Ontem, passei a tarde na Santa Casa, com a dona França (minha mãe). Depois deste andaço de diarreia, coitada passa o tempo dormindo. Para esperar a hora da cuidadora da noite, é ler jornal, um bom livro e conversar com a cuidadora da outra paciente, com seus 91 anos, mas ainda lépida e fagueira, apesar dos seus 91 anos.
Infelizmente, surda, depende da filha para repetir o que lhe é dito, quando se está longe. Figuraça, num primeiro momento, perguntou se eu era o marido da paciente. Pedi que a filha repetisse que a paciente era uma rica fazendeira e que eu a explorava. Ficou com olhos bem abertos me olhando, até que se disse que era brincadeira.
Depois, quando outras duas filhas chegaram, fez um relatório do que tinha acontecido: "a mulher da outra cama fica só dormindo e o homem só lendo". Novas risadas e a cumplicidade das três filhas para situá-la no hospital, já que, em casa, não admite que ela vá dormir por primeiro: tem que passar por todos os quartos e encontrar a luz apagada. Só então, missão cumprida, vai dormir.
No nosso caso, hoje, dia de exames, mas já reidratada, dona França apresenta um quadro melhor. Ontem à noite, quando conversava com minha irmã, a Leonice, e o Roberto, meu cunhado, nos dávamos conta de que em tempos assim não há como fazer longos planejamentos, é viver o hoje e torcer para que o vivamos com intensidade pequenos momentos de felicidade.
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