O titulo era para ser saboreado como se poesia fosse: “Pequena alma terna flutuante”. A história de um homem que colocou nas pedras o grande sentido da sua vida, reconhecendo que esta sua relação apaixonada com a natureza – “o rio salvou minha vida” – não permitiu que o menino que iniciou sua história o abandonasse.
O programa de um canal de televisão - Histórias curtas - trouxe a vida do escultor Bez Batti, 70 anos, que vive no interior de Bento Gonçalves (RS) e tem paixão por pedras de basalto. Lá pelas tantas, diz que a vida inteira correu contra a correnteza, pois o tempo passa muito rápido. Mas o que importa é que, em momento algum, perdeu a sensibilidade de menino, da criança que podia ver para além daquela forma que a natureza lhe deu, aquilo que a mão do homem poderia criar.
Lembrei do texto de Rubem Alves – Educar – em que ele diz: “Educar é mostrar a vida a quem ainda não a viu. O educador diz: “veja!” – e, ao falar, aponta. O aluno olha na direção apontada e vê o que nunca viu. Seu mundo se expande. Ele fica mais rico interiormente”. O educador fala em “encantar o olhar”, pois o olhar de aprendizado é o olhar de surpresa diante daquilo que se está desvelando. Quem retira uma forma de uma pedra, faz o mesmo de quem garimpa, diariamente, as condições do ensino. È preciso, todos os dias, apontar e fazer com que o mundo daqueles com os quais a gente convive se expanda.
O jeito de quem saiu do interior para mostrar suas pedras transformadas em arte nos principais museus do mundo, mas quer voltar sempre para a sua terra, é o mesmo jeito de quem é um andarilho do Mundo, na busca de realização pessoal. Também daqueles que apontam caminhos, mas que – sempre - querem voltar ao porto seguro da sua terra, do seu canto, onde o convívio, o fazer do dia a dia, servem de alimento para novas jornadas. Esculpir uma pedra - ou auxiliar alguém a esculpir a própria vida - faz parte daquele milagre especial que, todos os dias, encantam nossos olhos e nos surpreendem diante da beleza que é existir.
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