Três são, normalmente, os assuntos de que trato em meus artigos: educação, religião e idosos. Minhas recentes férias foram exatamente para acompanhar meus pais, já com 85 anos, que estão, agora, já não brigando com os medicamentos, mas com o calor excessivo que dificulta praticamente tudo. As conversas, obviamente, tratam de saúde, receitas, pacientes e, em extremo, daqueles que já partiram.
Histórias não faltam, a respeito de tratamentos, mas também dos que acompanham e, querendo ou não, enfrentam uma experiência que desnuda preconceitos e redireciona conceitos e convicções. Não se sai impune de um tratamento, pois, além do aprendizado das receitas e das malandragens dos pacientes, há momentos em que o melhor remédio é um olhar prolongado, uma palavra amiga, ou o carinho de um afago ou de um beijo.
São casos difíceis, mas me chamou a atenção o que contou uma amiga, segunda a qual todos os filhos trabalham e, um dia, quando voltou para casa, a mãe disse que gostaria de pagar um salário para que um dos filhos pudesse lhe fazer companhia! Doeu profundamente pensar que a mãe, para quem julgavam dar toda a atenção possível, se sentia sozinha e fragilizada, pois não tinha mais tempo com um dos filhos!
Não discuto a questão dos filhos que optam pelo tratamento em clínicas geriátricas. Mas não concordo. A única exceção é dos casos em que a demência atingiu um patamar irreversível e a pessoa não reconhece mais seus entes queridos. Nos demais, apenas atendemos aos chamados de uma sociedade do prazer, que nos diz que o idoso atrapalha e não nos permite deter todo o tempo que gostaríamos para nós mesmos.
Brinquei, em muitas palestras, que eu era um “explorador da terceira idade”, pois me aproveitava da convivência com meus pais. No entanto, a experiência dos últimos anos é que, embora tenha tido que abrir mão de muitas coisas, não trocaria pelo tempo que passei com eles! Não sou o filho perfeito, mas quero que, quando partirem, seja serenamente e que eu possa pensar: fizemos o possível! Meu tempo foi bem empregado e resta uma vida a ser vivida com o sentimento do dever cumprido.
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