domingo, 11 de agosto de 2024

O oleiro e o sonho do que emerge do barro

Já não é mais barro, virou argila.

Descansa sobre a base,

Escolhido para eternizar uma forma.

É necessário um tempo para

Esvaziar os pensamentos,

Concentrar-se na sensação de que 

Os dedos comandam o corpo para, enfim,

Aparecer o que até agora era pura imaginação…


Ganha alma 

Ao desvelar o sonho de quem

Veio do material que era água e terra,

Duas forças propulsoras da natureza.

Perdemo-nos na imensidão do Universo

Onde barro e luz se necessitam para 

Emergir um ser que se deseja humano.

 

Amassado, purificado

E, mesmo assim, 

Pode-se errar na conformação,

Sendo preciso 

Tentar novamente e,

Quem sabe, outra vez.

Quando parece que 

A inspiração desapareceu, deixar

Os dedos acariciarem a massa informe.

No tempo de se olhar para trás

Em busca de todas as origens…

 

Carece de uma paleta de cores,

Ignora seu próprio destino e

Se transforma em simples expectativa.

Na cor que o tempo muda,

No detalhe escurecido,

Mantém-se intacto o desejo do  

Artesão de tirar do material bruto

O vaso, a louça, a telha, o tijolo…


O oleiro é o senhor do sonho.

Zela pelo trabalho e a purificação no fogo.

Faz emergir o encantamento em busca do belo, 

Peça por peça, detalhe por detalhe.

Quando se lastima um vaso lanhado,

Mira-se a dor do que se molda na própria pele:

Dar forma é aceitar deficiências 

Do que deseja alcançar a perfeição…

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