Não lembro de todos os detalhes da história. Fiquei com o que julguei ser essencial: a idosa foi internada numa casa geriátrica, recebendo do filho ligações todas as noites, sempre com a mesma conversa de que estava ocupado e não conseguia chegar até lá. A mãe tentava parecer despreocupada, até que, passados alguns anos, começou a pedir investimentos no seu quarto. Curioso, o rapaz resolveu ver de perto o que estava sendo feito. É quando reencontra a senhora alquebrada e já com a sentença de que está no fim.
Sendo homem de negócios, pergunta por que não pediu antes, quando recebe a resposta: “porque um dia, filho, vais estar aqui e, com estas arrumações, espero que, de alguma forma, compense a falta dos teus filhos.” Após a morte, recebe um bloquinho e chamou a atenção um dos registros: “não morri quando senti que a vida se esvaiu, mas quando não soube lidar com as ausências. Morri aos poucos: primeiro, quando me afastei dos amigos, depois quando faltou meu marido, por fim se distanciaram os meus filhos...”
Depois de certa idade, fico com preguiça de responder a mensagens
escrevendo nas redes sociais, então, o faço com áudios (alguns são podcasts -
palestras – incomodando amigos). Também não tenho problemas em ouvir, desde que
sejam curtos (não abusem porque a paciência também acaba). Só para contar que
uma conhecida começou a elencar os muitos amigos que já teve e que, hoje, estão
distantes. Durante bom tempo, a família foi se tornando o centro das atenções e
a absorvia com dedicação exclusiva.
Negligenciou aqueles com quem conviveu a juventude e, mesmo, na universidade.
Mais tarde resolveu efetuar o que muitos tentam: refazer contatos e, se possível,
retomar o convívio. Amigos e amigas haviam feito o mesmo processo e, parecia,
todos tinham seguido caminho semelhante: "desaprenderam" a arte do
encontro! Muitos conseguiram realizar sonhos financeiros e de sucesso
profissional, mas lhes escapou o convívio humano. Acomodaram-se em pequenos
mundos de onde se torna difícil escapar...
As pessoas dão sinais das suas carências. Talvez elas mesmas não percebam.
Porém, sempre existe na família alguém sensível que identifique, ajude e,
quando necessário, busque apoio espiritual e psicológico. Não é fácil.
Envelhecer deveria ser mais uma etapa de aprendizado, todavia se torna fase de
negação do que não se entendeu e se fez diferente... Não vale a pena na
aposentadoria ou quando “descartado da família”, “morrer em vida” ou “apenas
esperar pela morte”. A bênção da própria vida é viver...
O coração é um universo estranho e misterioso. Não se dá o valor a quem
está presente e se busca, no passado, aqueles com quem se conviveu. Naquele
momento, não os valorizamos e, por isto, se afastaram. Idealizações também
acontecem quando se maquiam lembranças e saudades. O hoje e o agora são a
realidade que não foge, o “presente” a ser desfrutado em encontros que deixam risos
e sorriso... Afinal, a vida continua, sempre, precisando abrir uma fresta na
porta que se chama Felicidade!
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