Desde que me conheço por gente, ouço a discussão a respeito de feriados no Brasil. Não somente a sua existência, como também a sua colocação na semana, criando períodos intermitentes. Uma queda de braço se estabelece a respeito dos feriados religiosos. Num estado laico, este resquício de compadrio entre igreja e estado já não faz qualquer sentido. A maior parte da população brasileira, hoje, embora dizendo no censo pertencer a algum credo, somente se lembra de religião quando precisa de algum “serviço”.
Na semana passada, a igreja Católica celebrou Corpus Christi. O certo é que mesmo quem frequenta atos religiosos da própria instituição não sabe o que se comemora na festa do Corpo de Deus. Então, ao invés de participar das Missas, preferiram aproveitar para descansar e fazer “turismo” pelas áreas atingidas pelas cheias. Não se pode negar o espírito religioso do nosso povo. Mas há um esvaziamento gradativo das igrejas cristãs, especialmente as tradicionais, e o mesmo começa a acontecer com os neopentecostais.
A Igreja preferiu, em muitos lugares, cancelar a tradicional produção de tapetes coloridos. Perdeu a oportunidade de agregar. Embora sejam poucos os jovens que tomam parte, seria a chance de motivá-los à solidariedade e ao congraçamento. Especialmente, quem não participa de atividades litúrgicas e de formação, mas é atraído pelo fator grupo. Lideranças católicas optaram por atividades igrejeiras, excludentes para quem não consegue ver nos religiosos testemunho e exemplo de presença social.
Quem não realizou a confecção dos tapetes cometeu um equívoco. Por menor que seja - quem sabe dentro ou em torno das igrejas - era a oportunidade de motivar jovens para conviverem. Além de um efeito colateral dos curiosos que não se sentem atraídos por religião, mas tiram um tempo, na manhã do feriado, para percorrer e gravar as mensagens ali colocadas. Fidelizar um público, como se diz em marketing, é apresentar as vantagens do trabalho em equipe, uma ânsia que está sendo sufocada nos jovens.
Para isto, não precisa de feriado. Assim como o Carnaval. Em que parte da população se envolve e os demais são penalizados por diminuição de serviços. A reengenharia das religiões passa por fazer, efetiva e afetivamente, a “igreja em saída”. Resguardando elementos culturais (lembro aqui o Natal e Páscoa), os demais momentos devem ser de muito trabalho e preocupação social. A história vai cobrar não a oração que se fez intra muros, mas o que se “rezou" atendendo aqueles e aquelas que ficaram desassistidos…
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