sexta-feira, 11 de abril de 2025

O amor que não se grita…

As carências são sempre frustrações que 

Sentimos ao faltar alguém que nos proteja.

Quando crianças, a segurança está em

Erguer os olhos e encontrar com os da mãe;

Na maturidade, a descoberta e o

Encontro de uma amizade ou parceria de vida;

Na velhice, a carência das carências,

Ansiar pelas mãos estendidas por quem bebeu

Conosco da mesma fonte do amor...

 

Como o sonho da borboleta

Que se plenifica de luz enquanto eclode o casulo,

Tentando compreender porque se desvencilhar

Do que é proteção para alçar voo pelos jardins.

Flutuar não é apenas e tão somente um instinto,

Mas a necessidade de alcançar novos horizontes.

O que satisfazia no que foi abrigo,

Se transforma em expectativa,

Num tempo em que mudança e transformação

Giram a roda da vida e aceleram a emoção.

 

Deixar o aconchego da primeira morada

Não é mergulhar no caos.

Pode ser a harmonia do que ainda não se compreende.

Encantado pela canção que teima em ficar na memória,

No abraço pelo qual se suspira,

No aspirar por novas cores e formas.

A sinfonia dos sentidos que se harmonizam,

Intuindo a própria partitura.

A certeza de que o amor não precisa ser gritado,

Apenas penetrar pelos sentidos e

Concretizar a metamorfose dos sentimentos…


quarta-feira, 9 de abril de 2025

Porque a gente nunca fica sozinho…

 

Semeando 2025

Semeando é um trabalho da Pastoral da Juventude da diocese de Bagé. Foi lá que fiz uma das mais belas experiências em trabalhar com jovens e seus assessores. Nesta terra acolhedora encontrei muitos irmãos de fé e alguns “netos de coração”! 


Os corredores estão vazios.

Por onde transitavam jovens e adultos,

Apenas o silêncio da saudade se faz presente.

O vento que bate uma porta,

A coruja, o sapo e o grilo

Que silenciaram na noite em que os jovens

Brincaram pelo pátio até a madrugada e

Viram aprontar as malas,

Dar muitos abraços e partirem.…

 

Nos espaços transformados

Num grande aconchego, um imenso colo,

Ficou o sentimento da espera.

Toda a chegada já sinaliza uma partida.

Ainda mais quando vêm

Em busca da energia necessária

Para serem presença diferenciada

Na sociedade, na família e nos seus grupos.

 

Ainda vamos nos reencontrar…

Interagir pelas redes sociais é o alimento

Que sinaliza possibilidades.

Ali adiante, depois que vivenciarem

A realidade dos seus mundos,

Vão retornar para que se possa

Sorrir, aconchegar num carinho,

Dar uma palavra de estímulo.

A certeza de que a razão do reencontro 

É Aquele que dá sentido à existência:

O Amigo que transborda seu coração

Para dizer que, em momento algum,

Vai nos deixar sozinhos!

terça-feira, 8 de abril de 2025

Campanha da Fraternidade: Ecologia e mudanças climáticas

A Campanha da Fraternidade é desenvolvida, anualmente, pela igreja Católica. Nesta Quaresma, Aborda o tema “Fraternidade e Ecologia Integral”. Com o lema “Deus viu que tudo era muito bom”. Realizada de forma ecumênica, tem o apoio de outros credos religiosos, com momentos marcantes entre a Quarta-feira de Cinzas e a Páscoa para promover a solidariedade e encontrar soluções para problemas sociais. Baseia-se na encíclica do papa Francisco, Laudato Si (Louvado Sejas), destacando o cuidado com a casa comum, em especial o desperdício.

A igreja Católica tratar do meio ambiente e justiça social não é novidade. Muitas ações são realizadas neste período pelas dioceses para conscientizar seus adeptos, assim como simpatizantes. Um momento marcante aconteceu com a 47⁠ª Romaria da Terra, em Arroio do Meio, no vale do Taquari, com o tema “Reconstruir e cuidar da Casa Comum com fé, esperança e solidariedade”. A região foi das mais afetadas pelos desastres climáticos de maio do ano passado, que deixou o bairro Navegantes completamente arruinado. Romeiros celebraram a fé percorrendo ruas destruídas, vendo os estragos nas casas e equipamentos comunitários.

Muitos dos pontos anunciados no texto base da Campanha da Fraternidade têm a ver com educação. Em especial, a educação social e comunitária. Citando: “a importância de cuidar da Casa Comum; iniciativas inspiradas na Ecologia Integral; a conversão pessoal, comunitária e social; interligação entre as crises ambientais e sociais; o conceito de justiça socioambiental; a busca por um caminho de fé, ação e esperança; formas menos produtivistas de organização do trabalho e do tempo do trabalho; desacelerar o modelo desenvolvimentista, rever o modelo de progresso e desenvolvimento.”

Depois de muitos alertas, hoje, começa a tomar forma uma consciência social sobre as mudanças climáticas, o que a igreja chama de “conversão ecológica”. A intensificação dos períodos chuvosos e dos períodos de seca, tornaram difícil não perceber que a ação do homem transtornou a “casa comum, a criação divina”, da qual deveria cuidar. O sentimento é de que não se pode deixar para os nossos filhos os problemas que herdamos de nossos pais. Rezando para que ainda seja tempo de fazer as muitas e dolorosas mudanças necessárias….


domingo, 6 de abril de 2025

Simplesmente assim: Esquecimentos

E se amanhã meus óculos não estiverem no lugar?

Pouco vejo sem eles.

Aliás, minha miopia já transbordou dos olhos

E disseminou-se por outras partes do corpo:

Minhas mãos não alcançam o carinho que desejei;

Meus braços não enlaçam quem amei;

Sinto falta do cheiro das pessoas e dos lugares onde vivi;

Meu andar não tem a alegria da partilha de um mesmo caminho...

 

O esquecimento do que utilizo não é importante.

Apenas reflexo do acúmulo de lembranças que deveriam

Ter sido arquivadas no lugar que se chama "saudade".

Onde os mais jovens custam a chegar

E os mais velhos têm medo de perdê-las.

A concha, na cozinha; a caneta, na mesa de trabalho,

A cadeira de balanço e o ringir da porta na varanda.

Perdidos para, em algum momento, serem reencontrados.

As memórias armazenadas na saudade

Têm o gosto das coisas inspiradas pelo coração.


sábado, 5 de abril de 2025

Não ponha um ponto onde Deus pôs uma vírgula

O livro "Não ponha um ponto onde Deus pôs uma vírgula", de Shiva Ryu, se enquadra no gênero de autoajuda e espiritualidade. Oferece histórias de sabedoria e inspiração, convidando o leitor a refletir sobre a vida, a beleza e a importância de abrir o coração para novas perspectivas. Comecei a ler obras desta vertente coreana a partir do ano passado. Já incluindo: “Quando as coisas não saem como você espera” e “Amor pelas coisas imperfeitas”.

Ensina que muitas vezes nos deparamos com situações que interpretamos como finais absolutos. No entanto, mostra que, com a perspectiva correta, pode-se transformar esses momentos em oportunidades de crescimento e aprendizado.

Convida a abrir o coração, aceitar as dificuldades e desfrutar a beleza da vida. Recomendado para quem busca inspiração e transformação pessoal em momentos de crise ou mudança. Ideal para enfrentar desafios emocionais, profissionais ou espirituais. A obra oferece uma perspectiva renovadora sobre a continuidade da vida e a superação de obstáculos, valiosa para aqueles interessados em desenvolvimento pessoal, espiritualidade e autoconhecimento, pois propõe reflexões profundas sobre o significado das dificuldades enfrentadas e como elas podem ser o impulso para novos recomeços.

Através de histórias inspiradoras, a possibilidade de ver como a vida é cheia de beleza e sabedoria e que basta uma mudança de perspectiva para que se encontre o caminho para a realização. (Pesquisa com a i.a. Gemini)


sexta-feira, 4 de abril de 2025

As nuvens que vão passando…

Não muda.

Pouco importa o que os outros te digam.

Almejas viver livre, ao menos em espírito.

Queres um lugar ao sol durante o dia

E onde contemplar a lua e as estrelas à noite.

Quando disserem que não atendes expectativas,

Entrega teu olhar com um sorriso zombeteiro

E te dá o direito de andar por uma rua qualquer,

Sem escolhas, sem rumo.


Enterra as mãos nos bolsos,

E quando ergueres os olhos,

Chutando uma pedra na calçada,

Sentirás o doce sabor de não fazer nada.

Quando implicarem contigo,

Dizendo que és um sonhador,

Vivendo no mundo da lua,

Não perde tempo tentando explicar.

Ser sonhador e viver livre é o privilégio dado

Àqueles que não abrem mão de seus sonhos.

 

As lembranças guardadas com carinho

Duram por toda uma vida.

E a maior prova de amor é estar em silêncio

Diante da dor de quem se ama,

Com os braços e o peito prontos

Para drenar amarguras e dissabores.

Não te preocupa se queres deitar na grama

E somente ver as nuvens que vão passando.

Ignorar o tempo não é abrir mão de vivências.

É acreditar que um instante

Pode conter sementes de Eternidade…


terça-feira, 1 de abril de 2025

Orgulho de ser brasileiro

Estou atrasado em comentar o filme “Ainda estou aqui”, indicado como melhor filme, melhor filme estrangeiro e Fernanda Torres como a melhor atriz, no Oscar da Academia de Hollywood. Eram grandes as possibilidades. O cinema brasileiro nunca esteve tão em destaque com um filme/denúncia sobre um momento ainda tão mal contado da história do nosso país. A Academia agraciou a produção como melhor filme estrangeiro. O primeiro filme a alcançar tal reconhecimento na maior premiação internacional.

A indicação mobilizou parcela dos brasileiros como se fosse uma partida de futebol em jogo de final da copa do Mundo. Para uma população mergulhada na indiferença, diante desta dicotomia besta que se instalou no país, foi uma lufada de bons ares. Os integrantes da Academia reconheceram que o Brasil deixou sua marca ao impulsionar a atenção dada pelas redes sociais. Jornalistas viraram tietes e contam que estavam trabalhando e ouviam pessoas de outros países gritarem que estavam torcendo pelo Brasil.

Poucas vezes se viu tanto entusiasmo como quando atuavam Pelé, no futebol, e Ayrton Senna, correndo na Fórmula 1, por exemplo. Fernanda Torres brincou que faltava virar fantasia de Carnaval ou boneco nos blocos de Olinda e Recife. Não falta mais. Pelo Carnaval do Brasil, a presença de bonecos e de máscaras da personagem emblemática. Na pele de Eunice Paiva, esposa do ex-deputado Rubens Paiva (vivido por Selton Mello), desaparecido no regime militar, marcada pela força e de nunca desistir. 

Adaptando o livro do filho, Marcelo Rubens Paiva, Walter Salles colocou em cena duas das maiores atrizes das artes cênicas: a própria Fernanda Torres e sua mãe, Fernanda Montenegro. Esta última a precursora, pois também foi responsável por outra indicação ao Oscar com o filme Central do Brasil. Em seguida também chega ao streaming, passando diretamente em nossas casas. Mas, quem puder, sugiro que vá ao cinema assistir. A sala grande e a telona ainda tem um charme especial para quem gosta da sétima arte…

Somos brasileiros e são estes momentos que não nos deixam desistir. Quem foi ao cinema ficou impactado pela protagonista vivida por Fernanda Torres. A mulher que, mais do que não desistir, procura razão para que a família continue vivendo e não abdicar dos seus direitos. Luta com garras e dentes para saber o que efetivamente aconteceu com seu marido. O que continua sendo um “mistério” até hoje. Quem já viveu um pouco mais sabe que nossos governantes ainda nos devem explicações para muitos momentos que ficaram nebulosos na nossa história…

domingo, 30 de março de 2025

Simplesmente assim: Outonar

 

Os ventos dobram a esquina do tempo.

Apresentam-se desnudando o verão,

Açoitando os braços,

Marcando os rostos e

Os olhos congestionados lacrimejam.

Seu murmúrio despoja as árvores,

Enquanto o primeiro sereno se dissolve ao sol

E o outono cinzela o dia com tons que aconchegam.

 

Sem a exuberância da primavera,

Transtornam o passar das horas, lentamente,

Fazendo a noite aconchegar-se mais cedo

E a manhã espreguiçar-se mais tarde.

Quando outona, fecham-se janelas e cortinas

No desejo de que a casa mantenha o calor humano.

Crepitando ao aquecer as mãos,

Enquanto a lenha estala no fogo,

O aconchego que faz bem ao corpo e ao coração…


sábado, 29 de março de 2025

O Profeta, de Gibran Khalil Gibran

Quando converso com alunos ou em palestras, cito quatro livros necessários de serem lidos repetidamente ao longo da vida: o Pequeno Príncipe, de Saint-Exupéry; Fernão Capelo Gaivota, de Richard Bach; o Menino do Dedo Verde, de Maurice Druon; e o Profeta, de Gibran Khalil Gibran. São obras que inspiram “humanidade”, a capacidade de nos sensibilizarmos diante da existência do outro.

Gibran construiu uma obra atemporal que consiste em uma série de ensaios poéticos e reflexões sobre diversos aspectos da vida e da experiência humana. A história se passa na cidade de Orphalese, onde o profeta Almustafa, após doze anos de exílio, está prestes a embarcar em um navio para retornar à terra natal.

Antes de partir, os habitantes da cidade se aproximam, pedindo que compartilhe sua sabedoria e ofereça seus ensinamentos sobre temas universais e profundos. Ao longo do livro, o profeta aborda tópicos como amor, casamento, filhos, trabalho, alegria e tristeza, crime e punição, liberdade, razão e paixão, autoconhecimento, beleza, morte, entre outros.

Cada capítulo apresenta uma reflexão poética e filosófica sobre um tema específico, oferecendo percepções e perspectivas sobre a natureza da existência humana, as relações interpessoais e a busca por significado e espiritualidade. A linguagem é rica e simbólica, convidando o leitor a uma profunda contemplação sobre as questões fundamentais da vida.

O Profeta transcende culturas e épocas, sendo apreciada por sua capacidade de inspirar e tocar a alma humana. Convida à reflexão e ao autoconhecimento, oferecendo um guia poético para navegar pela complexidade da vida. (Pesquisa com auxílio da i.a. Gemini)



sexta-feira, 28 de março de 2025

Quando atravessares a ponte…

Meu mundo não tem porta

E a porteira não tem cadeado.

A chegada é apenas por um caminho.

Verás uma ponte sobre um riacho de águas rasas.

Não tenhas medo, sequer estanques os teus passos.

Basta entregar as rédeas do andar ao teu coração.

Restará apenas cerrar os olhos,

Sentir e te deixar levar pela brisa do fim da tarde.

 

Ao atravessar o que parecerá um pequeno espaço,

Haverá um altar para nele depositar uma flor.

Ali deixarás teus medos, angústias, pesadelos.

No entanto, não te desvencilha dos sonhos, das esperanças,

Especialmente, dos afetos conquistados.

Recolhe a bandana que uma ninfa te entregar.

Podes colocá-la sobre a testa.

Está escrito: Aqui encontras a paz!

 

Quando atravessares a ponte,

Segue qualquer um dos caminhos.

Todos te levam ao meu encontro.

Será um momento de sorrisos e olhares,

De carinhos travessos e abraços apertados.

As palavras e as mágoas ficaram na outra margem.

No silêncio em que apenas a brisa murmura encantamentos.

Finalmente poderemos deixar que o pôr do sol siga seu rito

E que as estrelas nos encontrem embevecidos pelo entardecer.


terça-feira, 25 de março de 2025

O último bicheiro da vila Silveira

O seu Laudelino Almeida partiu. Conhecido na vila Silveira, em Pelotas, por ser o esposo da Ana, pai do Marcos, Kátia, Carla e Fabiano. Bom vizinho, após sair do quartel trabalhou no Jockey Clube (creio até que foi jockey). Também atuou como frentista em posto de gasolina. Depois de aposentado, passou a ter uma outra atividade: era a última pessoa que conheço que ainda fazia jogo do bicho.

Para quem não sabe, jogo do bicho é uma loteria ainda ilegal, popular nas vilas e periferias, onde um apontador passa e recolhe os palpites de cada interessado, em centenas e milhares (se bem me lembro). Mas também por uma numeração que contempla (ou contemplava) a dezena, relacionada a diversos animais. Cada um dos 25 bichos tem quatro números correspondentes, e as opções de apostas e premiações variam conforme as combinações vencedoras. 

É um trabalho de "formiguinha" feito, normalmente, pela manhã. Minha primeira lembrança desta aposta é pelo início dos anos 60, quando meu pai nos trouxe do interior de Canguçu e comprou um ponto onde passou a existir o "Bar e Armazém Raulin" (que era seu sobrenome). O bicheiro, para fazer média, perguntou para mim, com cerca de 5 anos, em que bicho eu apostaria. Disse que no cachorro. E fizeram a "fezinha". Final da tarde, chegou todo contente e queria me dar o dinheiro. Recusei, eu queria era o cachorro que eu tinha ganho!

Embora proibido e criminalizado durante largo tempo, o jogo nunca deixou de existir. Até porque as autoridades faziam vistas grossas para os pontos de jogo ou seus ambulantes. Sua grande popularidade, fundamentada na imagem de confiança dos seus resultados, particularmente nos jargões "vale o escrito" e "ganhou, leva", e sua ampla difusão tornaram a repressão total impraticável, resultando em uma coexistência ambígua com os meios legais e institucionais. Tendo se corrompido em territórios periféricos das grandes cidades (como o Rio de Janeiro), onde sua estrutura foi associada ao crime organizado.

Na época de meu pai, outro vizinho também fazia jogo do bicho, o seu Bernardo, que tinha sido pedreiro, segurança... Eram velhos moradores da vila que entravam nas casas para que os fiéis clientes alimentassem a esperança de realizar um sonho. Com poucos recursos ou remediados, qualquer um tinha o direito de fazer a sua aposta. Uma dona de casa ou quem ia ou voltava do emprego compartilhava seu sonho da noite e apostava no bicho que o inspirava ou no número que imaginava ter visto...

Não são apenas pessoas que se despedem de nós. São histórias que, na maior parte das vezes, sequer foram contadas. Perde-se não apenas um vizinho, um amigo ou um parente, mas um estilo de vida em que o sentido das próprias vivências se dava pelas pessoas com as quais se convivia. Descobre-se que éramos felizes e não sabíamos. Pelo simples motivo de que a sua existência guardava um pouco do sentimento de pertencer a um tempo que desafiava a própria ausência… 


domingo, 23 de março de 2025

Simplesmente assim: Tatuagem

Não tenhas pressa para amar.

Amar é tatuar sensibilidades

Por um corpo desnudado por procuras e desejos.

Fremita no sonho do desenho perfeito. 

As linhas que recém transmutaram a pele

Rubram no anseio de que se falquejem histórias,

Cicatrizes que não desbotam com o tempo.

Carregam expectativas, a certeza de que

São eternas enquanto viverem nas memórias.


Expostas ou escondidas, anseiam por significados,

A parte do mistério em que cada dobra do corpo

Sussurra por carícias e desejos...

A imaginação precede a fantasia.

O olhar divaga e alcança o horizonte do sonho. 

Perde-se nas luzes que demarcam rumos:

Basta um pequeno ponto, depois uma linha

E um traçado toma forma

Em busca da imagem que idealiza a perfeição... 


sábado, 22 de março de 2025

Esperança - autobiografia do papa Francisco.

Esperança é um livro diferente. A autobiografia do papa Francisco difere de tudo o que já li sobre os papas que acompanhei, desde que me conheço por gente, lá pelos idos de 1970. Este não se preocupa com a liturgia do cargo ao contar as suas lembranças. Discreto, mas convincente, alinha memórias com a sua avaliação madura ao lembrar o passado. Com raízes italianas - mas formação argentina, latino-americana - valoriza a família, os vizinhos, os amigos e os lugares onde adquiriu sua sólida formação humanista/cristã.

Sem querer escandalizar, mas mostrando a humanidade do homem que dirige os destinos da Igreja Católica, narra suas aventuras e desventuras. Na formação profissional, problemas que tornaram sua saúde precária, severidade dos fundamentos jesuíticos que moldaram seu caráter. Uma preciosidade quando lembra a sua escolha como pontífice.

A opção pela vida comunitária e, como consequência, abdicar de um apartamento papal para conviver numa casa com religiosos que trabalham no Vaticano e além daqueles que passam a serviço por Roma (a casa de Santa Marta). Quando o mundo em silêncio rezou com ele, ao atravessar a praça de São Pedro, numa noite chuvosa, para pedir pelos atingidos pela pandemia, aos pés da cruz…

Imperdível para Católicos. Recomendável para homens e mulheres de boa vontade que o veem como referência moral, ética e religiosa, independente da religião ou da filosofia que professam. Numa linguagem simples, acessível, às vezes para rir e outras para se emocionar. Um ancião que se desnuda para se tornar mais próximo e ainda mais acolhedor. Daquelas leituras que não se quer terminar. Nos deixam em paz quando erguemos os olhos de um livro que faz bem ao coração…

sexta-feira, 21 de março de 2025

Do outro lado da minha janela

Espio pelo postigo da janela.

Por detrás de um vidro embaçado

Desfilam pessoas apressadas,

Com fisionomias cansadas,

Não importando que seja inverno ou verão.

Têm pressa em chegar às casas para

Encontros possíveis e aqueles desejados.

Os passantes se repetem nos mesmos horários,

Na rotina em que se perde o sentido da espera e do aconchego.

 

Pelas esquinas,

As vozes do passado teimam em se fazer presentes.

Agora, há mais gente andando pelas calçadas.

Muitos ainda são conhecidos,

Outros me são indiferentes.

A rua ainda guarda o mesmo jeito.

Alguns rostos são os mesmos

E repetem velhas rotinas.

Os mais velhos de outros tempos já partiram.

Os mais velhos desta geração parecem não acreditar

Que agora são eles que namoram a finitude.

 

Do outro lado da janela entreaberta,

Ouço os ruídos peculiares à cidade dos homens.

Mesmo quando a noite avança e me acomodo ao leito

Não ouvir seus ruídos me angustia.

Para onde foram?

Na incompletude, o silêncio sufoca,

Sua falta predestina a morte, o ocaso,

A ausência de todo e qualquer calor humano…


terça-feira, 18 de março de 2025

“Um terço para Francisco”

Recentemente, a jornalista Andressa Xavier escreveu artigo para o jornal Zero Hora contando uma história familiar titulada “Um terço para Francisco”. Seus tios, Isabel e Jorge, foram pela primeira vez à Europa em 2019, quando a tia completava 60 anos. A data caiu na quarta-feira em que o papa desce ao encontro dos fiéis na praça São Pedro. Os pais da Andressa já conheciam a Itália e serviram de cicerones. Deram um jeito de ficar posicionados próximos aos gradis. A espera valeu a pena. Quando o papa desceu do papamóvel, seu pai gritou: “La signora fa il compleanno oggi”. Diz ela: "Pois ele parou e andou em direção a eles."

Seu tio faz terços (um círculo de contas que serve para a oração do Rosário) e confidenciou que havia feito um com a intenção de entregar ao papa. "Era branco, vermelho e azul, as cores do time de Francisco, o San Lorenzo, da Argentina. Mostrou aquelas contas coloridas com uma alegria e uma ingenuidade que eu não tive coragem de desapontá-lo e dizer que não conseguiria entregar, ou que seria muito difícil. Pensei, mas não disse nada, só encorajei a levar e elogiei o tercinho, que era mesmo bem bonito".

A felicidade ficou completa quando compartilharam a foto no grupo de WhatsApp da família com o papa bem pertinho deles. "Mais do que isso, a ligação em vídeo horas depois foi linda demais. Minha tia, no dia do aniversário, ganhou um terço das mãos do papa. Ela foi surpreendida pelo gesto do Santo Padre, que colocou a mão no bolso e tirou um rosário perolado, numa caixinha".

O mais bonito do texto da Andressa vem a seguir: "Francisco é assim. Um Papa próximo, humano, carismático e fraterno. Transparece isso. Derrubou muros de uma igreja distante e fechada, se aproximando do seu povo. Beija os pés de presidiários e dos pobres na quinta-feira Santa, como fez Jesus na Última Ceia. Recebe fiéis, abraça as pessoas, sem distinção."

Num tempo em que a maioria absoluta das pessoas torce por Francisco (com uma minoria de mal amados vomitando seu mau-humor em torcida pela sua morte) eu queria ter escrito o que ela disse ao concluir:

"Quando a nossa fé eventualmente esmorece, ter um papa como ele traz renovação, inspiração e exemplo. Um dos dias mais emocionantes da minha vida foi um domingo de agosto de 2017, quando vi, de longe, o papa Francisco pela janela no Vaticano. A simples presença dele me encheu os olhos d'água. Ele deu vida nova e esperança de um mundo melhor aos católicos, mas me atrevo a dizer que ao mundo, a pessoas de todas as crenças."

Francisco é assim: um símbolo da presença de Deus. Presentes como o terço são o sinal do carinho de uma população que anseia por referências. Com a emoção de quem o ouve como quem escuta alguém que nos é muito precioso, capaz de dizer as coisas mais simples brotando do coração. Porque transpira pelo rosto, pelos olhos, pelas mãos, pelo abraço, uma alma humilde, em que a fé é espelho da sua empatia e amor ao próximo, a vocação de um autêntico homem de Deus.


domingo, 16 de março de 2025

Simplesmente assim: Arfante

Quando o ar se torna rarefeito e parece acabar,

Erguer a cabeça é um desafio. No entanto,

A energia chega de onde menos se espera.

O corpo fica cansado e qualquer movimento

É a necessidade de vencer as barreiras físicas.

Arfante, todos os sentidos parecem inertes,

Enquanto o vento bate nos olhos e

Teima em secar

Uma lágrima solidária com as minhas carências.

 

A reação dos sentimentos

Para alcançar a liberdade, desatar amarras,

Emergir em cada centímetro de pele.

Arfante, o suor rega a face,

Escorre a maquiagem, retira a máscara,

Revela e expõe os afetos.

O coração apertado bate mais forte,

Com o medo de que um suspiro carregue

O sonho de vencer o que assombra e as aflições…


sábado, 15 de março de 2025

Terra dos Homens

 Leituras e lembranças:

Desde o mês de fevereiro passei a colaborar com as páginas “Que livro estás a ler” e “Clube de leitura”, no Facebook, aos sábados. Resolvi compartilhar minhas leituras também com vocês. Aceito comentários. 

Terra dos Homens

Terra dos homens é obra do escritor e ilustrador Antoine de Saint-Exupéry, publicada no mesmo ano em que a Europa entrou na 2ª Guerra Mundial, 1939. Reúne algumas de suas experiências relatadas em jornais da época, especialmente como aviador, prospectando rotas pela África, América do Sul e no transporte de passageiros e de cargas, especialmente de correspondências.

A impressão que se tem é de que seja preparatória ao seu livro mais famoso, de 1943, o Pequeno Príncipe. De forma descritiva, ali aparecem elementos que estarão presentes na sua grande parábola, como o companheirismo, a pequenez do homem, a solidão, a simplicidade e o sentido da vida. E, claro, elementos físicos, como o deserto e a raposa.

O que disserta em Terra dos homens, vai se transformar em narrativa no Pequeno Príncipe. Relatos de viagens como piloto das vias Aéropostales para, depois, dedicar-se a um livro supostamente de contos infantis… É um laboratório de ideias e sentimentos para a sua obra maior. Pena que não tenha vivido para ver o reconhecimento que granjeou.

Na minha releitura, em função das discussões que tenho feito sobre o Pequeno Príncipe, fui à cata dos comentários de quem se debruçou sobre a obra. Lá encontrei: “O livro faz apelo ao melhor que existe dentro de cada um de nós”. E em outro lugar na internet: “um poema em prosa que celebra a natureza, o sentido da vida, a dignidade do trabalhador.” Com certeza, é isto e muito mais: Como reabrir velhos baús em busca de lembranças que se julgavam perdidas…


sexta-feira, 14 de março de 2025

A tentação das águas profundas

Gostava do teu sorriso, na juventude.

Teu olhar cristalino era um jorro de energia,

Raios contidos no alvorecer de um novo dia.

Gosto ainda mais agora que envelheceste.

As marcas ao redor dos teus lábios são

Vales que convergem a vista para o rio.

Teus olhos têm a tentação das águas profundas,

Que aguardam cautelosas, 

Quando se mira a superfície.

 

Isolam de todos os ruídos ao imergir de um corpo

Na profundidade dos sentimentos.

É quando me perco na geografia do teu rosto.

O tempo passando transbordou teu sorriso,

O espelho da alma, que

Verte doçura, carinho, serenidade,

Memórias que se esgueiram pelos vincos da tua testa.

 

Resumem a existência de quem viveu sua história,

Com a intensidade de um sonho que se fez realidade.

Ali, contemplei o mistério que ronda o teu olhar.

Agora, teu sorriso é o entardecer, quando o 

O dia acomoda-se nos braços da noite.

Não foram as estrelas que deram sentido às tuas andanças.

Teu norte sempre foi a possibilidade de mirar um destino,

Sôfrego por desbravar a tua própria Eternidade…


terça-feira, 11 de março de 2025

“Só queria ganhar um abraço…”

O menino cadeirante que está à margem do campo de basquete recebe uma bola no colo. Quem a recolhe percebe que a outra criança está marginalizada de atividades esportivas. Volta ao jogo e conta para seus colegas. Em seguida, a turma se dispersa. Na tarde seguinte, o cadeirante, ao sair de casa, encontra a bola na varanda. Coloca-a no colo e vai à cancha. Ali já estão os demais, agora, cada um “equipado” com um carrinho ou uma cadeira com rodinhas, de onde, sentados, compartilham a brincadeira com o mais novo jogador.

Seguidamente, aparecem curtas na internet em que pessoa porta cartaz, em plena rua, se oferecendo para receber e dar um abraço. Algumas vezes escrito: “Só queria ganhar um abraço…” A grande maioria passa batida e desconfiada. Mas sempre tem aqueles (e aquelas) que sorriem e aceitam o convite. Infelizmente, não são feitos depoimentos de quem deu ou de quem os recebeu. Superado o receio de fazer fiasco, quebradas as barreiras do preconceito, o abraço se torna uma válvula de escape para muitas “neuras”.

A mulher estava secando a louça na pia, quando se sentiu mal e se apoiou na bancada. O cachorro percebeu que a dona ia ter uma crise epiléptica. Em silêncio, escorou suas costas até que estivesse sentada no chão. Abriu a geladeira e alcançou água. Fechou a geladeira e procurou deixá-la da melhor forma possível para que repousasse. Só então alcançou o interfone e tocou chamando a portaria. Latiu e o porteiro entendeu que havia algum problema, pois tinham conhecimento do histórico de saúde da proprietária do apartamento.

Uma das primeiras frases que marcou a figura de Francisco, quando assumiu a cátedra de Pedro, foi: “Sempre que possível, dê um sorriso a um estranho na rua. Pode ser o único gesto de amor que ele verá no dia”. E também: “É preciso ter bom humor no dia a dia para não tornar-se ‘avinagrado’”. “Só queria ganhar um abraço” pode ser a demonstração de carência ou de ternura. E o cão cuidador demonstrou, por instinto e carinho, o que precisamos: gestos de solidariedade e de empatia, a “fofura” de que estamos carentes. 

A generosidade tem o poder de transformar o dia de alguém. Francisco, com palavras, gestualidade, expressão facial, atitudes, dá exemplo de que momentos de desprendimento tornam mais leve a vida, carregada de rotinas e mesmices. O cadeirante que entrou na quadra para jogar basquete, o desconhecido oferecendo um abraço, o cão convivendo e cuidando da dona foram imersos num estado de fofura (sensibilidade). Hoje, raros, mas necessários para que não se desaprenda que o melhor que ainda temos é a nossa própria humanidade…


domingo, 9 de março de 2025

Simplesmente assim: Ânsias

A ânsia é o desassossego do coração.

Quando os sentidos perdem o controle 

Das nossas possibilidades.

Nos escaldantes dias de verão,

Esperar pela brisa da noite em que

Um cobertor de estrelas aconchega sonhos.

A busca pelo reencontro desejado,

Acalentado em devaneios,

Sentido na penumbra da saudade.

 

Resistir à tortura da indiferença, 

Buscando razão para 

A noite que se fecha em breu.

Ansiar é manter vivas as expectativas,

Sabendo que os lábios ressequidos

E a alma que taquicardia

Esperam pelo direito de serenar.

Na possibilidade de saciar a fome

Dos grãos de trigo que apenas a terra germina,

Garantindo o direito de brotar, 

Desabrochar e, um dia, fenecer em paz…


sexta-feira, 7 de março de 2025

Mesmo que seja um amor atrapalhado

Não peça desculpa novamente.

Precisamos de um tempo para

Sondar nossos mundos interiores.

Sou surpreendido por nuances

Que revelam aspirações e pesadelos.

A ânsia por desvelar um ao outro.

No meio do caminho há ruídos que assustam,

Sem que sejam suficiente para nos afastar.

 

Meus fantasmas não têm pressa.

Ainda acreditas que uma 

Outra metade está esperando por ti?

Pois é, aguardei ao lado do caminho,

E agora sei como é ficar sem a pessoa que se ama.

Quando paro diante da porta dos meus medos, 

Percebo que o tempo passando 

Me deu a aparência de maturidade.


Em lugares onde a consciência não alcança

Aprisionou-se um menino 

Que esticou o olhar para a juventude,

Sem ter coragem de viver com um adulto.

A ausência das tuas palavras foi a falta

Do abraço que sussurrava por meu corpo.

Eram murmúrios não entendidos, 

Sentidos na agonia de te compreender…


Errar e ser perdoado é inerente ao amor.

O tempo ensina que as palavras não faladas

Também portam a compreensão e carícias 

De quem se atrapalha ao multiplicar o que é dito.

Um silêncio cúmplice encerra a compreensão.

Apazigua a alma, serena o corpo, 

Eleva o espírito ao patamar da beleza interior, 

Tornando um olhar travesso pleno de doçura. 


Mesmo que seja um amor atrapalhado. 

Pedir perdão, quantas vezes for necessário,

Por mal-entendidos, teimosias, 

O afastamento que endurece o olhar.

O direito à cumplicidade,

Quando as desculpas se tornam desnecessárias,

A intimidade dispensa formalidades,

Bastando apenas aconchegar o ser que se ama…

O calor do Sol que somente tu consegues me dar.

A certeza de que amar é o que dá sentido à vida!


terça-feira, 4 de março de 2025

Conclave: os bastidores da escolha de um papa

Coincidência analisar, em curto espaço de tempo, dois livros de vertentes literárias distintas. É inesgotável falar da obra de Saint-Exupéry, especialmente, a respeito do Pequeno Príncipe, com sua ternura e lições de humanidade. Mas há uma outra tendência no universo dos livros que fascina: a ficção, de onde emergiram, nos últimos anos, autores como Morris West (As Sandálias do Pescador), Dan Brown (O Código da Vinci, Anjos e Demônios…), Ken Follet (Os Pilares da Terra) e, agora, Robert Harris, percorrendo os bastidores da Igreja Católica, naquilo que tem de santa e pecadora (para os escritores, bem mais de pecadora).

Robert Harris é autor do best seller Conclave, adaptado para o cinema e, neste momento, em evidência pelas diversas indicações ao Oscar. Aborda uma temática que causa arrepios nos leitores que gostam quando se trata de teorias da conspiração, isto é, aquilo que expõe, desnuda negociações políticas, como a obra, falando a respeito da sucessão do papa (que se parece com Francisco…), numa época de abertura para as realidades sociais e sair do mundinho italiano para se tornar, de fato, universal. Isto na ficção…

Encontra terreno fértil neste tempo em que o papa Francisco, com 88 anos e a saúde debilitada, esforça-se para continuar sua obra, com uma garra que poucos religiosos com menos idade têm. Conclave é um livro que prende, descrevendo a morte do papa e a eleição de um novo, na Capela Sistina. Com a demonstração de ambição e mistérios que envolvem os principais “candidatos”. Quem narra é o cardeal Lomeli, decano do Colégio Cardinalício, que tem a obrigação de assegurar a lisura da sucessão, em meio aos seus próprios conflitos de fé. Na Missa que antecede o enclausuramento dos 128 homens para votarem, Lomeli desabafa:

“Oremos para que o Senhor nos conceda um papa que tenha dúvidas e que, pelas suas dúvidas, continue a fazer da fé católica uma coisa viva capaz de inspirar o mundo inteiro. Oremos para que ele nos conceda um papa capaz de pecar, e de pedir perdão, e de seguir em frente. É isso que pedimos ao Senhor, através da intercessão de Maria, a mais santa, Rainha dos Apóstolos, e de todos os mártires e santos, que ao longo do curso da História tornaram esta Igreja de Roma gloriosa através dos tempos…”

Gosto da temática, mas não pretendo dar spoiler, contando o final. Levei um baque nas últimas páginas. Embora se apresentem as vaidades e interesses escusos, para os religiosos católicos, há uma clara sugestão da ação do Espírito Santo. Contudo, também a discussão de questões ligadas à sexualidade e afetividade. A verdade é que o papa Francisco não tem fugido desta temática, mas, com certeza, serão necessários ainda alguns “franciscos” para que este rosto divino da sua Igreja se ajuste ao jeito bem menos santo de viver do ser humano…

domingo, 2 de março de 2025

Simplesmente assim: Como água com mel

Meus pés deixam marcas por sobre o sereno

Que ainda teima em permanecer sobre a grama,

Mesmo depois do nascer do sol.

Anda ao meu lado o sentimento de que

O tempo dilacera a espera,

Mas não é capaz de apagar as memórias

Guardadas na ternura de quem luta por não desistir...

 

Aprender a amar desnuda de tudo

Pela ternura do olhar de um filho,

O afeto pelo reencontro de um amigo,

Aconchegar a pessoa que dá razão ao meu sorriso.

As múltiplas formas de acolher e ser acolhido.

O desejo de que, em qualquer etapa da vida,

Transpareça o sentimento da partilha

Incandescendo o olhar.

 

Como água com mel.

O sentimento do que parece inutilmente simples:

Saciar a sede pelo privilégio de viver em paz…


sexta-feira, 28 de fevereiro de 2025

Com as agulhas dos meus sentimentos

Quando as lágrimas e os soluços

Transtornarem o meu rosto,

Tenho certeza de que logo, logo,

Vai florescer um sorriso.

Ainda sinto calafrios pelo

Inverno da tua ausência.

Nestes momentos,

Vou tricotando o tempo com as

Agulhas dos meus sentimentos e

as linhas das minhas lembranças.

 

Envelhecer é o privilégio de

Ouvir, degustando, as músicas que fizeram

A trilha sonora de toda uma vida.

Assim como reencontrar

Imagens capturadas

pela fotografia, desbotada, guardada

Nas gavetas da memória.

É quando acaricio os livros que dormitam

Na estante do meu quarto ou, pacientemente,

Aguardam à beira da minha cama.

 

A vida é feita de esperas.

Quando o tempo se acomoda num olhar,

Que já não tem pressa,

Investindo cada instante em redescobrir

Aquilo que embebeceu a alma.

Assim como as dores, tristezas e agonias

Que se apresentaram durante as tempestades

Para que aprendesse a valorizar a bonança.

E o raio do arco-íris que esperançou

Em meio às nuvens carregadas de incertezas.

 

Conquista-se o direito de sentar na varanda

Onde uma réstia de sol teima

Em transtornar as cores no horizonte.

As mãos conformam-se em repousar

No colo acalentando sentimentos e

Experiências de tudo o que foi tramado.

Harmoniosamente, ponto por ponto,

Laço por laço, fileira por fileira, 

No desejo de que, cobrindo um corpo,

Também aconchegue um coração…


terça-feira, 25 de fevereiro de 2025

Pequeno Príncipe: a nostalgia de todas as ausências

Sábado postei comentário na página “Que livro estás a ler?”: “Recentemente, um amigo (o padre Michel Canez) provocou-me a recordar a obra do "Pequeno Príncipe", de Saint-Exupéry. Não sei quantas vezes o reli desde que o professor Jandir Zanotelli me apresentou, nas aulas de Filosofia, no 2o grau. Para entendê-lo, não basta classificar como obra destinada a crianças. É um livro para "crianças de todas as idades..." Despertou para revisitar, também, do mesmo autor, "Terra dos homens" e "Cidadela". Por serem anteriores, ajudam a entender a parábola do menino que ensinou a amar e despertou a nostalgia de todas as ausências…”


O suficiente para descobrir uma verdade repetida: a gente nunca revê da mesma forma a saga do menino perdido no deserto e o aviador que tenta consertar a pane no seu avião. Minhas postagens, como a que fiz quando uma escritora insinuou a tese do suicídio, no seu desaparecimento, fez com que buscasse entendê-lo no contexto em que a obra foi lançada: durante a 2⁠ª Guerra Mundial - era o ano de 1943 - um ano antes da sua morte e dois antes do fim desta carnificina internacional. Com razoável condição financeira, pode buscar exílio por quase dois anos nos Estados Unidos, de onde lança ao mundo este que é um suspiro de humanidade.

As condições da Europa eram de miséria para a população civil. Ainda hoje, lamentam-se as mortes em combate ou das populações perseguidas (como judeus, ciganos e homossexuais…), mas pouco se fala dos períodos de fome passados em muitos países, também resultando em perdas de vidas. Pois é aí que se situa a simples frase da dedicatória, que pode ser a imersão numa análise sociológica:

“Peço às crianças que me perdoem por dedicar este livro a um adulto. Eu tenho uma desculpa séria: este adulto é o melhor amigo que eu tenho no mundo. Tenho outra desculpa: este adulto pode entender tudo, até livros para crianças. Tenho uma terceira desculpa: ele mora na França, onde tem fome e frio. Ele precisa ser consolado. Se todas essas desculpas não são suficientes, então eu quero dedicar este livro à criança que este adulto já foi. Todos os adultos eram crianças, primeiro (mas poucos deles se lembram dela).” O amigo era escritor e ficou no país ocupado, com os que restaram, em absoluta carência ou desejosos de migrar para outras terras.

O sublime do texto é pedir às crianças para corrigir a dedicatória: “Para Léon Werth, quando ele era ainda era criança…” Como muitas obras que se propõem a ser bálsamo nas feridas da humanidade, Exupéry apresenta a realidade em que trabalhava no que sempre amou - a aviação. Com a crueza de uma guerra que o obrigou a deixar o serviço à população civil para fazer prospecção de tropas alemãs. As águas do Mediterrâneo se abrindo quando caiu foi a porta em que o Pequeno Príncipe o esperava. O motivo do encontro? Elementar: Pedindo orientação aos astros ou migrando com os pássaros, a busca do voo perfeito sempre os conduziu no caminho para as estrelas…


domingo, 23 de fevereiro de 2025

Simplesmente Assim. Sou: Ausência

Sou a imagem que recorda tuas lembranças.

O rosto que se desenha à frente 

Quando navegas na solidão.

A fotografia que esmaece, marcada por

Tuas carícias e lágrimas furtivas.

O espelho que te acusa pelo tempo desperdiçado.

Os ressentimentos guardados e não resolvidos.

A falta sentida, ressentida, amargurada.

 

Sou a carência não desejada.

As ausências com sabor de tristezas mal resolvidas. 

Motivo de implorares aos Céus para não

Reviver o que pensavas esquecido no passado.

Sou um pedaço de ti que está faltando

E te faz arfar de saudade.


Sou quem te deseja felicidade sabendo que a

Tua ausência sempre guardou 

A possibilidade de um reencontro…


sexta-feira, 21 de fevereiro de 2025

Sou grato por não desistires de me amar

Quando chegar a hora da partida,

Não faz uma longa despedida.

Mesmo dizendo um adeus,

Que seja apenas para assegurar

Que ainda vais esperar por mim.

Me acompanha com o olhar 

Enquanto me perco numa curva da estrada.


Esquece as muitas palavras ditas.

Prefiro guardar no corpo o afago do teu abraço.

Pode passar muito tempo e, mesmo assim,

cada parte do meu ser vai lembrar do teu calor.

Perdão, se seguir meu destino é inevitável.

Mesmo que se deixe uma possibilidade

De retornar ao lugar de origem.


Quantas vezes teu olhar simplesmente sorriu

Ao ver minha agonia por desbravar outros rumos,

Crendo que a felicidade estava em outras fronteiras,

Havendo quem estivesse à minha espera

Para novas e grandes descobertas.

Queria ampliar horizontes, 

Saindo do que julguei insignificante, 

Diante de todas as possibilidades imaginárias.


Voltar é a oportunidade de rever o próprio caminho.

Refazer a trilha não é realizar o mesmo,

Mas ressignificar perdas e desencontros.

Somente quando segurei tua mão, na hora da partida,

Entendi que nunca havias desistido de mim.

De que eras minha bússola, meu norte,

Com quem podia partilhar meu destino,

A âncora dos meus sonhos e devaneios.


Tua entrega silenciosa me fez perceber que,

De alguma forma, nunca desististe de mim.

Eu que não entendi o jeito como querias

Cuidar de alguém que não te dava atenção.

Quando voltar à tua porta e te pedir perdão,

Sei que vais, como sempre, me abraçar em silêncio

E repetir o que somente agora entendi: “Te amo!”

Sou grato por não desistires de me amar!


terça-feira, 18 de fevereiro de 2025

O desafio de ser “comunicador da esperança”

Num tempo em que falar de “amor” é motivo de zombaria, o papa Francisco, nos seus 88 anos, compartilha texto que embasa a reflexão sobre o Dia Mundial das Comunicações Sociais, em 1º de junho deste ano. O tema é um mantra batido pelo pontífice: “Partilhai com mansidão a esperança que está nos vossos corações”. Incita aos comunicadores de todas as plataformas: “Precisamos do vosso compromisso corajoso em colocar no centro da comunicação a responsabilidade pessoal e coletiva para com o próximo.”

Parece que nem todas as dificuldades e obstáculos conseguem calar uma voz crucificada pela indiferença e, mesmo assim, com forças para estender a mão e afirmar que “gostaria de vos convidar a ser comunicadores de esperança”. Ouvidos surdos ou, ao contrário, bêbados pela dicotomia de uma polarização absurda que levou a Igreja Católica a ser, hoje, uma instituição que, tristemente, já não tem representação e repercussão social. Poucos são aqueles (e aquelas), como Francisco, que ainda lutam contra a correnteza da desesperança. 

É assertivo quando afirma: “Hoje em dia, com demasiada frequência, a comunicação não gera esperança, mas sim medo e desespero, preconceitos e rancores, fanatismo e até ódio.” Tristemente, reconhece que “muitas vezes, simplifica a realidade para suscitar reações instintivas; usa a palavra como uma espada; recorre mesmo a informações falsas ou habilmente distorcidas para enviar mensagens destinadas a exaltar os ânimos, a provocar e a ferir.” Insiste: “Nunca dá bom resultado reduzir a realidade a slogans.”

Para o homem que esbanja esperança, deve ser difícil de reconhecer que, “na verdade, ter esperança não é de todo fácil”. Cita Georges Bernanos quando dizia que “só têm esperança aqueles que ousaram desesperar das ilusões e mentiras nas quais encontravam segurança e que falsamente confundiam com esperança. [...] A esperança é um risco que é preciso correr. É o risco dos riscos”. O Santo Padre apela: “Perante as vertiginosas conquistas da técnica, convido-vos a cuidar do coração, ou seja, da vossa vida interior.”

“O que isto significa?... Sede mansos e nunca esqueçais o rosto do outro… Semeai esperança, mesmo quando é difícil, quando custa, quando parece não dar frutos… Procurai praticar uma comunicação que saiba curar as feridas da humanidade… Contai histórias imbuídas de esperança, tomando a peito o nosso destino comum e escrevendo juntos a história do nosso futuro.” Que assim seja. Quando nós, mais novos, pensamos que a esperança está morrendo, é uma sacudida de ânimo pensar que Francisco ainda não desanimou e dá testemunho de que a máxima do “amai-vos uns aos outros!” continua atual e necessária…


domingo, 16 de fevereiro de 2025

Simplesmente assim. Sou: pertença

Sou a procissão dos que acordam antes do sol nascer;

Percorrendo as ruas na madrugada;

Sonolentos, enquanto esperam no ponto de ônibus;

Conhecendo os companheiros no transporte coletivo. 

Estou nas feiras que despertam as ruas e avenidas,

Onde vizinhos se encontram com feirantes e seus produtos.


Sou a massa silenciosa que desperta a cidade;

Faz a limpeza urbana, gera água e energia;

A abertura do comércio e da indústria,

Espera por alunos nas portas dos colégios.


Não precisas saber o meu nome.

Sou parte da engrenagem da vida, desejando

Um sorriso, gratidão, que não apagues a minha pertença 

Ao quotidiano de um mundo que também é meu lugar de viver…


sexta-feira, 14 de fevereiro de 2025

A magia do primeiro voo

 Sem o direito de permanecer no Paraíso,

O homem perdeu a possibilidade de voar.

A condição de intuir os ditames da alma,

Na busca por espaços apenas vislumbrados. 

E o corpo foi condenado a andarilhar.

Toldou-se a imensidão que descortina sonhos,

Empurrado no vazio da existência, tentando

Vencer medos, sentindo saudades do Infinito.

 

Para anjos e pássaros, voar é um ato solitário.

Concretiza-se em possibilidades,

Na ânsia por sentir-se preparado,

Acreditando no que ainda restou da esperança,

Com as deficiências que intuem o próprio voo.

Fecham-se os olhos, na hora de planar, ouvindo

Os acordes do vento murmurando ao ouvido,

Na embriaguez que fremita os sentidos.

 

Ao experimentar o ocaso do inverno, voar

Fica mais fácil quando os brotos espocam

E nascem as primeiras flores nos pessegueiros.

Voejar é tornar todos os dias em primavera

Sentindo o aroma das flores,

O zumbido dos insetos à procura de alimento,

O verdejar em todas as tonalidades,

A magia da vida que eclode na natureza.

 

A imaginação espelha o espírito.

Na imprecisão das formas,

Se revelam sonhos e cerrar os olhos

Não apaga a impressão de que o reflexo

É o tormento por carências e nostalgias.

Esvoaçar é o emergir das asas que precisam

Da mente e da alma para que a magia do 

Primeiro voo, simplesmente, possa acontecer…


terça-feira, 11 de fevereiro de 2025

Heroínas sem estátua em praça pública

Quando estava cuidando de meus pais, no seu envelhecimento, comecei a atentar a um problema que já chamava atenção dos meios acadêmicos e de quem devia orientar acompanhantes de idosos ou doentes. Uma pergunta que virou trabalho de conclusão de curso em mais do que uma instituição universitária: "quem cuida do cuidador?" Pois é comum a preocupação com o idoso ou o doente, mas se ignora quem é envolvido e precisa dedicar-se, muitas vezes de forma integral, a vida em “consagração” a uma pessoa.

Se o desgaste da idade, com as suas carências, assim como a restrição de atividades para alguém debilitado fisicamente, já é motivo de preocupação, imagine para quem se torna pai ou mãe de filhos atípicos (já chamados de especial, deficientes ou, ainda, “coitadinhos”, no popular). Da mesma forma, se atenta a quem possui alguma restrição física ou intelectual, em detrimento do cuidador. Poucos percebem que, possivelmente, esta pessoa, quase sempre a mãe, abre mão da sua existência pessoal, assumindo a invisibilidade, exercitando a resiliência…

Especialmente, as mulheres mergulham num turbilhão de novas experiências e emoções que desafiam a encontrar uma nova conformação para as suas vidas (e isto não é uma figura de linguagem). É a luta pela inclusão social, com batalhas todos os dias diante de vizinhos, prestadores de serviços, educadores, autoridades… Não se tornam mulheres especiais porque aceitaram e trabalharam o que a Natureza lhes proporcionou. Tornam-se especiais pela capacidade de superação, de consagrar-se integralmente ao filho.

Tenho experiência com duas delas. Conheci-as antes e depois do nascimento dos filhos, com Síndrome de Down e Autista, respectivamente. Nunca imaginei que conseguissem o que conseguiram. Possivelmente, sequer tenham sonhado com a possibilidade de uma criança especial nas suas vidas. A surpresa do primeiro momento, não as fez se resignar ou desistir. Precisaram aprender um pouco de tudo. E o desafio as fez mais fortes, garimpando o direito dos filhos ao atendimento básico e ao lugar que merecem na sociedade.

Somos uma sociedade despreparada para conviver com o diferente. O preconceito é subjacente a um comportamento social que prega a inclusão, mas, individualmente, não faz nada para que se concretize. Especialmente quem tem filhos especiais merece um "colo" diferenciado por enfrentar rotinas, situações adversas, pessoas despreparadas ou de má vontade em atendimentos. A verdade é que, infelizmente, mães que cuidam de filhos atípicos são heroínas que nunca terão uma estátua em praça pública…


domingo, 9 de fevereiro de 2025

Simplesmente assim. Sou: destino





Sou quem enxergas pela janela,

Andarilho silenciando a rua,

Perambulando pelas praças

Ou dormitando nos parques.

Te pareço fora do tempo,

Pois não entendo a tua pressa, embora 

Um dia já tenha feito a mesma jornada.

 

Dói perguntar: o que sou?

No que transformaste a minha humanidade?

Velho, idoso, ultrapassado, decrépito…

Querendo, mais do que o abrigo de uma casa,

Lugar para ser acolhido em um lar, num coração.

Levarás longo tempo para entender que 

A vida passando consome os sonhos 

no altar que se chama destino…


sexta-feira, 7 de fevereiro de 2025

O sentido de construir lembranças

A infância é o tempo do espanto.

Diante de um pequeno ser, 

Que anda por sobre o galho da árvore,

Sublimando o olhar;

A planta com encantos que transparecem

Nas ranhuras da folha e a gama de tonalidades;

De alguém que surpreende, 

Sorrindo com um presente escondido. 


Tempo em que o Mundo 

É um imenso universo a ser explorado,

Onde cabem as aventuras que parecem sem sentido 

Para o olhar constrangido de um adulto. 

Passa-se a vida com a sensação de que

A inocência perdida em algum descaminho 

Cobra o gosto estranho do que deveria

Dar prazer e sentido a encontros e desencontros. 


Aventurar por todas as possibilidades 

Que, depois, ficam restritas aos ditames da razão.

Anestesia-se o encantamento enquanto se amadurece.

Luta-se num intervalo entre ser criança e a velhice.

E a morte chega ao se perder a capacidade do espanto.

O aprendizado das coisas inúteis

Que somente com o ocaso das vivências

Se lamenta não ter lhes dado a devida atenção.


Quando os cabelos embranquecem (ou faltam), 

Redescobre-se a necessidade de sorrir, 

Aparentemente sem motivo,

Por uma recordação banal…

Experimentar a saudade, na

Lágrima que teima em banhar as lembranças, 

Quando se defronta com

O rosto que ficou perdido numa fotografia…


Avós e netos, idosos e crianças,

Fazem a lição do que é importante lembrar. 

Viver a vida é mais do que 

Apenas deixar passar os dias, meses e anos.

O olhar que acarinha, vindo da infância,

Traça um mapa por sobre as mãos enrugadas;

A razão de construir lembranças quando se chega, 

É encontrar sentido no momento da partida…


domingo, 2 de fevereiro de 2025

Simplesmente assim. Sou: hipocrisia

Sou negro, sou gay, sou pobre, sou deficiente...

E, como se isto não bastasse, sou mulher!

Sou a explicação do teu preconceito, pois 

Quando não encontras a tua razão 

Tornas-me o motivo da tua ira.

Sou a minoria que discursas como inclusivo,

Negando a possibilidade de conviver,

Sobreviver, respeitar e amar…


Sou negro, sou gay, sou pobre, sou deficiente...

E, como se isto não bastasse, sou mulher!

Sou quem não aceitas,

Esquecendo que conviveste comigo em criança.

Sou gente, embora não queiras,

Sou filho dileto do mesmo Deus que afrontas,

Quando feres a minha dignidade,

Martelando os meus direitos na cruz da tua hipocrisia…


quarta-feira, 1 de janeiro de 2025

Ano novo, fotos novas.

Eu, no ano em que chego aos meus 70 anos (quem pensa que é mais não se atreva a dizer que a cara já passou dos 80...)

Obrigado pela parceria em 2024. Espero que continuemos juntos em 2025.
Quem ainda não teve tempo, aproveita para me procurar pelas redes sociais.
No YouTube como @professormanoeljesus.
No Instagram @professormanoeljesus
No Facebook Manoel Jesus
No Threads professormanoeljesus
Vou achar um jeito de continuar incomodando vocês em 2025! Me aguardem, volto em fevereiro!



Enquanto tomava chimarrão no primeiro dia do ano, no Moradas do Lago, estive sempre em constante vigilância (o fotógrafo não é muito bom, mas podem ver o filhotinho de quero-quero ao fundo)...