Uma discussão sempre difícil diz respeito à doação de órgãos. Segui o exemplo do meu pai, que foi um dos primeiros a registrar na carteira de identidade que era doador. Infelizmente, pelo avançado da idade e da doença, não podia se aproveitar os seus órgãos. Também tenho em minha carteira o selo da ADOTE, uma organização de Pelotas para o Mundo em defesa de que não se perca a possibilidade da vida continuar numa outra pessoa.
Mas a conversa em um grupo era a respeito de um rapaz conhecido que sofreu um acidente de moto e que estava em morte cerebral. Se não seria o caso de se alertar para a possibilidade de doação. Uma pessoa, em seguida, disse que não queria ver seus órgãos doados. Mas, refletindo, afirmou que se fosse para auxiliar alguém próximo até que não se oporia, como tem acontecido de familiares doarem um rim e continuarem sua vida normal, também permitido a quem recebeu uma nova vida.
Creio que o mais difícil deste momento é exatamente isto: o momento. Embora todas as crenças e lendas, a maior parte da população já tem alguma consciência do bem que uma doação pode fazer. Acontece que o momento tem todo um significado emocional, difícil de ser superado. Ver um pai ou uma mãe enterrar um filho é contrário à natureza, portanto compreensível que estejam aturdidos, desorientados e incapazes de tomar uma decisão.
Creio que, mais do que os técnicos da área médica, aí está o momento dos familiares e amigos assumirem a dura missão de convencer da doação. Assistindo às matérias que tentam motivar para que isto ocorra, a impressão que fica é de que aquele que aguarda vive em constante agonia, somente querendo o direito de viver a própria vida, desligado de máquinas ou de tratamentos mais prolongados. Quer ver, no horizonte, apenas a esperança de voltar à sua rotina de vida, com um órgão que, de outra forma, será desperdiçado e seguirá o princípio bíblico: "voltarás ao pó". Talvez a própria Bíblia reescrevesse este princípio, de um novo jeito e num novo tempo, defendendo a doação de órgãos: "voltarás a viver!"
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