sábado, 12 de julho de 2025

O Mestre dos Mestres, de Augusto Cury

Leituras e lembranças:

Minha intenção não é fazer proselitismo (colocar goela abaixo), mas compartilhar conhecimento. Este o motivo de comentar um dos livros que me influenciou quando falo em sala de aula, palestras e textos: "O Mestre dos Mestres" é uma das produções mais conhecidas de Augusto Cury e faz parte da série "Análise da Inteligência de Cristo". Cury se propõe a compreender a psicologia da figura de Jesus Cristo, não sob uma perspectiva religiosa tradicional, mas sim como um educador e pensador.

O escritor, sendo psiquiatra, aborda Jesus sob uma ótica da inteligência emocional e da psicologia multifocal. Ele busca desmistificar a figura de Jesus, tirando-o do pedestal puramente religioso e o apresenta como um ser humano com uma mente brilhante, capaz de: gerenciar emoções em situações de pressão; pensar de forma livre e fora dos padrões da sua época; comunicar-se com empatia e sabedoria, fazendo perguntas que instigam a reflexão; ensinar de forma inspiradora, sem impor dogmas, mas provocando o autoconhecimento; amar incondicionalmente e incluir os excluídos sociais.

O livro explora aspectos da inteligência de Jesus, como: A arte de pensar: como desenvolveu seus pensamentos e como sua mente operava. A gestão da emoção: Sua capacidade de manter a serenidade e a paz interior mesmo diante de adversidades, críticas e perseguições. A didática: A forma única como ensinava, utilizando parábolas e questionamentos para estimular o aprendizado e a reflexão. Capacidade de se colocar no lugar do outro: a empatia e compaixão pelas dores e necessidades humanas. A liderança: Como inspirava e transformava as vidas de seus seguidores.

A obra de Cury destaca uma perspectiva diferente, fascinante tanto para religiosos quanto para não religiosos. Um Jesus mais "humano" e acessível. Numa linguagem clara e envolvente, o que torna a leitura fácil e agradável para um público amplo. Com menos foco na divindade: É importante notar que o livro se concentra na inteligência e nos aspectos psicológicos de Jesus, e não em sua divindade ou em uma abordagem teológica.

Pode-se dizer que "O Mestre dos Mestres" é uma jornada intelectual e emocional que convida o leitor a mergulhar na mente de Jesus Cristo e a extrair lições valiosas para a vida cotidiana, independentemente da sua crença. Um convite à reflexão sobre liderança, gestão emocional, empatia e a arte de viver com sabedoria. (Com pesquisa e imagem gerada pela IA Gemini)

sexta-feira, 11 de julho de 2025

Revisitando o passado

Artigo da semana:

As novas tecnologias deram, àqueles que conseguiram vencer o século XX, o privilégio de acessar os registros de momentos marcantes nas últimas décadas. Desde que a fotografia, o vídeo e o som passaram a conservar recortes de vida, enriquecendo a compreensão de eras passadas. Casos como, recentemente, assisti Ronnie Von cantando a música A Praça (uma das muitas que ainda sei de cor), numa abertura da Praça é Nossa (humorístico) e no programa da Hebe (já falecida, ambos no SBT). 

Um turbilhão de lembranças de um tempo em que este acesso era difícil, porém, hoje, se faz presente na forma de “vale a pena ver de novo” em filmes, novelas, programas de auditório, atividades esportivas. Enfim, nutrem uma sensação de nostalgia por um tempo mais simples, quando os ídolos pareciam existir em um reino além da realidade. As novas tecnologias possibilitam conviver com os tempos em que este acervo se formava e não havia, ainda, instrumentos para o seu acesso.

Hoje, vive-se num tempo de solidão institucionalizada (negada ou menosprezada) e revisitar o passado é uma das formas de superar o isolamento não apenas para idosos e pessoas doentes, mas para muitos que, no dia a dia, sentem falta do convívio social e familiar. Para estes, o que é classificado como perigo por especialistas no uso das telas ao acessar as redes sociais e streaming, é a oportunidade de sentir-se participe de algum tipo de relacionamento humano. Mesmo que seja a distância.

Recentemente, muitos filmes recuperaram personagens que frequentaram o imaginário, como “bom rapaz ou boa mocinha”, em especial dos que foram jovens nas décadas de 70 e 80. É estranho, resgatar uma história de vida, da forma como as produções apresentam, que se distancia dos “modelos” que se “comprava” como sendo os ídolos de então. Revisita-se um passado em que a imagem era a superfície sem manchas e, hoje, as histórias vão sendo contadas com o amadurecer e o distanciamento do tempo.

Emblemático assistir ao filme “Homem com H”, a história de Ney Matogrosso. Em especial, narrando dilemas pessoais (familiares e sexuais), marcando o cenário artístico conturbado de então. Resta um gosto de que a precaridade do sucesso corrói valores e a própria vida, como os mitos do passado que desmoronam muitas vezes sob o peso do tempo e de uma revisão crítica dos fatos, ecoando a pungente canção de Cazuza, "O tempo não para". A imagem concebida de forma ingênua mostra o quanto a juventude é fugaz e cria mitos que não se sustentam na realidade e na revisão da história… (Este e outros textos em manoeljesus.blogspot.com)

domingo, 6 de julho de 2025

Saborear a vida

Simplesmente assim:


O tempo amadurece o sentimento de que nem tudo

Com o que a gente se importa, de fato, tem valor.

A busca por realização somente é saciada

Quando restam boas lembranças das pessoas

E dos lugares por onde se conviveu.

Viver é uma oportunidade e uma graça.

A chance de experimentar este dom precioso

Que somente se valoriza quando, andado um percurso,

Alcança-se o olhar ao Infinito, 

No encontro de um terno e derradeiro horizonte.


Benditas são as lágrimas que percorrem os sulcos da tua face.

Podem ser de dor, mas também a oportunidade

Para livrar-se dos sentimentos que se tornam desnecessários.

No instante em que a vida se transforma em canção

Ou quando se desafina o tom, sem desistir de cantarolar.

Momento em que não há mais voz para solfejar a letra,

Porém, a música continua assobiando pela memória.

No acalento da saudade, se transforma no desejo

De sorver os poucos segundos que ainda têm o gosto de destino…

(Este e outros textos em manoeljesus.blogspot.com)

sábado, 5 de julho de 2025

“O Natal de Poirot”, de Agatha Christie

Leituras e lembranças

"O Natal de Poirot" se passa na véspera de Natal, quando o tirânico e odiado patriarca Simeon Lee convida seus filhos e esposas para uma reunião familiar em sua luxuosa mansão. A atmosfera está longe de ser festiva, permeada por ressentimentos, segredos e intrigas. A tensão atinge o ápice quando, após o jantar, um barulho ensurdecedor de móveis sendo destruídos é ouvido, seguido por um grito agudo. Simeon Lee está morto em seu quarto, trancado por dentro, em uma poça de sangue, degolado...

O detetive Hercule Poirot está no vilarejo para passar o Natal e oferece ajuda na investigação. Ele se depara com uma família onde todos têm motivos para desejar a morte do milionário. Poirot precisa usar sua astúcia para desvendar as complexas dinâmicas familiares, expor mentiras e descobrir a verdade por trás do brutal assassinato. O mistério se aprofunda com a descoberta de que o crime foi planejado meticulosamente, com reviravoltas surpreendentes e um final chocante.

A ambientação natalina, com seu contraste entre a festividade da época e a brutalidade do crime, adiciona uma camada irônica e impactante à história. Poirot está em sua melhor forma, com sua meticulosidade e observações afiadas, desvendando os mistérios da família Lee. É um livro que diverte e desafia o raciocínio do leitor, sendo altamente recomendado tanto para fãs da autora quanto para quem deseja se aventurar no gênero policial. O final é, como de costume da autora, surpreendente e difícil de prever.

Juntamente com Miss Marple, o detetive Hercule Poirot preencheu o imaginário de muitos leitores, especialmente na segunda metade do século passado. A primeira, também conhecida como Jane Marple, aparece em 12 romances e em 20 contos policiais de Agatha Christie. Solteirona, vive no vilarejo fictício de St. Mary Mead, atuando como “detetive amadora”. O segundo é um personagem extravagante, belga, sem ser modesto e que se gaba da sua inteligência diferenciada…

"O Natal de Poirot" compartilha muitas características com outras obras clássicas da especialista em suspenses, destacando-se aquelas que envolvem o "mistério de quarto trancado" e a reunião de um grupo limitado de suspeitos em um local isolado. "O Natal de Poirot" é um exemplo do estilo e da maestria de Agatha Christie, combinando elementos clássicos de mistério com uma ambientação festiva que adiciona um toque único à trama. É um livro que solidificou sua reputação como a "Rainha do Crime". (Este e outros textos em manoeljesus.blogspot.com. Com pesquisa da IA Gemini)


sexta-feira, 4 de julho de 2025

Mudanças e histórias ressignificadas

Artigo da semana:

Se não existia, criei a expressão “mudanças sempre causam lambanças”. Por temperamento, preciso de um tempo para amadurecer qualquer coisa que me tire da rotina. Ainda mais que a novidade se chamou deixar onde praticamente nasci (viemos de Canguçu para Pelotas em 1959) e lá fiquei por 64 anos, com idas e vindas, sempre onde deixei minhas referências. O lugar que acolheu a mim e a minha família como migrantes numa mistura de carinho e desafio.

Depois de todo este tempo, parti da casa velha onde exercitei minha capacidade de “imitador de arquiteto” com inúmeras construções do tipo “puxadinhos”, ao ponto de que meu padrinho Valdemar brincar comigo e com a Neli (sua esposa) “do que nós iríamos inventar de novidade”. Meu pai construiu o primeiro corpo da casa, depois foi tudo comigo. Com pouco dinheiro, ainda jovem, eu e meu irmão construímos dois quartos independentes na parte superior da casa.

Depois, meu puxadinho chegou a um apartamento completo, onde passei mais de 30 anos. Para juntar as duas casas, um jardim de inverno. E como meu pai era agregador nato, a área gourmet, onde ele e meus cunhados, além de amigos, exercitaram a arte do churrasco. Habilidade que eu não tenho (sequer paciência) de esquentar a barriga na beira do fogo. O tempo levou aqueles com quem tive a alegria de conviver. E a casa foi se tornando grande demais para uma pessoa só.

Como sei que só pego de arranque, conversei com a Roberta, que já alugava a parte debaixo, onde funciona um salão de beleza há mais de cinco anos. Em outras ocasiões, havia manifestado interesse na casa inteira. Propus trocar pela moradia que a Roberta tinha no residencial Moradas Club, ainda na vila Silveira. Ajustamos os finalmente dos “pilas” e chegamos a um acordo. Adverti: o que tiver que ser feito, tem que ser para ontem. “Se eu pensar demais, desisto”.

Tive a ajuda de muitas mãos, inclusive da Roberta e sua irmã, a Renata. Objetivas, competentes, supriram minha total incompetência em organizar transporte e acomodação. Em certos momentos, senti-me tonto e, então, era seguir o fluxo. Hoje, já estou bem instalado, sentindo que a mudança não precisa ser ruim, mas alcançar novos patamares, até nas relações humanas. Não importando a idade e sim não perder a oportunidade de ressignificar a própria história.

terça-feira, 24 de junho de 2025

Coreia do Sul e a Jornada da Juventude

Artigo da semana:

A morte do papa Francisco e a realização da Jornada Mundial da Juventude Católica, em 2027, em Seul, na Coreia do Sul, despertam a atenção sobre o catolicismo naquele país. Onde cerca de 5,8 milhões de pessoas, 11% da população, se diz católica. Naquela localidade, não foram os missionários que abriram caminhos, mas sim a disseminação de uma literatura religiosa, especialmente nos meios educacionais, já no século XVIII. A Igreja Católica seguiu os mesmos rumos que em outros lugares, especialmente, até a metade do século passado, contribuindo com a educação, o atendimento à saúde e o desenvolvimento social.

Recentemente, muitos textos e vídeos foram publicados a respeito. Num deles, destacava-se o fenômeno do sincretismo, em especial com o Confucionismo, o Budismo e outras práticas tradicionais coreanas. Semelhante ao Brasil, onde a justaposição de religiões e filosofias se dá com o Espiritismo e as de matrizes africanas. Na Coreia do Sul, ela tem se adaptado às tradições culturais do país, como a realização de rituais e festas religiosas em que se combinam elementos do catolicismo e do budismo, por exemplo. 

Sequer os k-dramas (as novelinhas coreanas) escapam da presença de elementos de fé. Em “Young Lady and Gentleman” o casal protagonista se reencontra diante de uma imagem de Nossa Senhora, num templo católico, onde consagram suas vidas. Já em “O sacerdote impetuoso”, um personagem formado como soldado de combate mortal vira padre e enfrenta uma máfia. Sendo um misto de comédia e drama, tem cenas bem violentas. No entanto, o trato com a figura do sacerdote é respeitoso, sem as apelações ocidentais de que, neste caso, sempre arrumam uma parceira para desencaminhá-lo do celibato…

O catolicismo, na Coreia, é uma fé minoritária. Seu crescimento se deve a uma forte presença leiga, antes mesmo que fosse feito o trabalho de missionários. Pesquisas apontaram a “simpatia” pela religião por sua forte presença nas causas sociais. O Budismo tem o maior percentual, seguido daqueles que se dizem protestantes. O fenômeno interessante é que o Budismo chega a 22% da população; cristãos (católicos e protestantes, somados) a quase 40% e as demais denominações fecham os outros 38%.

A cultura oriental tem suas próprias peculiaridades. Não se pode generalizar, com a antiga história de que são “todos com olhos puxadinhos…” Eventos como este, reunindo jovens de todos os continentes, alavancam o fervor religioso, mas também tem reflexo no turismo, economia e o dia a dia das pessoas. Foi assim no Rio de Janeiro, como em outras grandes metrópoles. Certamente, com a presença do papa Leão XIV, a oportunidade de se rezar pela paz e o tão necessário entendimento entre os povos.


domingo, 22 de junho de 2025

Simplesmente assim: O outro

"Bom-dia", "Boa-tarde", "tudo bem?"

Não são palavras que apenas acolhem. 

Mais ainda: anulam a invisibilidade.

A pessoa na parada do ônibus por onde andas,

O jardineiro aguardando passares a fim de te proteger,

A catadora de lixo reciclável que todos os dias

Revira os latões em busca do sustento.

Quando levantam os olhos

Compartilham a angústia por estabelecer pontes.

 

Saudar alguém que já se conhece é costume.

Surpreender um passante na rua com um sorriso,

Uma palavra de carinho,

Revoluciona o estado de espírito

De quem dá e de quem recebe atenção.

Encolhidos e escondidos em nossos casulos

Perdemos o melhor no baile da vida:

Para seguir o compasso pelo salão é preciso

A coragem de tirar alguém para dançar…


sábado, 21 de junho de 2025

A cidadania é a meta, os livros são o caminho









Leituras e lembranças:

 Ainda não se inventou uma forma melhor de transmitir conhecimento e emoções do que o livro. Também, é uma das melhores maneiras de adquirir vocabulário e desenvolver raciocínio ágil. Desde que nossos antepassados começaram a gravar em pedra o que estavam pensando e sentindo, evoluindo para o uso do pergaminho e do papiro, até chegar ao formato que conhecemos hoje. Nestes tempos bicudos, já se vislumbra um futuro onde aparecem os livros eletrônicos e os audiolivros, por exemplo.

Vivemos uma fase de transição em que o impresso vai, gradativamente, sendo substituído pelo digital. Claro que ainda existem os "analógicos" (como eu), que preferem o "cheiro da tinta e a sensação de tocar o papel..." Mais ou menos como os velhinhos pré-Gutenberg que carregavam seus papiros e pergaminhos embaixo do braço e criticavam aquela novidade que era o livro impresso, afirmando, categoricamente, ser apenas modismo e que iria passar. Não passou, bem pelo contrário, decretou a agonia dos anteriores…

Num tempo em que se fala tanto em preservação dos recursos naturais, por uma questão ecológica, os eletrônicos possibilitam a diminuição do consumo de papel que, em períodos recentes, devastou matas e, quando replantado industrialmente, tira espaço de reflorestamento nativo. Uma das possibilidades é a utilização do papel reciclável. Conserva os recursos naturais, economiza água e energia, assim como reduz os resíduos. Seu desafio são os custos (é mais caro que o papel virgem), a qualidade e a aparência.

Em qualquer dos casos, o importante é estimular a leitura. A diminuição de obras publicadas na linha da ficção (especialmente romances) levou a exercitar a criatividade. A Coreia do Sul, por exemplo, publica histórias para serem lidas em celulares ou tablets, por assinatura. E se dissemina o uso dos audiolivros, especialmente para pessoas com deficiência visual, idosos e doentes.

Quem despreza livros eletrônicos, dizendo que ainda não se popularizou, pode falar o mesmo do impresso. Num país que apoia a leitura no discurso, mas não, na prática, tem-se a grande maioria de brasileiros que, privada do acesso aos livros, pelo custo ou uma educação deficiente, não é estimulada a ler. Típico de estados que não se importam com a educação política de seus cidadãos, convencidos de que precisam ter seus políticos de estimação. Infelizmente, hoje, brigar por “a” ou “b” tornou-se mais importante do que pensar num futuro em que a plena cidadania é a meta e os livros, com certeza, serão o caminho. (Ilustração geradas pela IA Gemini - este e outros textos em manoeljesus.blogspot.com)

sexta-feira, 20 de junho de 2025

Encontros possíveis

Sexta com gosto de poesia:

Um dia, tive que seguir o meu rumo.

Ausentar-me foi o tempo de espera pela volta.

Na despedida, as lágrimas contidas

Acabaram transbordando no olhar.

Regressar era a condição definitiva

De aceitar o quanto precisava de ti.

Quando te reencontrei, prometi que,

Desta vez, não haveria nova partida.

 

Mirar-te não era mais contemplar o viço

De quem está permanentemente energizado.

Somente em teus olhos reencontrei a fagulha

Que mantém a chama da existência.

E, mesmo assim, queria que fosse

Suficiente para aquecer o meu peito.

As marcas da história de uma vida

Cravejadas em teu rosto e em tuas mãos…

 

Teu abraço ainda tem o gosto

Das brasas mornas que não desistem do calor,

Que somente encontrei contra o teu peito,

Na doçura de um coração eternamente apaixonado.

Jurei que, quando nos faltarem as forças,

mesmo assim, vou pedir que não desistas de mim.

Rezo para que nunca estejas só e

que sempre sejas feliz.

O sentimento de quem alcança a plenitude

Ao ajudar alguém a realizar os seus sonhos.

Mesmo que a gente já não esteja mais neles…


terça-feira, 17 de junho de 2025

Abstinência do uso de eletrônicos

Artigo da semana:

Recentemente, li postagem de um casal que resolveu deixar o celular guardado em casa quando jantou fora. Diziam que, no início, foi difícil, pois, ao sentarem para fazer o pedido, ficavam colocando a mão no bolso/na bolsa para conferir mensagens. Depois de algum tempo, a conversa fluiu, pois não havia interrupção com “alertas” ou toques desnecessários. Após a comida, passaram um bom tempo passeando e conversando. Ao chegar em casa e conferir o telefone, viram que havia algumas mensagens, mas nenhuma delas que fossem urgentes.

Ao discutir o uso de novas tecnologias, especialmente as redes sociais, tenho que confessar minha dependência com os eletrônicos. Na maior parte das vezes em que saio de casa, carrego o celular comigo. Não pelas mensagens ou ligações, mas porque se transformou no meu “player”. Selecionei cerca de 160 músicas, especialmente das décadas de 70 e 80. Coloco meus fones de ouvido e faço a caminhada ou ando pelas ruas, comércio e serviços com a minha trilha musical de fundo.

A dependência dos recursos eletrônicos leva a sermos desrespeitosos em situações como a sala de aula em que alunos mantêm o celular ao lado dos cadernos e dos livros. O motivo é dar uma “frestiadinha” ocasionalmente, para ver se existe alguma “emergência”. Infelizmente, é o motivo de distração para quem usa o aparelho, quem está no entorno e deixa o professor ou palestrante com a sensação de que não está agradando… os resultados das restrições impostas ao seu uso em sala de aula e ambientes escolares mostrou uma redobrada atenção e intensificou o convívio social.

Também há o caso de uma vizinha e amiga que fez o que faz a maioria das pessoas: após adquirir o celular, abriu mão do telefone fixo. Só que tem um detalhe: no caso, não carrega o aparelho com ela. Somente atende em casa. Os conhecidos já sabem as “manias" e se programam para ligar no horário do almoço ou à noite, quando se preparam para um bom papo. E nem pensa em usar o WhatsApp. Não tem. Diz que não sabe usar e prefere falar ao vivo, ir até a casa das pessoas amigas ou vizinhos.

Tento e falo a respeito da necessidade de se fazer abstinência do uso de eletrônicos. Caminhar “sem rumo e sem destino”, apenas ouvindo o som das ruas, muitas vezes pode ser construir espaços de sanidade mental. Prescindir do celular em sala de aula, na mesa de refeições, quando se está em família ou comunidade, oportuniza uma convivência mais saudável e necessária para desintoxicar o organismo, a mente e o próprio coração… (Imagem gerada pela IA Gemini)


Imagens e sentimentos: Somos

Brincas em meus sonhos,

Transitas por minhas fantasias.

Fazes parte do meu imaginário e

Partilhas das minhas alegrias!


                            Manoel Jesus

           (Imagem gerada pela IA Gemini)


domingo, 15 de junho de 2025

Simplesmente assim: Morrer

Não é a finitude que angustia, mas, sim, a dor.

Envelhecer é o caminho em que se outona a vida,

Quando as folhas secam, tombam e nutrem a terra.

No tempo em que as ausências são mais sentidas,

A finitude afronta e cria a consciência de que

Se dissolvem os derradeiros rastros que ficaram no amor.

Tem-se um dia para morrer e todos os outros para viver, 

Ao se perceber que o fim se torna o espelho 

Em que somos apresentados à solidão.


O desejo de aceitar um bem maior: a própria vida,

Pois ao querer mudar o Mundo, aprende-se que, antes,

É necessário mudar a si mesmo.

O jeito de perceber que as transformações 

São feitas ao sabor da brisa... E não dos ventos.

Iniciam, exatamente, quando se ressignifica 

A capacidade de acolher e cuidar de quem se ama.

O próximo que não cabe em discursos, mas, sim, 

Num abraço em que se alcançam as presenças…

E se acalentam as ausências!


sábado, 14 de junho de 2025

Sabrina, Capricho e companhia

Leituras e lembranças:

Brinquei, quando falei sobre a coleção de livros Winnetou, semana passada, que, hoje, trataria um tema feminino. Pensava abordar a década de 70, um período efervescente para as revistas femininas no Brasil, refletindo e, por vezes, moldando as transformações sociais e o papel da mulher na época. Pode-se destacar títulos como Sabrina, Júlia e Bianca. Coleções de romances sentimentais, popularmente conhecido por “romances de banca”. Geralmente de autores internacionais, com histórias de amor e enredos idealizados, tendo protagonistas bonitos, cenários românticos e finais felizes.

O conteúdo era voltado para o público feminino (mas tinha muito homem que dava uma espiada…), oferecendo uma fuga romântica e explorando temas de amor, paixão e superação, em um contexto que, para a época, buscava conforto e inspiração em relacionamentos mais "clássicos" e menos "escandalosos". A popularização do gênero viu o florescimento de diversas revistas femininas no Brasil, que abordavam temas como moda, beleza, comportamento, culinária, casa e família, e, gradualmente, começaram a incorporar discussões sobre a emancipação feminina e a sexualidade.

Destacaram-se, entre outras, Cláudia, abordando uma gama de assuntos para a mulher moderna de então, desde moda e beleza, até questões sociais e familiares. Capricho, inicialmente com suas fotonovelas (um capítulo a parte), que expandiu seu conteúdo para moda, beleza e temas de interesse do público jovem feminino. Amiga, focada em celebridades, bastidores de televisão e interesse geral para o público feminino. Carinho, para mulheres com mais de 16 anos, abordando relacionamento, sexualidade e o dia a dia feminino, incluindo fotonovelas.

Estas revistas, cada uma com seu enfoque particular, tiveram papel importante na vida das mulheres brasileiras nos anos 70, oferecendo informação, entretenimento e, de certa forma, influenciando ideias sobre o que significava ser mulher naquele período de transformações sociais e culturais. Para os que torcem o nariz para a literatura popular, sinto dizer: muita gente começou a ler por estas revistas, fotonovelas e gibis. 

Num país em que o livro era - e ainda é - caro e não se tem uma cultura da leitura, até ler bula de remédio é um consolo. Pelo esforço de se fugir à mesmice folheando um livro, uma revista, um gibi, a tela de um tablet ou celular, transformando a leitura na viagem em que a imaginação acarinha o coração… (Com pesquia IA Gemini - este e outros textos em manoeljesus.blogspot.com)


sexta-feira, 13 de junho de 2025

Um minuto apenas…

Sexta com gosto de poesia:

Me guarda um minuto do teu tempo.

Vamos andar pelo parque,

Pelas praças, pelas ruas.

Se me deres a mão,

Sentirás e me darás segurança,

Reencontrada na confiança da cumplicidade. 

No brilho dos nossos olhos,

Esquecer, ao menos por um momento,

De tudo o que fez o tempo ter sabor de amargura.

 

Vamos fazer uma festa gastronômica,

Percorrer os lugares da saudade, onde

As bocas se lambuzam de lembranças

E os olhos ficam adocicados de ternura.

Experimentar os sabores

Que rememoram a infância:

Algodão-doce, churros, pipoca,

Amendoim, cachorro-quente...

Sem que o coração regule o andar do relógio,

Pois corre marcado pela saciedade das emoções.


E quando os minutos se enfileiram,

Nos risos e sorrisos que alcançam o Infinito,

Sentirás o gosto da vida transbordando...

Verás florescer em quem amas

A vontade de que o abraço amigo se transforme

No colo que já não se importa com o instante.

Vislumbrar um minuto apenas se torna 

A eternidade das pequenas alegrias compartilhadas!


terça-feira, 10 de junho de 2025

Os armazéns da minha vida

Artigo da semana:

Muitas das minhas recordações já se perdem na neblina das lembranças. Especialmente dos primeiros anos. Viemos para Pelotas, do interior de Canguçu, quando eu tinha 4 anos. Voltávamos ao menos duas vezes por ano, nas férias escolares, à região onde se criaram meus pais. Com quatro filhos, migraram para a periferia de uma cidade grande para fugir das dificuldades financeiras e encontrar educação continuada para os filhos.

Quando descíamos no lugar que era chamado de Três Porteiras, o paradouro era na venda do seu Antônio Mattos. Após passar por outro armazém, o do seu Diogo Fonseca e o cemitério. Sinal de que estava perto do desembarque do ônibus. De longe se viam os cinamomos. Às sombras, ficavam os cavalos amarrados e as carroças, esperando para mais uma etapa da viagem, agora por estradas que eram autênticas trilhas.

O ambiente de convivência foi reproduzido por meu pai ao instalar o bar e armazém Raulin, em Pelotas. Lugar de comércio, encontro e confraternização, onde o arroz e o feijão eram servidos e pesados a granel. E os baleiros faziam o encantamento e o desejo das crianças. Também o serviço do martelinho de cachaça, motivo de encontro dos vizinhos, no fim da tarde, após o trabalho e antes de se recolherem às casas.

Completando o comércio, no interior, sempre havia uma cancha de bocha para as disputas entre amigos, especialmente os mais velhos, nas tarde de sábado e domingo. Uma cancha reta de carreira para a disputa dos cavalos e seus cavaleiros completava o ambiente. A bocha era somente para homens e as disputas de cavalos reuniam as famílias e amigos, formando torcidas e discussões que se estendiam por muitos dias.

A RBS TV, num Jornal do Almoço, apresentou programa sobre os 150 anos da colonização italiana no Rio Grande do Sul. Não faltou um armazém, presença nas rotas de abastecimento e retirada das safras: uma venda de "secos e molhados". Onde fantasmas trazem à memória quem estava à porta do boteco: parentes e conhecidos, para um aperto de mão, abraços e pedir a bênção aos mais velhos. O tempo que brinca com as memórias onde as presenças afetivas se misturam com as ausências, os cheiros e os sabores do passado…


domingo, 8 de junho de 2025

Simplesmente assim: “Bobo”

Envelhecer é redescobrir o sentido de ser “bobo”.

As convenções sociais passam a ser menos importante 

Do que a felicidade ao lado de quem se ama.

O primeiro toque na mão do recém-nascido

Desvela o sentimento da infinitude que desabrocha.

A conquista do direito de ter as mãos do filho 

Entre as da gente num momento de confidência.

As forças que se esvaem no entardecer da existência, 

Mantendo o sorriso da vida que teima em não desistir.

 

Rir, sorrir, brincar, dançar… 

Me faça ser “bobo” como somente a inocência é capaz.

Encontrar um olhar de ternura e mergulhar num abraço.

Na possibilidade das energias que se reencontram,

Erguer os olhos da desesperança,

Para compartilhar um instante de felicidade.

Energizado pela forma como sorris,

O jeito desengonçado como andas, ouvindo

A tua primeira palavra do dia, 

Carinhos que redesenham a própria alma!



sábado, 7 de junho de 2025

Winnetou, de Karl May

Leituras e lembranças:

Recebi mensagem dizendo que este espaço poderia ser chamado de “leituras, lembranças e preciosidades". Pois, eis mais uma delas para “rapazes” de hoje que foram garotos nas décadas de 60 e 70 (para as “moças”, escrevo na próxima semana). Falo de "Winnetou", a obra mais famosas do escritor alemão Karl May (1842-1912), conhecido por romances de aventura (tipo “mocinho e bandido” ou “mocinho e índios”) ambientados no velho oeste americano e no Oriente Médio.

Karl May teve uma vida bastante peculiar e cheia de percalços, incluindo períodos na prisão, onde desenvolveu sua paixão pela escrita. Embora tenha narrado histórias sobre o oeste americano e o Oriente Médio com detalhes e realismo, ele só visitou essas regiões no final de sua vida, como turista. Grande parte de suas descrições e conhecimentos vinham de leituras e da sua imaginação fértil.

A trama de "Winnetou" gira em torno da amizade e das aventuras do protagonista alemão, um agrimensor que se torna conhecido como Old Shatterhand (Mão de Ferro), e o chefe apache Winnetou. Inicialmente, os dois se encontram em lados opostos de um conflito territorial, com Shatterhand trabalhando para a construção de uma ferrovia que atravessaria as terras apaches. No entanto, após uma série de eventos dramáticos, incluindo a morte do pai e da irmã de Winnetou, os dois desenvolvem um laço de amizade profundo e se tornam irmãos de sangue.

Presente em muitas bibliotecas juvenis, "Winnetou" teve um impacto cultural significativo, primeiro na Alemanha. Depois ganhou o mundo, estimulando a imaginação, ajudando a moldar a percepção de gerações de leitores sobre o velho oeste, a cultura indígena americana e os valores de amizade e heroísmo.

A popularidade de Winnetou levou a várias adaptações para o cinema e a televisão, sendo as mais famosas uma série de filmes alemães produzidos na década de 1960, estrelados por Pierre Brice, como Winnetou, e Lex Barker como Old Shatterhand. Esses filmes contribuíram ainda mais para a imagem icônica dos personagens e para a duradoura admiração pela obra de Karl May.

Apesar de algumas críticas modernas sobre a representação dos povos indígenas e o orientalismo, o legado de "Winnetou" permanece um marco na literatura de aventuras. Seus exemplares, hoje, são raros. Encontram-se em sebos físicos ou virtuais. Você já leu ou assistiu? Se sim, qual foi sua impressão? Na biblioteca do Seminário Diocesano de Pelotas tinha a coleção completa, quando eu estava na faixa dos 12 aos 14 anos. Foram boas leituras, deixaram boas lembranças… (Com pesquisa IA Gemini)

sexta-feira, 6 de junho de 2025

Partilha de sentimentos

Sexta com gosto de poesia:

Feridas sempre causam dor e deixam marcas.

Escondidas nas chagas abertas, desvenda-se uma história.

As piores são aquelas que se alimentam das ausências.

Mesmo quando são causadas por "boas intenções",

Revestem-se do medo da solidão.

Pois quem clama aos quatro ventos

Ter projetado a solução dos teus problemas

Foi incapaz de, simplesmente, te alcançar a mão.

 

Toda a vez em que apontava

O que outros haviam feito para ferir,

Recusava reconhecer a sua responsabilidade.

Não sabia o quanto magoava.

Quando se precisava de um abraço e compreensão,

Dispensam-se as críticas sobre 

O comportamento próprio ou alheio.

Basta abrigar sobre o peito nos momentos mais difíceis.

 

Feridas não surgem do nada.

As que laceram o físico, podem ser feitas por descuidos

Ou adversidades e precisam de paciência

Para que virem cicatrizes.

As que chagam a alma, sangram vivências.

O tempo somente não é suficiente para serem apagadas.

Perseguem a mente e o corpo enquanto

Não encontram o bálsamo de um carinho, no milagre

Da graça e bênção de uma partilha de sentimentos…


terça-feira, 3 de junho de 2025

Eu, a garça e a dança do pescoço reto…

 Artigo da semana:

Antigamente (meu tempo), quando alguém aparecia com o pescoço se projetando para a frente, falava-se no mau costume da leitura, costura ou atividade que exigisse muita atenção. Era, como hoje, um jeito viciado de se comportar. Que, infelizmente, está aparecendo nos jovens cada vez mais cedo. Pelo acesso excessivo de telas, especialmente de celulares, mas também de tablets e computadores em alturas que exigem dobrar o pescoço e o rebaixamento da cabeça.

Recentemente percebi isto em jovens que saem de uma cancha de futebol em frente da minha casa. A primeira coisa que fazem é retirar seus celulares das mochilas e caminharem consultando mensagens. Impressiona como aumentou o número daqueles que tem esta postura viciada. O "pescoço de texto", ou "anteriorização da cabeça", como tratam os especialistas, é a porta para muitos problemas. Sobrecarrega os músculos e a coluna cervical, causando dores, rigidez e, até mesmo, a síndrome do pescoço reto.

Quando percebi que fazia isto, tentei corrigir, não somente policiando a postura, mas incluindo exercícios apropriados. O engraçado é que "torcido o pepino" até inconscientemente se repete o mesmo vício. Num vídeo que gravaram da minha participação no encontro da Pastoral da Juventude em Bagé, houve um momento de música em que dei uns passinhos de dança. O ridículo dos ridículos! Podia ser tudo, menos dança. Com o pescoço torto, parecia mais uma garça tonta, ou bêbada.

Já vinha reparando nas fotos e vídeos que faziam de encontros ou palestras dos quais participava. Busquei orientação e me disseram o óbvio: a má postura cervical, o longo tempo passado em leituras de forma desleixada ou trabalho em equipamentos que faziam encurvar para a frente judiaram a postura. Vencê-los exige persistência e cuidado, pois o que aparentemente não causa problemas agora se transforma em algo bem sério na fase adulta e, especialmente, no envelhecimento. Dois exercícios básicos me auxiliam.

Em tese, sabe-se que os problemas de hoje têm origem na educação. O que muitas vezes não se sabe é o que fazer. É assim no comportamento físico dos jovens. O desleixo ao sentar e caminhar são maus hábitos. Usar eletrônicos corretamente, fortalecer a musculatura, pedir apoio de pessoas mais próximas para ser alertado e, em casos extremos, a ajuda de um profissional, que pode ser um fisioterapeuta ou ortopedista. Sem isto, é bom se acostumar com as dores e desconfortos. E evitar fotografias e filmagens…


domingo, 1 de junho de 2025

Simplesmente assim: Um mate

Queria matear contigo.

Sentar na roda em que se desfazem as diferenças,

Quando a cuia passa de mão em mão, 

Estreitando os laços de amizade,

Reforçando o sentido da fraternidade,

Aquecendo o peito, no silêncio das palavras

Que não precisam ser ditas,

Simplesmente se transformam em olhares e sorrisos.

 

Na roda de mate estão os que ficaram 

E quem se gostaria de reencontrar.

Matear contigo é contemplar um pouco da Eternidade.

Quando mesmo as ausências são apenas 

Uma pequena distância ao alcance do coração.

Me passa o mate.

No calor da cuia e da mão que o entrega

Se faz a partilha de almas,

Que encontram na beira de um fogo

O calor de um grande e apertado abraço!


sábado, 31 de maio de 2025

Os livros da Reader's Digest Seleções

Leituras e lembranças:

Quem já viveu algum tempo na volta dos livros deve ter conhecido a coleção que a Reader's Digest Seleções publicou com edições compactas e resumidas de obras, muitas vezes reunindo vários títulos em um único volume. Nos meus tempos de juventude, o dinheiro era curto. Então, me valia das bibliotecas ou do empréstimo de alguns conhecidos. Foi quando fui apresentado a alguns dos compêndios. Eram edições condensadas, múltiplos livros em um volume, variedade de gêneros, com traduções e adaptações.

Nos últimos cinco anos, batalhei para refazer minha biblioteca. Nas muitas andanças, acabei doando grande parte do acervo que tive. Quando saí do Seminário, quando fui para Porto Alegre, ao me aposentar… Ocasiões em que entreguei para bibliotecas da Universidade, Seminário, Instituto de Menores, Presídio e instituições que se interessassem em aumentar o acervo. Fiquei com pouco mais do que 50 livros. E fui à cata das obras que já estiveram comigo, em livrarias e sebos.

Uma das alegrias foi reencontrar estes compêndios, que estavam nas minhas memórias como livros com argumentos leves, histórias envolventes e linguagem acessível. Coleções de publicações diferentes de qualquer outro “clube do livro”. E, agora, segundo me informaram livreiros de sebos em Pelotas, Porto Alegre, Florianópolis, aparecem leitores nostálgicos em reencontrar, em muitos casos, os primeiros contatos com a leitura. Como no meu caso, nas décadas de 70 e 80.

Os livros publicados pelas revistas Seleções foram, para muitas gerações, a porta de entrada para o mundo da literatura. A estratégia de condensar obras permitia que leitores com menos tempo ou que buscavam uma leitura mais acessível tivessem contato com best-sellers e clássicos. Essa democratização do acesso a histórias variadas é um legado importante. Pena que estas publicações tenham sido descontinuadas. Manteve-se a revista e praticamente se extinguiu a publicação de livros.

Os “cúmplices” na caça a estas publicações (os livreiros de sebos) estão sempre farejando novas levas de livros que as pessoas, pelos motivos mais diversos - mudança de casa, diminuição dos espaços, até a morte… - precisam desocupar espaços. Pena. A história de uma pessoa pode ser contada pelos livros que leu. E as obras publicadas por Seleções me ajudaram (e ajudaram a muitos) a enriquecer vocabulário, incentivar a criatividade mental e embalar muitos e muitos sonhos! (Com pesquisa da i.a. Gemini. Este e outros textos em manoeljesus.blogspot.com.)

sexta-feira, 30 de maio de 2025

Alguém para se tornar um lar

 Sexta com gosto de poesia:


Não se esquecem bons momentos.

Adormecem em um recanto da memória

E, passado algum tempo, despertam,

Se espreguiçam e emergem diante de nossos olhos.

À procura de coisas aparentemente banais:

O lugar de sentar à mesa,

O cafezinho sorvido no recanto da cozinha,

Andar por lugares que criaram hábitos e costumes.

 

As lembranças andam por vias tortuosas

Deixando o sentimento de que,

Por algum motivo, ficaram incompletas.

Na banalidade em que se transforma o existir,

Nas rotinas em que não se valoriza o presente,

O passado tem gosto do que não se viveu plenamente.

Ainda havia algo a ser feito e não se conseguiu forças

Para compartilhar com quem se amou.

 

Felicidade é a busca por preencher lacunas.

Costurar os lugares em que a dor penetrou,

Uma limpeza de tudo o que se acumulou.

Ambicionar reviver momentos felizes e

Ao esquecer de onde é a própria casa,

Precisar de alguém para se tornar um lar.

Prender a felicidade antes que esvaneça.

Ao desaparecer o que dá brilho aos olhos,

Evapora-se o que dá rumo à própria vida…


terça-feira, 27 de maio de 2025

Um coração que sonha em ser bailarino

Artigo da semana:

Gosto de música. Não tenho um gênero específico. Prefiro a boa música. Especialmente as românticas, revestindo uma boa poesia. Minha playlist vai de Roberto Carlos, passando por Toquinho e Oswaldo Montenegro, até chegar a James Blunt, com seu rock com baladas românticas. Fui testemunha de uma época em que a música de qualidade era cultivada e sorvida num ritmo bem mais lento, quando se sabia as canções preferidas de cor e a industrialização ainda não havia banalizado as composições.

Foi o que lembrei ouvindo um programa de sertanejo, domingo pela manhã. Fiquei chocado em ver que os supostos compositores falavam em “parir” músicas como uma chocadeira. Ficou pior quando apresentaram os mais “recentes sucessos”, absolutamente desconhecidos para mim (ainda bem!), com a ausência de qualquer senso de bom gosto nas letras e arranjos musicais. Literalmente, uma produção descartável que, se emplacou esta versão ou os eventos ligados à área, desaparecerão em seguida da memória.

Meu primeiro radinho de pilha chegou quando completei 15 anos (1970). Era presente para acompanhar a Copa do Mundo de Futebol daquele ano. Junto com os fones de ouvido, passou a ser meu companheiro de todas as noites. Era o auge da Jovem Guarda e, claro, Roberto Carlos era o rei. Depois, vieram as festinhas dos grupos de jovens e as discotecas. Ali também havia espaço para a música romântica. Oportunidade para os casais ficarem mais próximos. Quando começamos a receber a música dos estrangeiros.

As canções italianas, em especial, com um romantismo insuperável, por quase três décadas, tornaram-se referencial para jovens apaixonados. O grande propagador era o Festival de San Remo. Em seguida, era lançado um long play com os destaques e os suspiros inevitáveis. Como levava um tempo para chegar, era comum que já houvesse no Brasil versão cantada por um grupo local. E o equívoco engraçado ao se questionar porque os estrangeiros “copiavam” tanto as nossas músicas… Quando era exatamente o contrário!

A música sertaneja teve um tempo forte no Brasil, especialmente na década de 80 e 90. O cancioneiro raiz que, no sul, se ouvia apenas na madrugada, por emissoras de ondas curtas do centro do país, popularizou-se com nomes que estão aí, no mercado, até hoje. Também tenho as preferidas desta vertente. Porque música boa é aquela que acarinha os sentidos quando se precisa ouvir algo que torne o dia a dia mais leve. Nacional ou estrangeira, o importante é que “grude” na memória e aqueça um coração que sonha em ser bailarino…


domingo, 25 de maio de 2025

Simplesmente assim: Bondade

Contagia-me com o teu jeito de ser.

A doçura, o encantamento, a bondade,

São marcas de um coração que

Transborda a disposição de ir ao encontro do outro.

Num tempo em que se valorizam os maus,

É o silêncio dos bons que torna tudo mais difícil.

Quem esquece a própria humanidade,

Endurece a alma, nas pequenas atenções,

As gentilezas que fazem a diferença na vida.

 

Não precisa andar os mesmos caminhos

E, sim, alcançar a mão quando

Desbrava a trilha mais difícil.

Perseguem-se sonhos compartilhados,

Como encontrar a flor que

Desabrocha à sombra de uma árvore. 

A bondade reparte conquistas,

Rememora momentos em que se trabalha a terra,

Semeia, alegra-se com os primeiros brotos e, finalmente, 

O fruto desabrocha no milagre da multiplicação da vida!


sábado, 24 de maio de 2025

Um Deus que Dança - José Tolentino Mendonça

Leituras e lembranças:

José Tolentino Mendonça é cardeal português, nomeado pelo papa Francisco, uma das vozes mais relevantes da Igreja Católica contemporânea. No livro "Um Deus que Dança", transcende os limites da teologia tradicional para explorar a fé de uma maneira poética e humanista. É uma coletânea de crônicas, meditações e reflexões que convidam o leitor a uma jornada íntima de descoberta e redescoberta do divino no cotidiano. Não é um tratado teológico no sentido estrito, mas sim uma obra que se aproxima da literatura sapiencial. 

Tolentino utiliza uma linguagem límpida, por vezes lírica, para abordar temas como a dúvida, a fragilidade humana, a busca por sentido, a beleza, o silêncio e, claro, a presença de Deus. O título, por si só, é uma metáfora poderosa: “um Deus que dança” sugere um divino em movimento, próximo, que se manifesta na alegria, na leveza e na surpresa da vida, em contraste com a imagem estática e imponente muitas vezes associada à divindade.

Dialoga com poetas como Fernando Pessoa, Rainer Maria Rilke, e figuras bíblicas como Jó e Maria Madalena, mostra como a experiência humana, em suas diversas manifestações, é um terreno fértil para a experiência do sagrado. Cada texto é um convite à contemplação, a pausar, a sentir e a refletir sobre as pequenas e grandes epifanias que pontuam a existência. Um dos pontos altos do livro é como Tolentino Mendonça humaniza a figura de Deus. 

 A dança, nesse contexto, pode ser vista como Deus se relaciona com a humanidade: em ritmo, em entrega, em comunhão. "Um Deus que Dança" é um bálsamo para a alma em tempos de aceleração e superficialidade. Em uma sociedade que muitas vezes marginaliza o sagrado ou o reduz a dogmas rígidos, Tolentino Mendonça propõe um reencontro com a dimensão espiritual que é orgânica e profundamente conectada à vida.

Para quem busca uma leitura que instigue a reflexão sobre fé, espiritualidade e o sentido da existência, sem cair em proselitismo, o livro é uma excelente escolha. Não oferece respostas prontas, convite para que cada leitor encontre suas perguntas e, quem sabe, sua “dança com o divino”… A obra é acessível para pessoas de fé e aqueles que se consideram agnósticos ou ateus, pois seus temas são universais e sua abordagem é de uma sensibilidade rara.

A capacidade do autor de transformar o complexo em simples, o abstrato em palpável, e de infundir poesia em cada palavra, faz de "Um Deus que Dança" uma obra singular. Lembrança de que a espiritualidade não se limita a templos ou rituais, mas reside na capacidade de ver o extraordinário no ordinário, de encontrar o sagrado na vida que pulsa, em toda a sua beleza e contradições. (Com pesquisa da i.a. Gemini. Este e outros textos em manoeljesus.blogspot.com).

sexta-feira, 23 de maio de 2025

A profundeza do teu Universo

 Sexta com gosto de poesia:


Teu travesseiro continua no mesmo lugar. 

A cama está arrumada, como se, 

A qualquer momento, abrirás a porta 

E buscarás teu refúgio, sob as cobertas. 

A saudade afofa o lugar na cama 

Onde te encolhias para dormir.

O ninho em que vivias momentos de euforia

Ou de doloroso silêncio. 


Gostava de abrir a porta em silêncio e

Antes de te chamar, contemplar teu sono,

Quando teus sonhos estampavam no rosto

Um sorriso maroto. 

Um jeito bobo, que torna ainda mais difícil 

Pensar que já não estás presente. 

Embalado pelas lembranças, 

Ajeito as cobertas e afofo os travesseiros.

Dou-me conta de que 

Conviver contigo foi o maior de todos os presentes. 


Nos momentos de inquietude, te convidava a

Olhar os céus para te apresentar às estrelas.

Era um tempo de pura magia.

Apontar planetas e constelações 

Fazia teus olhos pesarem e adormecer.

Me sentia privilegiado em contemplar

A serenidade da criança que encontrava 

Abrigo em meus braços. 

Eu era apenas uma testemunha silenciosa,

Pois fazias dos sonhos a viagem pelas 

Profundezas do teu próprio Universo. 


terça-feira, 20 de maio de 2025

Francisco e Leão XIV: continuidade e mudança

Artigo da semana:

Ainda é cedo para dizer algo com maior durabilidade (em definitivo, é praticamente impossível) sobre a escolha do papa Leão XIV para conduzir os destinos da igreja Católica. Uma coisa é certa. Embora sua "juventude", não possui o carisma do papa que sucedeu. E isto é natural. A história vai mostrar que Francisco foi o dirigente religioso adequado para um momento de muitas dificuldades na instituição. O certo é que novos tempos pedem novos protagonistas.

Parece ser este o caso do escolhido no recente conclave dos cardeais, numa cobertura internacional que mobilizou o Mundo. Hoje, embora conservadores vociferem, não têm forças para impor o retrocesso pretendido por grupos políticos que gostariam de transformar a religião em quintal dos seus interesses de poder - político e econômico. No entanto, o peruano (de origem americana) parece não ter medo de ser continuidade. A primeira bênção a Roma e ao Mundo mostrou afinação com a pregação do seu antecessor. 

Na relação com Francisco, a diferença é que, enquanto este precisava sanar problemas internos - como pedofilia, escândalos bancários e tráfico de influência - hoje, os problemas sociais estão exacerbados. A fome, miséria, migrações, guerras, o desequilíbrio climático são pautas das relações institucionais de uma religião que tem sobre os ombros ser referencial moral e ético. Além de representar um estado de direito.

Apesar de Francisco ter carinho popular, não mereceu atenção e respeito no meio da política internacional. Ao que parece, o novo papa tem perfil e preparo para se posicionar com mais firmeza. Afinal, trabalha numa terra que já foi arada, adubada e semeada por seu antecessor. Os sinais dados como homem formado por religiosos agostinianos são o suficiente para se perceber a reverência que tem pelo papa Francisco.

Mesmo que comparações sejam inevitáveis, são desnecessárias. É preciso um tempo para sedimentar seu estilo. As mudanças nos últimos 12 anos recuperaram muito do que foi a pregação do Concílio Vaticano II e da Doutrina Social da Igreja, cujo incentivador foi exatamente Leão XIII. Um caminho traçado para cristãos católicos (e homens e mulheres de boa vontade) que acreditam ser tempo de estabelecer pontes para uma humanidade que vê na religião a oportunidade de fazer do mundo a tão sonhada casa comum.


domingo, 18 de maio de 2025

Simplesmente assim: Perfeição

Retratos e pinturas deveriam envelhecer

Com quem lhes serviu de inspiração.

As mudanças seriam percebidas aos poucos,

Acentuando-se na passagem das estações do ano,

Sentindo que o tempo percorrido

Cinzela a pele, preparada desde a Eternidade,

Para receber os sulcos que tramam imagens

Sem conseguir enganar o destino.

 

Quando a superfície estiver recoberta

Por desenhos aparentemente distorcidos, 

Numa imagem surrealista,

Ganha força o sorriso em que os olhos emolduram

Os vincos que os contornam e reinventam formas.

Entalham as referências de uma vida:

Os caprichos do artista que não

Se preocupa em se curvar à simetria,

Esculpindo mistérios com o olhar sobre 

O que a própria história ainda não contou…


sábado, 17 de maio de 2025

“Temporada de Cura no Ateliê Soyo”, de Yeon Somin.

Leituras e lembranças:

Na vertente literária que chega do Oriente, a Coreia do Norte tem sido pródiga em revelar jovens talentos. É o caso de Yeon Somin que, por lá, faz sucesso publicando livros e na produção para televisão. No recente “Temporada de Cura no Ateliê Soyo” conta a história de Jeong-min que, após sofrer uma crise, isola-se em casa. Por acidente, pensando em entrar num café, entra num ateliê de cerâmica chamado Soyo. 

Passa a interagir com pessoas que têm suas próprias dificuldades e feridas: um adolescente pré-vestibular, uma senhora recém-viúva, uma jovem com inseguranças na carreira e um homem que decide mudar completamente sua trajetória profissional. Através do trabalho com a argila e da convivência, os personagens encontram um caminho para desacelerar, processar suas dores e construir perspectivas de vida. 

O ambiente do ateliê é uma metáfora para a própria vida, como o lugar de expectativas, falhas, novas tentativas e a necessidade de moldar o futuro com paciência. Assim como o lugar, o livro é sensível e acolhedor, abordando temas como burnout, saúde mental, amizade, família e a busca por recomeços de forma delicada e inspiradora. A escrita de Yeon Somin mostra-se leve e cativante, capaz de proporcionar leitura reconfortante, que acalma e oferece profundas reflexões sobre a vida.

A cerâmica é elemento metafórico, ilustrando o processo de cura e transformação dos personagens. Assim como a argila precisa ser moldada com cuidado e paciência, a vida e as emoções também exigem tempo e atenção para se curarem e “descobrirem” novas formas. Segura pela mão quem já vivenciou ou se identifica com sentimentos de exaustão, isolamento ou necessidade de encontrar novo caminho.

A leitura é comparada a assistir a um k-drama (ou dorama, as novelinhas orientais) mais conceitual, com foco no desenvolvimento dos personagens e em temas profundos, o que pode agradar a quem aprecia narrativas mais introspectivas e menos focadas no romance tradicional. "Temporada de Cura no Ateliê Soyo" oferece uma experiência de leitura terapêutica, provocando o leitor a refletir sobre seu próprio ritmo de vida, a importância das relações humanas e a possibilidade de encontrar cura e renovação nos lugares mais inesperados. (Com pesquisa da i.a. Gemeini).

Este e outros textos em manoeljesus.blogspot.com. 


sexta-feira, 16 de maio de 2025

A bênção de ainda respirar

 Sexta com gosto de poesia:


Quando a chuva começar, para no meio da rua.

Ou diminui o passo, entra no ritmo da mudança do tempo

Que marca o breu da noite.

O cheiro da terra molhada preenchendo o ar, 

Na brisa leve que embala o galho das árvores, fará

Sentires o privilégio de estar em sintonia com a Natureza.

Então, não corre ao sentir no corpo os primeiros pingos...


Troca a pressa por chegar pelo gosto de sorver 

A vida que emana das coisas simples,

Escondidas no quotidiano das neuroses e preocupações.

Não te agonies quando raios, trovões e o vento 

Curiscarem, ribombarem, açoitarem.

Andar sozinho sob a chuva é perceber 

Que o Mundo ainda pode ser gentil.

Um momento privilegiado para se ouvir 

Os passos na calçada molhada.

E brincar em suas poças é tudo do que se precisa.


Os pingos que se acumulam sobre folhas e flores

Cachoeiram umas, jogam ao chão as outras,

Desenhando as cores de todas as estações.

O Sol, ao dar a derradeira espiada sob as nuvens,

Será testemunho do teu choro, de ajoelhar-te, de bater palmas. 

Não importa a reação.

Mesmo se apenas quedares em silêncio,

Entenderás que a chuva, removendo a maquiagem, 

O perfume, lava todas as vaidades.

Desafiando a erguer o rosto, fechar os olhos e 

sentir-se aspergido pela bênção de ainda respirar.



terça-feira, 13 de maio de 2025

O urbano e a vila de pescadores

Artigo da semana:

Recentemente, passei uma semana no hotel do SESC, em Torres, no litoral norte. Queria mudar de ares, por alguns dias, mesmo estando aparelhado para preparar algumas palestras que estão agendadas. Para uma delas, precisava ler a obra “As Cinco Linguagens do Amor”, que baseou, recentemente, minha participação numa Escola de Formação do Movimento Familiar Cristão.

O hotel fica encostadinho no rio Mampituba, exatamente ao lado da ponte pênsil, havendo muitas rotas a serem exploradas, de ambos os lados. Estive naquela praia, pela última vez, há cerca de 20 anos. As mudanças, especialmente depois da pandemia, foram muitas. Como a criação da orla gastronômica, no encontro do rio com o mar. Os pontos turísticos da alta temporada valem para quem procura belezas naturais (a Guarita é sempre deslumbrante) ou o "centrinho" comercial, que já não é tão “inho” (pequeno).

Quando fui, início de abril, foi um tempo de "turismo geriátrico". Trabalhava um pouco no início da manhã e da tarde, depois descia para o chimarrão ou um café, quando sempre aparecia alguém para uma conversa. Assim como ao percorrer o caminho até os dois faróis, encontrando pescadores e turistas, sem esquecer as excursões, em muitos casos da serra gaúcha, não faltando as cantorias italianas...

Fui surpreendido ao cruzar a “fronteira”, para Passo de Torres (SC). Ligados por ponte convencional, mas também uma de pedestres, que os antigos chamavam de "pinguela". Para, no máximo, 10 pessoas onde, mesmo os mais valentes, sentem um friozinho na espinha quando começa a trepidar… Do outro lado, um elemento chamou a atenção: é, ainda, uma vila de pescadores e, enquanto do lado de cá se vê, na maioria, idosos "turistando", do lado de lá são famílias aproveitando a orla para negócios, especialmente peixarias.

Todo tipo de pequeno comércio, ao longo do rio, até a barra. Idosos e jovens pescam, alguns por diversão, outros para vender o produto, e uma gurizada se oferecendo como guia turístico, claro, por alguns pilas. Um passeio diferente. A imersão em uma realidade que preserva a simplicidade dos barcos que saem cedo para pescar e de quem espia por sobre o rio os atrativos urbanos de uma cidade grande. Sem se importar em compartilhar o encanto do que permanece muito próximo do que já foi apenas uma vila de pescadores…


domingo, 11 de maio de 2025

Simplesmente assim: Eternamente, filho!

Mãe. Palavra estranha... Como lhe dar um conceito?

O que se encontra em dicionário

Não abrange todo o seu significado.

É como a busca por definir "amor".

A incapacidade de encobrir a essência com palavras

É vencida por um sentimento terno e

Aconchegante, do próprio ser que lhe dá sentido.

De quem a gente esquece de qualquer tratamento adequado 

E dispensa o nome pelo qual a chamaram no Batismo…

Simplesmente, Mãe!

 

Gerar é graça concedida a quem ama ao ponto

De renunciar a uma parte das próprias entranhas.

Uma vida de preocupações por quem

Ensinaste a andar e, quem sabe, a voar...

Sabendo que, bem mais tarde, sentirá a falta

Do abraço que é, em qualquer tempo, um porto seguro. 

Quando partes, semeias um gosto de saudade

Nos lábios de quem fica murmurando preces.

Na tua ausência se aprende que

Para sempre serás mãe… 

E por toda a Eternidade serei teu filho!


sábado, 10 de maio de 2025

Ruy Carlos Ostermann - Um Encontro com o Professor

 

Leituras e Lembranças:

Ruy Carlos Ostermann é uma lenda viva do jornalismo no Rio Grande do Sul. Comentarista esportivo, sem perder a noção de contextualização do tempo em que o futebol (especialmente) era praticado, com plena noção do cenário político e econômico gaúcho. "Ruy Carlos Ostermann, um encontro com o professor", de Carlos Guimarães, é um livro que interessa a quem atenta à história da comunicação no estado, tendo como pano de fundo a figura carismática do professor.

Oferece panorama da trajetória intelectual e profissional de Ruy Carlos Ostermann, um nome fundamental no jornalismo e da academia gaúcha. Através de entrevistas, depoimentos de colegas, alunos e admiradores, além de reproduções de seus próprios textos, o livro permite "encontrar" o professor em diferentes momentos de sua vida. Uma diversidade de vozes, resgate histórico, humanização da figura e, como era o seu feitio, muitas reflexões sobre a Comunicação, passando pela formação de seus profissionais, sem descuidar dos desafios que enfrenta em diferentes contextos. 

Dosando informação com uma de suas características: humor sóbrio, em que o foco regional não perde as características do universal. Para leitores de outras regiões, pode ser até que as referências não sejam familiares, exigindo maior atenção. No entanto, a importância de Ostermann para o cenário da comunicação justifica. Porque possui um tom de homenagem, natural em uma obra como esta, o que pode, em alguns momentos, suavizar possíveis controvérsias ou críticas à atuação do professor.

É leitura valiosa para quem deseja conhecer mais sobre a história do jornalismo e da comunicação no Rio Grande do Sul. Principalmente, para aqueles que foram de alguma forma tocados pela figura inspiradora de Ostermann. É um livro que emociona, informa e convida a refletir sobre o papel do professor e do comunicador na sociedade. Se você teve contato com ele - foi aluno ou ouvinte das rádios Guaíba e Gaúcha - ou se interessa pela área, essa é uma leitura que certamente valerá a pena.

Faz parte das minhas memórias afetivas. Quando frequentava os bancos escolares da Escola de Comunicação da Universidade Católica de Pelotas, já o acompanhava, assim como outras duas estrelas dos comentários esportivos: Lauro Quadros e Paulo Santana. Depois, quando, enfim, passei a ser professor do mesmo curso, contava histórias vividas com o aprendizado da escuta de um filósofo do futebol.


Uma delas era ajudar meus alunos a descobrir que a melhor forma de criar um estilo próprio de texto é iniciar como uma folha em branco. Aprender ouvindo, lendo, observando, quem sabe copiando alguns traços, com a certeza de que a identidade de cada um é, sim, o que se bebe no processo de formação, inspirado em mestres como o sempre lembrado Ruy Carlos Ostermann. (Com pesquisa i.a. Gemini).

sexta-feira, 9 de maio de 2025

Fazer um brinde à vida

Quando se pisam ausências, rememoram-se

Momentos marcantes de uma vida em comum.

Sabores guardados nas lembranças,

Sentindo o odor de ingredientes

Que se persegue, na memória, pelo aroma e o gosto.

Compartilhar receitas do dia a dia, 

Degustar antecipadamente lembranças.

Na doce mistura de sonhos e sedução.

No que, mais do que apenas algo com que se delicia, 

Torna-se o fascínio de um encantamento.

 

O ingrediente que apimenta a saudade,

Se chama ausência,

Presente em muitos e demorados momentos.

Passa pelo manjar feito para agradar ao paladar,

Repleto de intenções, que enleva e,

Fechando os olhos, revisita-se o coração da casa,

Onde a mão manuseia uma espátula

Enquanto o caldo borbulha.


A satisfação de quem encanta os olhos, 

Em prece pela dádiva de um alimento.

No caldeirão, onde o feitiço das mãos mágicas

Transmuta uma simples calda ou um molho,

Intensifica o sabor de um manjar,

Realça encantos que a Natureza 

Ocultou como possibilidades.

Harmonizar sabores é o condão mágico

De quem quer, apenas, fazer um brinde à vida!


terça-feira, 6 de maio de 2025

Obrigado, Francisco, por tua teimosia

O provérbio português “os carvalhos morrem de pé” aplica-se a Franciscus, argentino, batizado como Jorge Bergoglio. O homem que, desde sábado, está sepultado em Santa Maria Maior, no coração de Roma, preenchia, como poucos, o requisito de força, dignidade e resistência diante de qualquer situação, ou mesmo, em frente à morte. Seu último desejo - de que apenas seu nome papal estivesse sobre a lápide - coroou a história de uma liderança inclusiva, tendo incomodado quem desejava (e ainda deseja) fazer da igreja Católica um clube de poucos privilegiados…

A compreensão ao invés de dogmas. Com um humor peculiar que permitia brincar com os brasileiros em diversas situações: “Vocês são ladrões... roubaram meu coração!”; “é muita cachaça e pouca oração” ou, referindo-se à sua escolha, “se Deus é brasileiro, o papa é argentino”. Francisco não foi apenas a referência de uma religião, mas de fé, em Deus e na humanidade. Foi a voz daqueles que precisavam ser visibilizados: gays, mulheres, separados, indígenas, povos naturais…

Fechou um ciclo desde que apareceu pela primeira vez na sacada do Vaticano brincando que seus irmãos cardeais o haviam buscado no fim do mundo, pedindo que rezassem por ele. Marcou com a imagem mais emblemática da pandemia, ao caminhar sozinho em busca de bênçãos para a humanidade na praça de São Pedro. Fazendo a sua Páscoa, na culminância da Semana Santa, quando chegou até o meio do povo, ouvindo sua gente, quebrando protocolo, olhar do pastor que não vê multidão, mas uma determinada senhora, ainda no hospital, que o acompanhou durante toda a internação, e trazia rosas amarelas…

Das entrevistas que vi, depois da sua morte, a que confessou precisar das pessoas me impactou. Deveria residir no apartamento papal, porém, por razões psicológicas, optou em viver em “família”, na casa de Santa Marta. Onde seu corpo foi exposto pela primeira vez, confirmando que estamos órfãos. Órfãos de pai, de avô, de tio que, até o último momento, pediu proteção para as vítimas da guerra. Como disse Bono Vox, “um homem extraordinário para um tempo extraordinário”. Obrigado, Francisco, por tua teimosia!

Já se disse que João Paulo II era para ser visto; Bento XVI, para ser ouvido e, Francisco, para ser tocado. Um tango é a justa despedida: “Francisco, te lloram las calles” (“Francisco, te choram as ruas”). A angústia tomou conta de quem rezou pela sua serenidade, depois do esforço, ao pedir: “não estacionem o coração na tristeza”. O coração que gostaria de não vê-lo partir, quando a gratidão seca as lágrimas por nos contagiar com o bem. Ele mesmo garantiu: “Não vivemos sem meta, sem destino. Somos esperados, somos preciosos. Deus nos preparou o lugar mais digno e belo: o Paraíso”. Segue à nossa frente. Vá em paz, Francisco!


domingo, 4 de maio de 2025

Simplesmente assim: Andanças

Quando dobrares na esquina,

Mudarás o horizonte e o sentido da tua rua.

Ainda não sabes o que te espera,

Apenas acreditas que serão outros rumos,

Outros sonhos, os voos da tua imaginação. 

Restará afagar as memórias,

No distanciamento de tudo o que ficou

Confinado a um passado que embalou

Tuas andanças e o rumo dos teus tenros anos.


Ali encontras as casas com varandas, 

Onde as flores se debruçam por sobre as calçadas. 

As crianças brincando são ecos da

Algazarra que dá razão à vida.

Renovada por onde se anda no cosmos, 

Quando o mundo se ajusta para caber

Dentro das expectativas de cada um.

Ao expandir o olhar pelo que se torna universal, 

Deixam-se as pegadas que carregam 

A poeira de todas as nossas andanças…


sábado, 3 de maio de 2025

Cinco Linguagens do Amor

 Leituras e lembranças:

O livro "As Cinco Linguagens do Amor", escrito pelo pastor americano Gary Chapman, explora diferentes possibilidades pelas quais as pessoas expressam e experimentam o amor. É um exercício de autoconhecimento e de aprendizado no que se refere às pessoas marcantes em nossas vidas: esposos, esposas, filhos, pais, amigos…

Chapman sugere que alguns elementos são referenciais para melhorar os relacionamentos familiares, em especial, entre casais. Começa por “Palavras de Afirmação”, quando se expressa afeto e apreço por elogios, palavras de encorajamento e afirmações verbais. Segue com “Tempo de Qualidade”, onde se dedica atenção exclusiva e focada ao parceiro, realizando atividades juntos e criando momentos de conexão.

Na sequência, vem “Receber Presentes”, como a forma de expressar amor por presentes significativos e atenciosos, que demonstrem que a pessoa foi lembrada e valorizada. Segue “Atos de Serviço”, em que se demonstra amor mediante ações práticas que ajudem e facilitem a vida do parceiro(a).

Por fim, o “Toque Físico”, ao se expressar e receber amor através do contato físico, como abraços, beijos, carícias e proximidade. A vida afetiva e sexual sendo contemplada como laços criados depois do período inicial da paixão. Vencido este período, que define em torno de dois anos, é crucial estabelecer novas relações, baseadas no respeito e afetividade.

O livro argumenta que cada pessoa tem uma linguagem do amor primária, aquela que ressoa mais profundamente e faz com que se sinta verdadeiramente amada. Quando os parceiros aprendem e falam a linguagem do amor um do outro, seus laços emocionais se fortalecem e seus relacionamentos se tornam mais satisfatórios.

O livro não é “bíblia”, mas referencial para reflexão. Foi motivo para uma Escola de Formação do Movimento Familiar Cristão. Deixei claro que já terá prestado um grande serviço se conseguir fazer com que as pessoas se disponham a parar para pensar suas relações. O objetivo final é que importa: ajudar os casais a se comunicarem melhor, a cultivarem um amor duradouro e significativo. (Com pesquisa da I. A. Gemini).