sexta-feira, 16 de maio de 2025

A bênção de ainda respirar

 Sexta com gosto de poesia:


Quando a chuva começar, para no meio da rua.

Ou diminui o passo, entra no ritmo da mudança do tempo

Que marca o breu da noite.

O cheiro da terra molhada preenchendo o ar, 

Na brisa leve que embala o galho das árvores, fará

Sentires o privilégio de estar em sintonia com a Natureza.

Então, não corre ao sentir no corpo os primeiros pingos...


Troca a pressa por chegar pelo gosto de sorver 

A vida que emana das coisas simples,

Escondidas no quotidiano das neuroses e preocupações.

Não te agonies quando raios, trovões e o vento 

Curiscarem, ribombarem, açoitarem.

Andar sozinho sob a chuva é perceber 

Que o Mundo ainda pode ser gentil.

Um momento privilegiado para se ouvir 

Os passos na calçada molhada.

E brincar em suas poças é tudo do que se precisa.


Os pingos que se acumulam sobre folhas e flores

Cachoeiram umas, jogam ao chão as outras,

Desenhando as cores de todas as estações.

O Sol, ao dar a derradeira espiada sob as nuvens,

Será testemunho do teu choro, de ajoelhar-te, de bater palmas. 

Não importa a reação.

Mesmo se apenas quedares em silêncio,

Entenderás que a chuva, removendo a maquiagem, 

O perfume, lava todas as vaidades.

Desafiando a erguer o rosto, fechar os olhos e 

sentir-se aspergido pela bênção de ainda respirar.



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