Apenas a Lua derramava luz sobre o pátio interno do Mosteiro. Cercado pelos prédios e suas sombras, em alguns intervalos, era possível ver, na penumbra, as grandes árvores centenárias. Silenciosas, como grandes catedrais, durante o dia, tornavam-se abrigos de risadas e brincadeiras para depois, na noite, ocultar mistérios e expectativas...
Bem tarde, o piado de uma coruja quebra o silêncio, enquanto monges e aprendizes se recolhem aos dormitórios e descansam da longa jornada de trabalhos e estudos. Ao abrigo da noite, pássaros se movimentam, de quando em quando, escondidos em meio aos galhos mais altos.
Num banco, ao fundo de uma cerca coberta pela hera, o Aprendiz encontra um momento de sossego e está imerso em seus pensamentos. Gosta de morar no Mosteiro, das atividades e dos colegas, mas precisa estar sozinho para organizar seus pensamentos. Esperou que não houvesse mais nenhum ruído de seus companheiros e mestres para escapar pelos corredores vazios, iluminados apenas pelos raios da Lua, numa noite morna de verão.
Naquele dia, o Mestre havia apresentado um "sadhu" peregrino, idoso, que chamou de "mestre" e ao qual se referia como “iluminado”. De fato, mais do que pelas palavras, seus gestos comedidos e seu olhar acolhedor transmitiam uma sensação de paz e serenidade.
Contava histórias de Sidarta Gautama. Não tinha pressa e lembrou, como se tivesse estado junto, dos ensinamentos de Buda e sua peregrinação. Quando se converteu, após ter sido confrontado com a velhice, a doença e a morte. O momento em que precisou deixar sua zona de conforto, num palácio, para conviver com o dia a dia dos simples mortais.
O Mestre o olhou enquanto estava sentado aos pés do sadhu. Como sempre, lera em seu rosto a preocupação por não entender estes três pilares da compreensão da existência. Ainda eram coisas muito distantes para um menino. Embora sempre tentasse conviver com os monges que habitavam a “casa do sossego”, entender o sentido do tempo passando, da dor e do fim ainda estava fora do seu alcance.
Conversaria com o Mestre no dia seguinte. Agora, precisava voltar para a cama. Sadhu ficaria no Mosteiro por algum tempo. Não sabia o que perguntar, mas queria ouvi-lo. Muita coisa não entenderia, mas já tinham alertado que sempre que isto acontecesse, depois, "ruminaria" suas lembranças. Não importava. Seu Mestre era o seu "Sadhu": a tocha que encantava seus olhos, aquecia o seu coração e dava sentido à sua própria peregrinação pela vida…
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