegaram ao final da prova. Não houve um vencedor, venceram todos,
especialmente pela lição de solidariedade que deram.
A gente podia aprender com as crianças. Atentados à
vida cometidos por motivações supostamente políticas é exatamente o contrário:
a falta da capacidade de empatia, o sentimento de gentileza que deve ser o
algodão entre os cristais, nas relações humanas. Neste tempo em que se estimula
a violência através de gestos como “arminhas”, dou razão ao Nilson Souza quando
termina seu texto num alerta que todos nós deveríamos endossar: “O mundo só
será melhor com mais bibliotecas e menos clubes de tiros.”
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