Já não é mais barro, virou argila.
Descansa sobre a base,
Escolhido para eternizar uma forma.
É necessário um tempo para
Esvaziar os pensamentos,
Concentrar-se na sensação de que
Os dedos comandam o corpo para, enfim,
Aparecer o que até agora era pura imaginação…
Ganha alma
Ao desvelar o sonho de quem
Veio do material que era água e terra,
Duas forças propulsoras da natureza.
Perdemo-nos na imensidão do Universo
Onde barro e luz se necessitam para
Emergir um ser que se deseja humano.
Amassado, purificado
E, mesmo assim,
Pode-se errar na conformação,
Sendo preciso
Tentar novamente e,
Quem sabe, outra vez.
Quando parece que
A inspiração desapareceu, deixar
Os dedos acariciarem a massa informe.
No tempo de se olhar para trás
Em busca de todas as origens…
Carece de uma paleta de cores,
Ignora seu próprio destino e
Se transforma em simples expectativa.
Na cor que o tempo muda,
No detalhe escurecido,
Mantém-se intacto o desejo do
Artesão de tirar do material bruto
O vaso, a louça, a telha, o tijolo…
O oleiro é o senhor do sonho.
Zela pelo trabalho e a purificação no fogo.
Faz emergir o encantamento em busca do belo,
Peça por peça, detalhe por detalhe.
Quando se lastima um vaso lanhado,
Mira-se a dor do que se molda na própria pele:
Dar forma é aceitar deficiências
Do que deseja alcançar a perfeição…
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