No dia em que o Aki veio para casa (calma, já conto esta história), fazia um tempo de espera no centro de Pelotas entre o fim da Missa no Santuário e a minha irmã Leonice soltar do trabalho. Resolvi conhecer uma loja de varejo e foi lá que conheci o Aki… Já estava na fila do caixa quando uma senhora, que se dizia vinda de Caxias, em poucos minutos fez uma narrativa dos seus problemas mais recentes. Haviam adotado um garoto que criaram e superara as expectativas, se formando e com um bom emprego em Florianópolis.
Considerado um “bom menino”, ficou sozinho e encontrou uma pedra no meio do caminho: o álcool ou dependência alcoólica. Começou como em muitos casos do uso desta droga lícita (assim como o cigarro). Grupos de amigos, festinhas, competição com parcerias… Até se dar conta de que, mesmo em dias em que não se encontrava com a “galera”, precisava da bebida para “desestressar”. Com a desculpa de que “posso parar quando quiser”, relaxou no emprego e “jogou tudo fora", voltando apenas com a roupa do corpo.
Não falava em tom de reclamação. Mas de desabafo. Lembrei da história que já contei da mãe no grupo que ouviu as queixas da outra de que o filho estava saindo de uma clínica de recuperação. Quando terminou, a ouvinte apenas disse: “a senhora ainda tem seu filho, pode buscar na clínica. Eu não preciso mais…” Curiosidade óbvia: “está recuperado?”. Silêncio dolorido e a resposta: “ele não resistiu e morreu”. Triste, mas se perde a razão de reclamar quando se pensa que o nosso problema é maior e o único.
Num tempo tão difícil de se avaliar as condições de alguém que se tornou dependente, também me veio à lembrança a amiga que recebeu o aviso de que o filho estava numa praia, drogado, trancado no carro. Foram buscá-lo e os acompanhei. Fiquei com medo de que fizesse um escândalo, que não aconteceu. Tratou-o com carinho e prometeu que quando estivesse bem conversariam. Descobriram que o garoto tinha medo de não atender às expectativas dos pais. E que estudar nunca tinha sido a sua praia…
As faltas sentidas são sempre a ausência de quem se gostaria que voltasse para casa… O Aki é um ursinho de pelúcia que encontrei na loja e faz companhia ao assistir televisão. Do desabafo, tive a impressão de que a senhora era uma alma solitária e carente. Formou filhos, ajudou filhos dos outros, mas vive a síndrome do ninho vazio, que se torna mais difícil com a idade, quando se precisa do companheirismo da família e dos amigos. Transformar amargura em doce saudade é arte que se leva um bom tempo para aprender…
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